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Eliel Prince, da depressão ao “Colin Bom”

Eliel Prince | Reprodução
Eliel Prince | Reprodução

A arte é não só a materialização de um universo paralelo que floresce na mente do artista, como é também uma via de escape de traumas e medos. É o que acontece com Eliel Prince, um artista angolano que fugiu de um submundo degradante para se refugiar na música.

Nascido em 1997, no Curtume, no bairro do Cazenga, uma das zonas suburbanas mais mal-afamadas de Luanda, Eliel cresceu com as drogas e delinquência à porta.

Por influência do pai, que foi deejay, Prince começou a imaginar-se em grandes palcos e decidiu arregaçar as mangas e começar a trabalhar nesse sonho.

Os primeiros passos surgiram no rap, através de rodas de freestyle, quando ainda era aluno do Makarenco, um dos liceus mais importantes da capital angolana.

Mais tarde, surge o encantamento pelas composições e histórias de amor contadas pelo RnB de Anselmo Ralph. Eliel deixa-se levar pelo estilo, assim como pela tarraxinha e ghetto zouk.

A transição surge pela necessidade de fazer da música um ganha-pão. De acordo com os números do mercado musical angolano da altura e com o feedback que o artista ia recebendo, seria muito mais fácil monetizar a sua arte através dessas sonoridades então populares, que através do hip hop, que ainda era de certa forma marginalizado.

“Quando decidi que queria fazer da música o meu ganha pão, passei a estudar o mercado angolano. Na altura, batia bué ser kudurista, então fui kudurista em duas faixas, mas era muito sensível para aguentar a dureza e nem sabia dançar sequer. Já ouvia Anselmo Ralph e sempre gostei de músicas mais melancólicas, mesmo em rap. Às vezes, andava na rua, de fones nos ouvidos e a acompanhar as músicas que ouvia com a minha voz e o pessoal dizia-me: ‘fogo, tens uma ótima voz, devias ser cantor’. Então, entrei na minha antiga gravadora e fiz acontecer”, disse-nos Eliel Prince.

Entretanto, em 2017, o artista vive um dos momentos mais marcantes da sua vida. A avó faleceu nos seus braços, o que o levou a cair numa depressão profunda que quase lhe custou a vida. Valeu-lhe o apoio de um dos artistas mais populares do movimento hip hop no momento, Emana Cheezy, da TRX Music.

Quando o artista conheceu a TRX, por intermédio de um amigo, o grupo estava a revolucionar a nova escola, com níveis de popularidade raramente vistos, sobretudo entre a comunidade de jovens. Eliel passou a ser um desses jovens.

“As faixas ‘Nexo’ e ‘Ondas’ salvaram a minha vida e eram os meus maiores consolos no tempo em que lutava contra uma depressão. Sempre que ouvia Emana Cheezy, sentia-me livre e poderoso. Isso ajudou-me muito a apalpar mais a minha realidade enquanto sonhava para torná-la melhor. E deixou-me também com vontade de me expressar mais musicalmente, pois o Emana é um gajo com muita expressão quando escreve”, afirmou Eliel Prince.

Depois de conseguir livrar-se da depressão, o cantor voltou a trabalhar na sua música, aumentando o número de projetos disponibilizados até então: as mixtapes 6 Pétalas de Rosa (2014), Timon & Pumba, com Tubreezy, (2015), entre vários singles, com algumas colaborações com Canícia, Kelson Most Wanted e Emana Cheezy.

“A Canícia é uma grande senhora. Na altura, creio em 2015, enviei-lhe uma mensagem no Facebook, a demonstrar o meu interesse em colaborar e a primeira coisa que ela pediu foi o projeto e deixou o WhatsApp do agente dela, para eu mandar a ideia da música. No mesmo dia, ela deu-me o sinal verde e, tipo, é a Canícia, sabes? Uma artista que me fez dançar na infância e eu era só um rapaz sonhador, sem estrutura nenhuma. Ela só ouviu a ideia e deu logo o aval. Pediu para agendar e que viria ao meu próprio estúdio. Fiquei com remorsos porque o meu estúdio era nos subúrbios do Cazenga, mas ganhei coragem e disse-lhe e, eu achando que ela mudaria de ideias, ela fez diferente. No dia seguinte, veio ao meu encontro, com o seu próprio carro, numa banda em que ela nunca tinha entrado e que tinha fama de zona perigosa e tudo o que ela me disse foi: não se preocupa comigo Eliel, eu não sou uma patricinha, aquilo foi para mim um grande gesto de amor ao próximo e à arte”, relembrou.

Esperei oito anos só para ter um sim dele [Emana Cheezy]

Eliel Prince

Quanto à colaboração com Emana, o artista descreveu como um sonho realizado, cuja resposta chegou oito anos depois.

“A colaboração com o Emana Cheezy, foi um sonho realizado, algo especial para mim. Eu mandava mensagens ao Emana desde 2013 e só consegui uma resposta em 2020, mas o Emana não colaborou simplesmente na música. Ele deu-me uma visão e motivação para ir mais a fundo. Ele exigiu-me comprometimento e disse-me para não fazer da sua participação o único recurso para expandir-me. Eu sabia que teria bons números só apenas com a colaboração dele, mas ele acreditou no meu potencial e aconselhou-me a investir mesmo naquele single. Eu tinha de filmar e era a minha primeira filmagem, numa música minha, minha parte cá, parte dele em Portugal, levar a música a um bom engenheiro, pagar promoções e enfim. Desde a faixa ‘Pôr do sol’, ganhei muito buzz, ‘zerei’ o game no meu bairro e fiquei com muita sede de lançar mais trabalhos à altura. Quem desacreditava passou a acreditar. Até a minha família, quando começou a ver o vídeo constantemente na TV, passou a dar mais apoio à minha arte, porque ter um artista como o Emana na ‘collab’ não é para qualquer um. Eu esperei oito anos só para ter um sim dele”, explicou.

Questionámos também como surgiu a parceria com Kelson Most Wanted, também da TRX, na faixa ‘DSP’. “O Kelson é um gajo porreiro. Deu-me bué links, uma pessoa amena pela dimensão que o mesmo representa. Faltou bebermos um vinho e projetar melhor essa faixa, mas tem um outro projeto na cena dele, espero que ele lance”, explicou Eliel.

Já mais recentemente, Eliel lançou um novo som intitulado “Colin Bom”, que é uma declaração amorosa. “A minha namorada inspirou-me a escrever o ‘Colin Bom’. Escrevi na presença dela. Tinha o beat, produzido pelo meu boy Custoo, a vontade de escrever algo novo e a inspiração ao meu lado, depois de matarmos as saudades. Escrevi o som em sensivelmente 30 minutos e gravei no dia seguinte”, disse Eliel.

O clipe do “Colin Bom” é composto por imagens bastante explicitas e Eliel disse que foi difícil gravar. “Foi sim difícil gravar, primeiro porque são cenas extremamente íntimas e não estava habituado a tamanha exposição e só pensava na reação dos meus familiares (que são muito conservadores) e a minha namorada, pois, quando disse para ela a intenção de fazer um vídeo daquele teor, ela achou que eu estava a gozar, porque eu não teria tanta coragem mas fi-lo”, contou.

Eliel descreve a modelo, com quem contracenou, de super profissional e que lhe transmitiu uma grande segurança, sendo que os assistentes e o realizador também contribuíram para que o vídeo e a música fizessem um ‘match’.

Para 2023, Eliel Prince deixou claro que irá tirar vários novos trabalhos e que vai continuar a promover o seu último single, em cujo sucesso acredita. “A ideia é criar mais links que me darão aberturas, ganhar a cada single solto mais ouvintes que trarão muitos outros, portanto só fé, foco e trabalho que teremos um 2023 positivo”, disse.

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