Entre o fim da década de 2010 e início de 2020, o kuduro começou a percorrer caminho na cadência criativa dos artistas angolanos na diáspora. As diferentes sonoridades eletrónicas de que foram bebendo nos respetivos países, como por exemplo África do Sul, acabaram por repintar o estilo com um ritmo progressivo e um “adoço” diferente daquele produzido em Angola.
Um desses artistas que passou a “comandar” o kuduro por terras lusas é Crazy Baby Produções.
Fora das lides musicais, Crazy Baby Produções é Mário Alfredo, um jovem kaluanda [natural de Luanda], de 21 anos. O artista nasceu no Rangel, no bairro Nelito Soares, uma zona suburbana de Luanda considerada um dos berços da música popular angolana, por ter os atuais centros Recreativo do Kilamba (antigo Maria da Escrequenha) e o centro de Rebita Dr. António Agostinho Neto. Neste último “nasceram” vários artistas como Artur Adriano, autor do clássico musical “Belita” e foi palco de momentos inéditos em Angola, como a atuação da sul-africana Miriam Makeba, um ano após a independência de Angola, e da congolesa Mpongo Love, em 1986.
Com cinco anos, Crazy Baby mudou-se para Portugal e foi aí que revelou-se como pessoa e artista. O seu percurso na música começou em 2011, quando ainda frequentava o ensino preparatório. Primeiro, passou pela dança, com o grupo Mini Kuduristas, comporto por João Mendes, Celso Mateus e Laelson Vuala, que residiam no concelho de Loures, mais especificamente em Catujal.
Em entrevista à BANTUMEN, Baby disse que, naquela altura, o rival artístico dos Mini Kuduristas eram os Trakinas Squad, que já davam o seu show a cantar e a dançar kuduro, e foi apreciando o grupo adversário que Crazy teve a coragem de produzir instrumentais para o seu grupo.
“Naquele tempo, encontrar um beat para cantar era muito difícil. No YouTube ou no SoundCloud era muito difícil, então tive a ideia de procurar um programa para começar a fazer os beats do meu grupo”, relembrou.
O primeiro contacto com um software de produção digital de instrumentais foi com o FruitLoops, oferecido por um dos seus cotas, Dedé, que também esteve na linha de frente na iniciação da carreira de Crazy como produtor. “No início era um programa muito complicado e eu não entendia nada. Naquele tempo as pessoas só utilizavam o computador para jogar ou então para ir ao Facebook ou ao Hi5. Era muita informação para minha idade”, disse Baby.
Dentro das suas influências, Crazy tinha como referência o Dj Mix Bué, a quem mostrava os instrumentais que ia produzindo. Apesar de arrancar gargalhadas como reação, visto que “os beats pareciam do Canal Panda”, foi com Mix Bué que teve a primeira mentoria, mesmo que de forma informal.
O seu primeiro sucesso foi “Aberturas”, um instrumental de 2018, composto com uma batida que tem uma forte presença da cuica, um instrumento normalmente usado por artistas do samba.
Em 2020 chega a música que o catapultaria para um outro nível de popularidade, o instrumental “Príncipe Missas (O Benga)”.
Segundo o produtor, a música foi feita dois anos antes de sair. “Quando fiz esse beat, sabia que esse beat era muito forte e o nome original era “Patrão”, porque eu sentia a força do beat”, relembrou.
Depois destes sucessos, a vida do artista não voltou a ser a mesma. O DJ e produtor tem visto a sua música a ser tocada em classes de kuduro e afro-house pelo mundo e, fruto disto, passou a trabalhar com artistas da nova geração como Os Negrinhos, Nerú Americano, Taylor Chinês, Milo & Fábio, Scró Q Cuia, Trippy Panda, The Guzman, entre outros.
Assiste à entrevista vídeo onde Crazy Baby Produções explica tudo sobre o sucesso “5 Milhões” dos Pintis, dupla de Scró e Nerú Americano; a inesperada colaboração do futebolista internacional Djibril Cissé, entre outros assuntos.
