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Mural em homenagem ao rapper Azagaia inaugurado em Bissau

A cidade de Bissau ganhou um mural em homenagem a Azagaia, o nome maior do rap Moçambicano falecido neste mês de março. Edson da Luz, o seu nome de registo, foi autor de letras de intervenção que lhe valeram, entre outros, o título de “rapper do povo”. 

A arte foi reproduzida num mural pelos artistas Young Nuno e Galeria Jovem, com participação do coletivo “Nô Raiz”. A obra foi inaugurada no último domingo, 26 de março, no Bairro de Plubá – 2, localizado na rua Abílio Santos. Na mesma homenagem foram também destacados os jovens feridos durante a marcha pacífica de homenagem ao rapper, em Maputo. 

Para Young Nuno, a escolha de fazer uma homenagem a Azagaia representa a valorização de um herói do povo. “Já homenageamos vários heróis africanos, decidimos homenagear o Azagaia porque é um herói do povo, lenda do hip-hop, era a voz do povo. Ele relatava a realidade sem medo. Sua luta não foi só pelo bem estar de Moçambique, foi por uma África melhor, defendeu o nosso continente como poucos. Ele inspirou muitos jovens a pensarem numa África melhor e justa, porque o que cantava encaixa muito em todos os países africanos, não só Moçambique. Acredito que as suas músicas deviam ser ensinadas nas escolas porque contêm mensagens ricas e são um exemplo panafricanista”, diz Nuno, artista plástico e ativista.

“O seu legado não deve passar em branco, nós, como artistas e ativistas, temos o dever de dar continuidade ao seu pensamento. Ele despertava mentes e defendia o povo. Um dos objetivos deste mural é acordar a consciência dos jovens para entenderem que o poder pertence ao povo como dizia Azagaia: “povo no poder”, afirmou.

Azagaia nasceu a 6 de maio de 1984 em Namaacha, Moçambique. Era conhecido pela sua música de intervenção social. O público aplaudia-o pela coragem de cantar temas denunciando “as verdades”, apesar da “perseguição” de que era alvo por parte do poder político.

Segundo o sociólogo e ativista guineense, Miguel de Barros, Azagaia representa o vislumbrar da esperança e carrega o simbolismo de coragem. 

“Ele é um irmão mais novo para mim, amigo de trincheira, partilhamos pensamentos e causas. Não consigo dizer que Azagaia foi, ele é, e representa todo o vislumbre da esperança e dimensão da luta que é construída na base de princípios, condições da sua época e dos desafios racionais que ele encarnou. Hoje ele é um símbolo efetivamente da luta pela esperança através da mobilização social de uma geração bastante consciente de quais são seus desafios”, afirma Miguel.

“Este mural representa uma dimensão não só da internacionalização de lutas do Azagaia, mas também é um reconhecimento dos jovens ativistas guineenses que o vêem como advogado da democracia. Pessoa que expõe as injustiças, um interventor que consegue trazer através das suas narrativas todos os elementos necessários para construção da cidadania ativa e plena, por isso, esta homenagem vai contribuir sobretudo para perdurar a memória do Azagaia não só em termo auditivo mas, visual também”, disse. 

“Essa visualidade de um heroísmo através do protagonismo juvenil que é importante. Acredito que os jovens estão a conseguir passar mensagens de que há necessidade de renovação de tecido social, político e do atendimento das demandas da juventude africana.  Por isso, mais uma vez o Azagaia representa a esperança e o mural traz consigo essa esperança através das cores, movimentos e mensagens que as letras das suas músicas vão espelhando tanto ao nível da dinâmica das telas, também em termos de flow e a própria música que ele produziu que alcançou um patamar holístico”, assegura o sociólogo e ativista.   Filho de pai cabo-verdiano e mãe moçambicana, o rapper e ativista social moçambicano, Azagaia faleceu no dia 9 de março de 2023, aos 38 anos, vítima de uma crise de epilepsia enquanto encontrava-se na sua residência localizada no bairro Khongolote, Matola, Moçambique. Ao longo do seu trajeto, lançou dois álbuns de originais, Babalaze (ressaca, na língua Changana) pela editora Cotonete Records, em 2007, onde está um dos seus maiores êxitos “Mentiras da Verdade”, som que elevou o rapper à posição de defensor do povo; Cubaliwa em 2013 e um Extended Play, Só Dever. em 2019, sob a chancela da GM Records.

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