Alcindo Monteiro morreu há 25 anos numa ruela lisboeta, às mãos de um grupo de skinheads. O brutal assassinato aconteceu a 10 de junho, data que assinala o Dia de Portugal e que comemora o passado histórico de um país manchado pelo colonialismo.
Com a realização e argumento de Miguel Dores e produção de João Afonso Vaz, está a ser produzido um documentário sobre este “evento traumático da história de Lisboa, sobretudo para as pessoas negras do país”. A longa-metragem, que conta com o apoio da associação SOS Racismo, tem associada a divulgação de uma campanha de crowdfunding para levar a cabo o projeto, que é fruto sobretudo de voluntariado. “Há um ano começámos a rodar uma longa-metragem documental sobre o caso Alcindo Monteiro. Este documentário é feito com muito trabalho voluntário e colaborativo, mas para que seja pós-produzido necessita do vosso apoio”, podemos ler na página da campanha.
O caso de Alcindo Monteiro “continua banhado sobre um silêncio ensurdecedor – um silêncio, convenhamos, conivente com o fascismo e as suas múltiplas expressões”.
O trabalho documental resulta do projeto de mestrado de Miguel Dores em Antropologia Visual. Com o tempo, a importância de contar esta história transformou o projeto de mestrado numa longa-metragem documental, que tem como base a consequência social do “país com a mais longa tradição colonial da Europa e onde os conflitos raciais parecem não perder a sua plena atualidade – os casos do Kuku, da esquadra de Alfragide, do Bairro da Jamaica, do Giovanni, da Claúdia Simões, Bruno Candé -, são apenas exemplos de uma conta não saldada”.
Será sobretudo uma “homenagem àqueles que resistem e àqueles que caem, e que nessa homenagem ilustra a estruturalidade de um conflito”, com o reforço de memórias de entes-queridos de Alcindo; memórias e problematizações de jovens negros/as sobre racismo em Portugal nos anos 90; arquivos audiovisuais, imprensa escrita e gráfica sobre violência racial nos anos 90, vídeos caseiros, panfletos, documentos judiciais, revistas políticas; entrevistas e performances de militâncias dos movimentos anti-racista e anti-fascista; observação de matrizes coloniais presentes na geografia da cidade de Lisboa e observação de mobilizações sociais contemporâneas.
A produção do filme indica que todos os interlocutores foram escolhidos pela sua relação orgânica com o caso Alcindo Monteiro, como familiares, advogados, colegas de trabalho de Alcindo, amigos, pessoas que estavam no Bairro Alto nesse dia, pessoas que começaram a participar na política neste momento, entre outros, e que constituirão os seus depoimentos em torno da sua trajetória de vida.
Para apoiar a concretização do documentário Alcindo, basta aceder à página de crowdfunding aqui.
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