A título pessoal, gosto muito de vir aqui escrever e contar histórias que exaltam o orgulho africano e, desta vez, trago-vos a história de Cândido da Rocha, o primeiro milionário oficialmente reconhecido na Nigéria.

Cândido da Rocha nasceu no ano de 1860 no Brasil, filho de um homem nigeriano escravizado que recebera o nome de Esan da Rocha, aquando do seu baptismo católico.

Para percebermos a sua caminhada, que o tornou num milionário excêntrico – que enviava a roupa suja para ser lavada na Grã Bretanha (recordo que naquela altura os aviões ainda estavam longe de atravessar o Atlântico porque ainda nem sequer existiam), temos de conhecer as origens de Cândido da Rocha.

Cândido era filho de Esan da Rocha, que aos 10 anos, foi  forçado a ir para o Brasil com o estatuto de escravo após ter sido capturado por soldados britânicos na sua cidade natal Ilesha, localizada no sudoeste da Nigéria.

No ano de 1871, depois de conseguir a sua liberdade, Esan da Rocha (pai), voltou para junto da família, na Nigéria, onde abriu o seu primeiro negócio que em pouco tempo cresceu bastante.

Cândido da Rocha nasceu assim no Brasil, e na altura do retorno da família para a Nigéria, apenas falava português e Ilesha (língua nativa da sua tribo). Ali, o jovem teve uma boa orientação fruto das possibilidades financeiras do pai, tendo frequentado escolas de requinte e renome na Nigéria.

Após a morte do pai, no final do ano de 1891, Cândido herdou a fortuna. Tinha na altura 25 anos de idade. Ao assumir o controlo dos negócios do progenitor, Cândido expandiu e transformou a fortuna herdada num império, segundo relatos e registos daquela altura.

Cândido da Rocha apostou forte no negócio da água, sendo a sua empresa na altura o principal fornecedor de água na cidade de Lagos, isto entre 1920 e 1930, fruto de um negócio que fez com os administradores coloniais e, segundo os registros, a sua casa em Lagos teve o primeiro furo de água e também o primeiro bebedouro.

No entanto, o maior golpe de sorte para Da Rocha aconteceu anos antes de ter fechado o negócio da água com a autoridade colonial naquela altura. Em 1894 o empreendedor conheceu um britânico garimpeiro de ouro que vendeu-lhe barras de ouro pelo preço de seis mil libras.

Não tendo o valor disponível na altura, Da Rocha procurou obter um empréstimo junto de entidades financeiras e bancos, como por exemplo, o Banco da África Ocidental. Depois de ter conseguido efetuar a compra, aparentemente, Cândido acabou por transformar as barras de ouro em pó e vendeu-as a ourives, obtendo deste negócio um lucro de 200%, o que catapultou a sua fortuna como uma das maiores naquela região.

Com a fortuna, Cândido da Rocha criou bancos na Nigéria e no Gana e uma das entidades que mais obteve reconhecimento foi a “Lagos Finance Company,” que emprestava dinheiro às pessoas a juros baixíssimos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Da Rocha ofereceu um dos seus imóveis ao governo britânico para proteger alguns alunos nigerianos do King’s College, este imóvel era sem mais nem menos um Hotel que na altura era bastante badalado, o Bonanza Hotel, que acabou por ter uma escola a funcionar até ao fim da guerra.

Entre amigos mais próximos de Cândido estava Herbert Macaulay, um nigeriano nacionalista, político, engenheiro, arquiteto, jornalista e músico, e que hoje é considerado por muitos como o fundador do nacionalismo nigeriano.

Apesar da sua ligação a figuras de renome dos primórdios da política naquele país, como Herbert, H Doherty e Sedu Williams, Da Rocha recusou-se a ser político.

O empresário e filantropo nunca se casou oficialmente mas teve três relações, das quais resultaram cinco filhos. Acabou por falecer em 1959, e foi sepultado no Cemitério Ikoyi em Lagos – Nigéria.