O nosso parceiro Little Africa esteve presente no Salon International des Arts Premiers, na Galeria Vallois, em Paris, e revela-nos as suas impressões sobre a exposição do artista Didier Ahadji, que capta a essência do quotidiano da vida de muitos africanos.
Mas antes de entrarmos nos detalhes da sua obra, vamos nos focar sobre a história deste artista singular do Togo. Nascido em Vogan, Togo, a 23 de Maio de 1970, Didier Ahadji desenvolveu o seu talento desde muito cedo, começando a conceber algumas peças para si e para os seus amigos de infância a partir de materiais reciclados que ia encontrando.
Actualmente, no seu ateliê no Togo, este autodidacta faz esculturas em metal recuperado e de peças de carros.

© Little Africa
Entre a BD e os bonecos
A suas obras representam pessoas no seu dia-a-dia, transformada em bonecos, tanto na forma como nos tamanhos. A rentrée escolar ou um jogo de futebol são detalhados minuciosamente nas obras de Ahadji, tal como as cenas da vida íntima que estão retratadas no fundo da sala que acolhe a exposição na Galeria Vallois.
O artista é comparável a um fotógrafo. Capta acção e emoções. Vêmo-lo nas expressões das suas personagens, que exprimem uma emoção tão grande que temos quase vontade de adicionar um balão de conversação tal como nas bandas desenhadas.

As cenas de vida africana e dura realidade do quotidiano
As esculturas em metal de Didier Ahdji são muito coloridas e deixam transparecer bastante humor. Somos seduzidos e é-nos arrancado um sorriso do rosto graças a determinadas obras. Três cenas em particular não vão ser passar-vos ao lado, visto que se trata de sexo (“a nossa vida gira em torno de sexo”, dizia Freud). Mas atenção, essas imagens traduzem uma dura realidade africana.

1. O sexo e a relação íntima
O banho: na imagem podemos ver um jovem que espia uma mulher no banho (que pode ser a sua mulher, prima, amante…) e que está excitado. Esta cena traduz a noção de intimidade em África. As famílias vivem agrupadas entre várias gerações e, muitas vezes, vivem “uns em cima dos outros”. Em alguns dos casos, a casa de banho pode até ser partilhada por dez pessoas e, na maioria das vezes, essa mesma casa de banho é disfuncional (ex: a porta não se fecha). E se, por acaso, entramos na casa-de-banho enquanto há um membro da família que está a fazer a sua higiene, esse membro da família ou vizinho não se coibirá de espiar.

O banco público
Em África, até há bem pouco tempo, não se saía de casa dos pais antes dos 30, nem mesmo antes do casamento. O que significa que muitas vezes as relações íntimas entre os jovens acontece frequentemente no exterior, onde for possível ter alguma intimidade, mesmo que seja num banco público.

2. Os pequenos trabalhos, economia do país
Cerca de 28 profissões estão representadas nas obras do artista togolês, nesta exposição. No mercado de emprego africano, à volta de 80% das profissões são informais. Sim, é verdade. Uma economia em pleno crescimento mas para quem? Para as empresas já estabelecidas juridicamente e para as multinacionais que abrem sucursais? Para a exploração e comercialização de recursos mineiros? Entretanto, são essas profissões informais que sustentam famílias inteiras e aos futuros construtores da nação, permitindo-lhes pagar a sua formação e alimentação.

As obras de Didier Ahadji agradam a pequenos e graúdos, por conta do seu ar jovial e pintura industrial. De 6 a 30 de Setembro, podem visitar a exposição no Galeria Vallois, em Paris.
Este é um artigo do parceiro: