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Kilombos artísticos: fazeduras e curandorias como tecnologias de resistência
Kilombos artísticos: fazeduras e curandorias como tecnologias de resistência
N ka podi avansa, nu ka podi avansa sem passado. Sem djobi kriticamente pa nôs Storia.Emi ko le tę siwaju, a ko le lọ siwaju laisi ohun ti o ti kọja. Lai si fi arabale wo Itan waNão posso avançar, não podemos avançar sem passado. Sem olhar criticamente para a nossa História. Referência à Conferência-Performance De Submisso a Político - o Lugar do Corpo Negro na Cultura Visual, 2017-2021 Eu, artista brasileiro. Eu, artista cabo-verdiana, portuguesa. Migrantes. Corpos pensantes produtores de conhecimento. Corpos políticos.  A escrita surge como continuidade de uma prática de colaboração, de visibilização, um ato que se quer reparador.O movimento é contínuo, circular, talvez espiralar, fluido, escrevemos a quatro mãos, no plural subjetivo que é ser eu e nós.  Escrevemos a partir das nossas inquietações, dos questionamentos vários que nos atravessam. Escrevemos como artistas, afrodiaspóricas, afrofuturistas.  Acreditamos na utopia da arte enquanto lugar dos sonhos possíveis. Porém, nem todos os corpos podem sonhar, aprendemos em crianças, foi-nos repetido na adolescência.  80% des estudantes negres afrodescendentes em Portugal são encaminhades para o ensino vocacional e profissional, revelam pesquisas da socióloga e investigadora, Cristina Roldão, analisando dados oficiais do Ministério da Educação. Afropessimismo. Recai sobre nós diante da realidade concreta que humaniza e imagina identidades em detrimento de outras. Disseram-nos exceção, vimo-nos como exceção. Conhecemo-nos por meio da performance art, numa faculdade de belas artes em que éramos uma quase-exceção negra. Olhar para o passado desta instituição é atestar as compatibilidades de uma história ainda presente num corpus docente e discente que nada ou escassamente representa a diversidade étnico-racial existente na sociedade portuguesa. Problemática pouco enfrentada, que marca e exclui corpos negres de espaços de construção de conhecimento e de todas as esferas do saber.Zero docentes negres durante o nosso percurso académico nesta instituição.  A escrita faz-nos reflectir sobre o passado, e presente, da negritude sub-representada nas universidades, circuitos artísticos e espaços de decisão.  Criar, programar, colecionar são gestos políticos. A arte é política, um lugar de disputa. Quem tem direito a sonhar? Quem tem direito à arte? Quanto vale um corpo negre numa galeria?  Pensar na comunidade de artistas negres em Portugal é pensar em práticas de invisibilização, tokenismo e apagamento a que fomos e somos sujeitas todos os dias. É urgente problematizar lógicas extrativistas e de silenciamento vigentes em muitas práticas pseudo-representativas.  Falar em protagonismo negre não é falar em divisões binárias do ou isto ou aquilo, e sim de políticas públicas assertivas, presentes há muito tempo em outras democracias, mas em Portugal não.  Partilhar, e pluralizar, as mesas de decisões deveria ser uma prática integrada de qualquer democracia que se quer ver economicamente, culturalmente e socialmente desenvolvida.  Pensar na comunidade de artistas negres em Portugal é também pensar na materialização do impossível. Corpos negres que sonham, que criam, que produzem, que transformam, que questionam, que cuidam  (e precisam de cuidado). Somos muites. Artistas, curadoras, pensadoras, investigadoras, educadoras. Falta contar-nos. Saber quantas somos, em que áreas trabalhamos, onde vivemos, quanto ganhamos, entre muitas outras questões. A União Negra das Artes, UNA, atua em Portugal com a representação de um corpus diverso de artistas e pessoas que trabalhavam no sector cultural e educativo. A inclusão no subcritério na DGArtes de elementos que representem a diversidade étnico-racial é um ato reparador da UNA, e das vozes e lutas históricas das pessoas negras, contra o racismo em Portugal. Outro objetivo da UNA é a criação de um auto-mapeamento possibilitando uma maior visibilidade de artistas negres, diminuindo as assimetrias dominantes na sociedade portuguesa. Auto-mapearmos é, antes de tudo, olhar para o nosso legado, porque, não podemos avançar sem olharmos crítica e criativamente para o nosso passado num fazer cuidadoso, horizontal e coletivo que transgrida a história única, provocando mudanças efetivas e não apenas gestos simbólicos. E nós, negritude, temos consciência de nosso passado, por isso preocupamo-nos com nosso futuro e com o direito a termos direitos, a existir. Contrariamos o expectável, abraçamos nossas identidades, nossa ancestralidade, tecendo e fiando tópicos utópicos onde possamos existir nas nossas subjetividades e contradições. Fazemos de Portugal nosso Kilombo para reparar as vidas silenciadas e resgatar as histórias de resistência negra. Portugal é um Kilombo de muitas histórias e possibilidades, já proclamavam as Aurora Negra, lembrando-nos que a casa é, e sempre foi, nossa!

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