É factual que é quase impossível o ser humano sobreviver sem música e manter uma boa sanidade mental. Há estudos que mostram os benefícios que as ondas sonoras produzem no nosso corpo, mente e cérebro. É claro que, tudo depende do tipo de música, do estilo, dos instrumentais, dos BPMs e decibéis.
O que nos leva, na maioria dos casos, a gostar de uma determinada música, não é simplesmente uma questão de melodia ou letra, mas de como a música toca nas nossas emoções e memórias. E, se quisermos ir ainda mais longe, na forma como a nossa ancestralidade se espelha através dela.
Esse é o tipo de música que Boddhi Satva, DJ e produtor – nascido na Republica Centro Africana – faz. Apelidado de “Pai” e fundador do Ancestral Soul, a sua música tem como marca a espiritualidade, com o objetivo de fazer sentir, através do soul music, um tecido repleto de padrões e estilos. A sua música não existe apenas para ser ouvida. Existe para ser experimentada.
O dom da música é uma herança. “O meu pai tocava muito Jazz, Soul, Disco e claro a Rumba Africana. Fui exposto a tantas culturas musicais de ambos os meus pais, que fora de casa ouvia Soukouss, Ndombolo, Hip-Hop e R&B. “O amor do meu pai por boa música fez-me desenvolver uma sensibilidade especial e a ouvir diferentes sonoridades e culturas a nível mundial”, explicou o DJ, durante uma entrevista à imprensa internacional.
Armani Kombot-Naguemon, o seu nome de registo, é filho de um negociante de diamantes franco-centro-africano e de uma criadora de jóias para grandes casas de alta costura belga. No seu país de origem, a sua infância foi afortunada. A adolescência viveu-a na Bélgica, com objetivo de concluir os estudos, mas esse não era o seu destino. Voltou para a terra natal e tornou-se num cortador de diamantes na empresa da família.
Em 2003, quando se dá o golpe de François Bozizé, sendo a sua família apoiante da oposição, os Kombot-Naguemon tiveram de se exilar entre a Bélgica e o Mali.
Depois de, durante toda a sua vida, ter experimentado a riqueza, Satva teve de se reinventar na pobreza. “Da noite para o dia perdemos tudo. Mas nem tudo foi mau: a música impôs-se”, disse à Jeune Afrique.
Já a viver na Bélgica, a partir de 2002, a música que lá encontrou deixou-o apaixonado. Abraçou por completo a música electrónica que ia ouvindo. Foi aí que começou a esmiuçar o seu talento e criatividade, seduzido pelas sonoridades do “Deep house”. Artistas como Kevin Yost, Alton Miller, St Germain, Osunlade e Masters at Work, foram os responsáveis pela sua inspiração.
Quando se junta inspiração e talento as coisas tendem a correr melhor do que o esperado, e as criações são feitas como se de uma extensão do corpo se tratassem. Em 2005, Boddhi e Alton Miller criaram dois EPs intitulados de Prelude To A Motion EP e See The Day, lançados pela editora de Paris ATAL-Music. No ano de 2007, lançou “Moina Ya Mokili”, em colaboração desta vez com Abel Tabu.
Oitos anos depois, em 2008, foi quando a prosperidade e o sucesso lhe bateram à porta sem pedir licença. Fundou a sua própria label, conhecida como Offering Records, onde produziu vários remixs como “Bubble Soul”, “Seasons Limited”, “Seed, Ocha Records”, “Vega Records”, “Yoruba Records”, “Abicah Soul Recs”, “Franck Roger Digital”, “Deeper Shades Recs”, “Citydeep” e a “UGH”.
Desde então que Boddhi Satva é considerado como um dos melhores produtores e DJs do mundo. No seu currículo detém um Grammy com a música “Louie Vega”, o que só veio confirmar que o seu repertório e a sua criatividade não têm limites nem fronteiras.
Como DJ, atualmente, tem residências habituais em grandes casas do Médio Oriente e do Djoon, em Paris.
Os seus skills na produção, que o difere de muitos DJs, despertaram também o interesse do Coke Studio Africa, no Quénia – um talk show que une veteranos a novas referências da música africana. Um reconhecimento de topo ao trabalho e talento de Boddhi Satva.
Transition, o seu último álbum, foi criado e lançado em homenagem ao seu pai, que faleceu em 2014. É uma notável obra que ascende ao primeiro de 2011/ 2012, Invocation, lançado pela Vega Records e BBE Music, e que atribuiu ao artista o rótulo de influenciador musical pelo mundo afora. Já trabalhou com nomes grandes da indústria internacional da música, como Les Nubians, Mohamed Diaby, Kaysha, Amos Kangala, Nelson Freitas, Davido, DJ Arafat, Oumou Sangare, C.Robert Walker ou Vikter DUplaix.
Atualmente, aos 37 anos, Boddhi Satva vive em Portugal, Lisboa, local onde bebe da cultura africana presente, e onde vai partilhando connosco o melhor que sabe fazer. No próximo dia 25 de maio, às 22 horas (Lisboa), o artista vai estar em directo no #BANTUFest, no Instagram da BANTUMEN, para falar sobre o seu percurso e o que tem estado a fazer nesta altura em que o mundo se rege por nos novos códigos sociais.
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