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A ciência também se faz nos PALOP e o Festival Fic.a é prova disso

FIC.A
Festival Internacional de Ciência | © BANTUMEN

Os Jardins do Palácio Marquês de Pombal, em Oeiras, têm sido o palco do primeiro Festival Internacional de Ciência, uma iniciativa pioneira em Portugal, que pretende mostrar a ciência como área interdisciplinar, destacando a sua importância nas mais diversas vertentes.

O objetivo é provar que a ciência chega a todos, independentemente do espaço geográfico. O painel de oradores internacionais mostra-nos isso mesmo, mas é através do Colégio Tropical que conseguimos ter noção do trabalho que é desenvolvido nos PALOP.

A BANTUMEN entrevistou Ana Ribeiro, Diretora do Colégio Tropical, Investigadora e Professora Convidada da Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, que nos apresentou o Colégio, explicou os projetos desenvolvidos e a forma como a troca de sinergias tem-se revelado um fator agregador para a comunidade científica.

O Colégio Tropical foi criado há cerca de um ano e meio e assume-se como uma “unidade interdisciplinar da Universidade de Lisboa que congrega 14 das 18 Escolas [da Instituição]”. A cooperação com os PALOP surge, segundo Ana Ribeiro, pela “diversidade e quantidade de elementos a trabalharem em assuntos de interesse para as regiões tropicais”. E desengane-se quem pensa que o trabalho é feito apenas na área científica: é verdade que a ciência acaba por estar presente em tudo, mas os projetos desenvolvidos vão da medicina à história.

“O fator agregador é visto como uma mais-valia para responder aos principais desafios das regiões tropicais, alinhando-os com os objetivos de desenvolvimento sustentável”, explica-nos a Investigadora, reforçando o papel da Universidade de Lisboa na cooperação. Não só falamos da “maior Universidade Portuguesa”, detentora de um património científico grande, como falamos de uma Instituição que tem bem presente a sua relação com os PALOP. Além das “ligações históricas”, existe também o “facto de a maior percentagem de alunos internacionais provirem desses países”, factor que reforça a necessidade de o Colégio Tropical apresentar-se de forma inovadora na promoção, desenvolvimento e divulgação de projetos.

 Este é um dos pontos que está na base da criação do Colégio Tropical, ou CTROP como também é conhecido, mas talvez o mais importante seja aquele ao qual não damos a devida importância e que Ana Ribeiro explica: as regiões tropicais e o interesse global.

Festival Internacional de Ciência | © BANTUMEN

Para a Investigadora, as regiões tropicais, nas quais estão inseridas grande parte dos PALOP, são “as regiões mais determinantes para o equilíbrio do planeta”, representando cerca de 40% da superfície terrestre e 80% da biodiversidade existente. Apesar destes dois fatores, estas regiões são ao mesmo tempo as mais “vulneráveis do planeta”, não pela escassez de recursos, que Ana afirma serem muitos, mas por não existirem mecanismos/estruturas que permitam que as populações tirem partido dos seus recursos naturais.

Estima-se que em 2050, estas regiões venham a representar “mais de 50% da população” e, confirmando-se este cenário, urge responder às adversidades. O CTROP parte da premissa da troca sinergias para se afirmar como uma mais-valia. “Podemos tirar partido das ligações históricas e da língua que nos une para em conjunto tentar responder a alguns desses desafios”, afirma Ana Ribeiro. Produzir conhecimento, partilhar conhecimento e transferir tecnologia, privilegiando a relação win-win são os objetivos principais.

O trabalho é todo feito em conjunto. O conhecimento não é exportado, é partilhado e as equipas são a prova disso. “É nosso lema ter equipas mistas”, afirma Ana acrescentado que a sua equipa é composta atualmente por 50% portugueses, 45% elementos provenientes dos PALOL e 5% outras nacionalidades. Esta parceria implica também a mobilidade de docentes e alunos, reforçando o contato no terreno que depois se vem afirmar útil na criação de publicações conjuntas. No fundo, é “fazer o que já se faz com outros países da Europa”.

E a colaboração tem dado frutos. Foi criado recentemente em parceria com a NOVA SBE o Mestrado em Ciências Tropicais e Gestão, uma iniciativa à qual se juntaram a Universidade de Cabo-Verde, a Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, e a Universidade Agostinho Neto, em Angola.

“A maioria [dos alunos formados ao abrigo das parcerias] está filiada em Instituições nos seus países”, afirma. O sonho com a Europa só existe para alguns. Para outros tantos existe motivação “para replicar” e “escrever projetos”. O risco, assume Ana, é sempre “muito grande”. Nem todos os países têm capacidade para investir na área cientifica e neste ponto, a investigadora assume o paralelo com Portugal. Se aqui é difícil, em certos países dos PALOP a dificuldade assume outras dimensões, mas há exceções e a Universidade Eduardo Mondlane é disso exemplo. “Há núcleos de excelência, laboratórios muito bem equipados, alguns muito melhores que os nossos [em Portugal]”, afirma acrescentando que a Instituição em Moçambique tem “condições comparáveis com qualquer laboratório Europeu”.

Por muito que haja a fazer a por muito investimento que seja necessário, “o salto foi enorme” no que diz respeito à educação e desenvolvimento ao longo do tempo. Para a Docente, a Cooperação Portuguesa “é extremamente relevante” nesta evolução. Não só por ser uma estratégia consertada com os governos locais, mas também por responder às prioridades de cada país sejam elas de segurança, saúde, ou educação superior, sendo que neste último ponto têm sido ao longo dos anos distribuídas Bolsas de Estudos, quer para Licenciaturas, quer para Investigação.

O Colégio Tropical tem como principal objetivo contribuir para a redução das desigualdades entre países, através da promoção do desenvolvimento científico e tecnológico, da inovação e do ensino nas regiões tropicais. Mas para a Direção do CTROP, não basta desenvolver projetos, é necessário “estar em sintonia” com o meio, daí a organização ter marcado presença no FIC.A.

Para Ana Ribeiro, é importante esclarecer a sociedade civil sobre o investimento feito em investigação cientifica. A quem se destina? Com que propósito? Que objetivos cumpre?

Ao visitar o stand o evento, surgem as respostas a algumas destas perguntas. Numa presença que também ficou marcada por uma visita virtual ao Parque da Gorongosa e ao Jardim Botânico de Cabo-Verde, o CTROP foi mais além ao promover uma mesa redonda entre a sociedade civil e cientistas para discutir temas da atualidade.

À parte do que podemos ver em Oeiras, existem outros projetos a ser desenvolvidos.

A dias do término do Festival, Ana recusa ver o fechar de um ciclo, pelo contrário. “Estamos no caminho certo” e apesar de considerar necessários mais eventos do género, não esconde o muito que se tem feito a nível de educação e consciencialização para a ciência. Sobre o futuro, corrobora a opinião do Responsável pela Organização do evento: “tudo o que sejam perspetivas de futuro, incluem ciência”.

O FIC.A termina no domingo, dia 17, mas ainda é possível adquirir bilhetes, sendo a entrada gratuita mediante apresentação de reserva.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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