Para dar uma nota de boas vindas aos que gostam de misturas musicais entre Brasil, Nigéria, Cabo Verde e Portugal, Ary acaba de lançar “Bom Malandro”. A música é produzida por Ary Rafeiro e Zoo, e o clipe foi realizado, escrito e dirigido pelo próprio cantor.
Ao ouvir a música é inevitável não sentir a presença da singular batida do afrobeat e do ritmo acelerado proporcionado pelo cavaquinho, cuica, pandeiro, tantãn e do surdo, instrumentos usados como a base do samba.
Apesar de ser uma ideia que parece ser teoricamente fácil, Ary disse que a mistura é ritmicamente é difícil, pois são sonoridades con características bem distintas e complexas.
“Poderia ter dado um erro grande, felizmente não deu. Nunca tinha sido tentado, e não é fácil ritmicamente de as fazer casar, visto que o afrobeats baseia-se na simplicidade e o samba/pagode na complexidade rítmica, logo achar o meio termo é complicado”, explicou Ary.
O nascimento dessa união aconteceu em Lisboa, pelas mãos de Ary Rafeiro e Zoo, que foram os responsáveis pela maior parte da produção de “Bom Malandro”. Ary contou que teve de contactar o SupaSquad Mr. Marley, para dar uma sonoridade menos orgânica do beat da música.
“Marley é o único produtor convidado do álbum. Ele deu- nos a sonoridade que não estávamos a conseguir atingir”, afirmou Ary.
“Bom Malandro” é cantada por Ary Rafeiro e no final, o cantor é acompanhado por Scardinni, Serginho Motta e Dino D’Santiago, que emprestam os seus sotaques cariocas e crioulos ao refrão. Serginho Motta além da voz deu também os seus acordes do violão, o cavaco é de Lucas Souza, baixo de Jackson Azarias, e percussão de Weslley Santiago, que também gravou todos os instrumentos.
Para os mais atentos, ao assistir ao clipe de “Bom Malandro”, pode-se observar algumas cenas que relembram o tratamento visual da música “Beautiful”, de Snoop Dogg e Pharrell Williams, gravado em pontos turísticos e nas favelas do Rio de Janeiro. Ary gravou na Comunidade da Rocinha e reuniu os amigos numa lage para uma roda de afrobeats e samba. O clipe foi realizado,dirigido e escrito por Ary Rafeiro e contou com a Iuri Policarpo, Mateus Alves, Lincoln Moura na operação de câmara.
“Bom Malandro” é uma linguagem usada principalmente por sambistas do Rio de Janeiro, onde “malandro” faz referência à génese do povo carioca. Ao contrário do que se possa pensar, o termo não é pejorativo. É relativo à “ginga de saber viver e sobreviver às contradições da vida com um sorriso no rosto”, diz-nos Ary.
Para o artista, “ser um “bom malandro é a aceitação dos seus ‘sambas em cordas bambas’, enquanto malandro e renovação das suas ideologias e ações enquanto bom coração”.
Antes de “Bom Malandro”, Ary Rafeiro cantou “Tão Linda” ao lado de Uzzy, Rony Fuego e Mr. Marley. Ambas as músicas vão fazer parte do primeiro álbum conceitual de Ary, o Contos de Amor de Um Bom Malandro.
Bruno Dinis
Carrego a cultura kimbundu nas minhas veias. Angolanidade está presente a cada palavra proferida por mim. Sou apologista de que a conversa pode mudar o mundo pois a guerra surgiu também de uma. O conhecimento gera libertação e libertação gera paz mental, por tanto, não seja recluso da ignorância.