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Chloé Lopes Gomes: Bailarina denuncia racismo na maior companhia de ballet alemã

Chloé Lopes Gomes | DR
Chloé Lopes Gomes | DR

Chloé Lopes Gomes, de 29 anos, poderia ser um belo exemplo de como o trabalho e dedicação compensam, não entrasse o racismo naqueles que seriam os sonhos e oportunidades de uma vida. A bailarina, nascida em França de mãe franco-argelina e de pai cabo-verdiano, foi a primeira mulher negra a integrar a Companhia Staatsballet Berlim, em 2018. O outrora “sonho de infância” deu lugar a um cenário onde Chloé assume ter sido alvo de comentários racistas por parte da sua professora de ballet.

Ciente de que “Berlim não é tão etnicamente diverso como Londres ou Paris”, Chloé desconhecia o facto de ser a primeira mulher negra a entrar na escola. Assume que só tomou conhecimento depois de ter sido entrevistada por jornalistas locais, ainda assim assegura que “estava feliz por ter tido a oportunidade de mostrar a outras jovens negras que elas podiam fazer o mesmo”.

Os comentários de que alega ter sido alvo, começaram logo após a sua audição. “A professora de ballet disse a uma colega minha que tinha sido um erro contratarem-me porque uma mulher negra estraga a estética”, recorda acrescentando que a professora a obrigava a utilizar maquilhagem para branquear a pele, de forma a “misturar-se” com os restantes colegas na exibição da peça “Lago dos Cisnes”. A bailarina afirma ter advertido a professora para a questão. “Disse-lhe que nunca iria parecer branca, eu sou negra. Ela apenas me disse que eu simplesmente precisaria de usar mais pó”, revelou em declarações ao The Guardian.

Já antes, teria ocorrido outro episódio em que, de acordo com Chloé, a coordenadora terá recusado dar-lhe um véu branco para atuar na peça “La Bayadére”. Em causa estava o facto de a bailarina ser negra, algo que Chloé afirma tê-la feito sentir humilhada em frentes aos seus pares. “Claro que não posso dar-lhe um: o véu é branco e tu és preta”, terá dito a professora em tom jocoso. Segundo a bailarina, a pessoa em questão frisava diariamente que a sua cor de pele não era aceitável esteticamente, tendo utilizado o exemplo de Chloé para recriar uma pintura na qual uma bailarina negra está rodeada de bailarinos brancos, afirmando que o propósito da fotografia era mostrar que a companhia “também tem uma dessas”.

Apesar do desconforto face ao que acontecia com Chloé, os seus colegas não se pronunciavam com medo de serem despedidos caso apresentassem queixa. Foi depois de a bailarina ter tomado iniciativa e denunciado as situações, que Johannes Ohman, codiretor artístico, afirmou que Chloé poderia não utilizar o pó branco mas que não podia fazer mais além disso. A professora em questão, tratando-se de uma funcionária pública, tem contrato vitalício, não pode ser despedida.

No início do ano, Johannes cessou as suas funções na Staatsballett e com a sua saída voltaram os ataques a Chloé, que se viu novamente obrigada a usar o pó para branquear a pele. Apesar de Christiane Theobald, Diretora Artística, ter assegurado que o procedimento não era necessário, na prática as coisas aconteceram de outra forma. “Foi horrível. A minha pele era um tom cinza esverdeado”, revela.

Não bastassem os atos discriminatórios de que alega ter sido alvo, em outubro deste ano, a bailarina viu o seu contrato não ser renovado. A companhia alega que a decisão surgiu devido à pandemia, mas Chloé não acredita.

A Direção da Companhia só tomou conhecimento dos acontecimentos racistas depois de Chloé ter escrito uma carta onde contava tudo detalhadamente, documento esse que também reuniu a assinatura de alguns dos seus pares. “O comportamento racista e discriminatório na nossa empresa choca-nos profundamente… As competências e ferramentas necessárias para lidar com as questões de discriminação precisam de ser trabalhadas em profundidade”, afirmou Christiane Theobald.

O escândalo acabaria por se tornar mediático, gerando uma onda de apoio de vários bailarinos de renome, como Misty Copeland e da organização Blacks in Ballet.

A Companhia em causa está a passar por um processo de reestruturação que passa também pela revisão do reportório de costumes. De salientar que foi aberta uma investigação à escola estatal de Berlim, depois de confirmados abusos físicos e psicológicos a alunos durante vários anos.

O ministro da cultura de Berlim, Klaus Lederer, confessa estar “horrorizado” com as acusações.

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