“Quebrar ciclos” foi o tema do primeiro evento do projeto Colo di Mama – que significa colo de mãe em crioulo -, que se realizou no passado dia 17 de novembro, na Biblioteca Municipal Central no Palácio das Galveias, em Lisboa. A Sala polivalente acolheu 50 convidados que se reuniram para celebrar, partilhar e, acima de tudo, escutar vozes pertinentes, que dominam temas necessários no campo da educação.

Ângela Almeida, fundadora do Colo di Mama, conta que este projeto nasceu com a sua filha Alicia que, quando veio ao mundo, despertou na mãe uma mudança sobre o olhar romântico que tinha sobre a maternidade. Embora anestesiada por um amor inexplicável, rapidamente percebeu que nem todos os contos sobre maternidade são romances e decidiu juntar-se a outras mulheres, para contar as suas próprias histórias na primeira pessoa.

Com a criação da rubrica Voz de Mulher, que está disponível no YouTube, Ângela abriu espaço para conversas e debates sobre as verdades da maternidade e sobre a necessidade das mães criarem “redes de apoio” para que a mulher não se sinta sobrecarregada e para que não seja levada a um esgotamento.

O projeto saiu assim da esfera virtual, para que pais, mães e filhos pudessem criar um momento de partilha, com uma sessão de leitura do primeiro livro infantil de Nuna, Aventureira Marielle e o Dia da Fotografia (com a presença da autora); conversas com os oradores Henda Vieira Lopes, psicoterapeuta, e Carina Cardoso, pediatra.

Henda – que procura desenvolver ferramentas e temas como Terapia Afro Centrada e Promoção de Competências Multiculturais – falou sobre a necessidade do homem africano quebrar tabus, aproximar-se da sua ancestralidade, abraçar a sua fragilidade e da urgência das famílias “desconstruírem” os dogmas referentes ao homem como o elemento rígido/opressor na família.

Já a pediatra Carina Cardoso, membro da secção de infecciologia pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria e responsável pelo departamento infectologista num hospital em Cascais, fez considerações gerais sobre a saúde infantil em Portugal e sobre o contato da comunidade africana pediátrica com os serviços de saúde, com destaque para o acompanhamento débil por parte dos pais e a falta de educação sexual dentro de alguns contextos sociais.

No fim do evento, os presentes concluíram que é necessária a criação de mais fóruns de conversa para pais e com apelos para que existissem regularmente iniciativas como o Colo di Mama, onde todos os géneros se sintam incluídos e a comunicação é feita para mais do que uma geração.

Inicialmente, o Colo di Mama surgiu como um grito de socorro de uma mulher que foi surpreendida pela mudança avassaladora que a maternidade acarreta. Esse grito pode ser lido neste blog e visto neste canal de YouTube.

Gravidez, Pós-Parto e saúde mental da mulher, foram os temas na linha da frente de prioridades, mas foi uma questão de tempo até Ângela entender a necessidade de incluir os pais na conversa. Surge assim a “Aldeia segurança” – termo utilizado pelo psicólogo Henda Vieira Lopes – que passa pela importância do papel do pai na construção do indivíduo, de modo a fomentar um ambiente familiar saudável, tanto para as crianças como para os progenitores.

“Pai é a tua vez”, lançada também no YouTube, é outra rubrica que traz a visão e as experiências de homens sobre a paternidade e o despertar da consciência da necessidade de dar voz também aos pais, que muitas vezes se sentem silenciados por não serem os gestantes.