São Tomé e Príncipe é um país abençoado! No meio de tanta incerteza e alguma ansiedade, confesso que tenho estado um tanto quanto assustado, sobretudo pela falta de eficácia das medidas adoptadas pelo atual Governo santomense, no quadro da luta contra a propagação da Covid-19. Mas o que poderíamos esperar ou ter feito diferente?
Com uma população de apenas 200 mil habitantes, São Tomé e Príncipe tem 60% da sua população com idade inferior a 25 anos, jovens em idade escolar sonhando pelo “pão de amanhã” da sua família. Um cenário triste e precário que atrasa e, sobretudo, importuna toda e qualquer execução de medidas extraordinárias em tempos de crise.
O governo decidiu, acertadamente, declarar o estado de emergência, ordenar o distanciamento social, fechar alguns estabelecimentos a nível nacional, fechar as fronteiras marítimas e aéreas com o mundo e impor a quarentena para todos que tenham chegado de zonas de risco. Um sinal claro e ousado para a escala do país. E fomos dos primeiros a nível da CPLP a decidir neste sentido, colocando a vida humana em primeiro lugar, apesar de todos os riscos inerentes ao ato.
A verdade é que não basta decretar medidas, sem conseguirmos a execução e o verdadeiro cumprimento delas. O povo entende a situação, aparentemente, mas não acata as decisões do governo, ao menos é o que se vive nos grandes centros de comércio ambulante com destaque para os nossos mercados, os taxis e moto-taxis.
Nesta altura, também exige-se da atual governação e sociedade civil organizada a sapiência do comunicar, para que entendamos todos que é preciso a mudança de atitude. Porque a sociedade vive numa falsa sensação de segurança, acreditando cegamente que o país é verdadeiramente santo e que nada nos passará. Uma desculpa esfarrapada de forma a garantir que saiam de casa diariamente para fazer a vida como no dia anterior.
Há umas semanas escrevi nas redes sociais “é esta a nossa oportunidade de sermos uma grande e próspera nação”. Hoje tenho ainda mais certeza disto! Alias, é esta a oportunidade de nós africanos sermos uma grande e próspera “nação”.
Passo a explicar:
A pandemia é real, está a morrer muita gente pelo mundo inteiro e só vai piorar. Esta situação irá afetar seriamente as economias africanas com fortes dependência do exterior. Vamos ter que nos reinventar, tal como alguns países do continente pretendem juntar-se agora, para partilhar entre si a experiência no combate da pandemia do coronavírus.
Devemos juntar-nos num só bloco para produzir e transformar, reciclar e reutilizar, recuperar e racionalizar, para podermos sobretudo reduzir a dependência externa do bloco Ásia-Europa. Nesta altura, temos obrigatoriamente que virar os holofotes para aumentar a produção interna dos bens de primeira necessidade, a tecnologia, desenvolvimento e partilha de conhecimento cientifico, associando por exemplo medicina tradicional e produção de fármacos essenciais para tratar doenças características do continente.
É fundamental criar uma ponte de partilha de conhecimento entre os nossos países. Neste processo a comunicação social tem um papel fundamental. O mais correto é mudarmos o fundamento do que passa nas nossas TVs. A programação tem de mostrar o que temos de melhor numa perspectiva africana e incentivar a juventude a criar, ao invés de nos ensinar a sermos uns meros consumidores de produtos ocidentais.
Com as dificuldades existentes no nosso serviço nacional de saúde, exige-se de todos nós um maior respeito pelas medidas já decretadas pelo governo. Não estamos em pleito eleitoral e é extremamente necessário que todos rememos para o mesmo lado.
No meio da incerteza, no final reside sempre uma esperança de que vai ficar tudo bem, se todos fizermos o que é certo hoje! Ultrapassando esta fase unidos, o país poderá crescer e transformar-se a ponto de mudar o rumo da sua história.