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O Dia dos Namorados consolidanda-se como uma data que celebra o amor em suas múltiplas expressões. Nos dias atuais, promover encontros saudáveis em que a intimidade, a honestidade e a parceria estejam presentes é uma tarefa cada vez mais desafiadora. É notável a ascensão dos amores líquidos no cenário afetivo contemporâneo, o que resulta em um investimento e comprometimento cada vez mais escassos no mercado das relações. Este é um espaço em que alguns indivíduos desfrutam de mais privilégios que outros, e os objetos de desejo são frequentemente adquiridos sem uma análise crítica ou um sentido mais profundo.
Nesse panorama, enquanto psicóloga dedicada à saúde mental e emocional de pessoas negras, considero fundamental ressaltar a importância do "Amor Preto". Esta expressão não apenas evoca a beleza das relações entre pessoas negras, mas também simboliza a resistência e a força inerentes a essas histórias. Este artigo busca explorar a relevância do amor preto, suas raízes históricas e seu papel no atual mercado afetivo.
Descontinuidades e perspectivas sobre o amor
O amor entre pessoas negras possui uma trajetória rica, embora marcada por complexidades. Diversos atravessamentos históricos e pactos sociais coletivos contribuíram para que o amor entre pessoas negras fosse, em muitos momentos, criminalizado. Até os dias atuais, essas relações enfrentam desafios, mas também revelam uma resiliência admirável. Em sociedades nas quais o sujeito de desejo é frequentemente moldado pelo ideal de um ego branco, pessoas negras são frequentemente impulsionadas a buscar afeto e alianças amorosas com indivíduos que destoam de suas realidades emocionais e psíquicas. Essa busca é motivada pela esperança de que o social ofereça aquilo que a vida lhes negou: a aceitação. O racismo, a discriminação e o preconceito geram a ilusão de que, ao nos distanciarmos de nossa essência, poderemos encontrar a salvação. Essa é uma armadilha perigosa quando se trata de amar alguém que não compartilha de nossa vivência.
Apesar da beleza inerente ao amor preto, muitos casais enfrentam desafios significativos, como o racismo e os estereótipos prejudiciais. De um lado, a mulher negra é frequentemente retratada como um corpo menos digno de investimento afetivo, uma vez que o ideal de “feminino” não foi construído para ela. Por outro lado, o homem negro é visto como um corpo objetificado, associado a vantagens eróticas e econômicas, pois o masculino também não foi moldado para ele. Essas barreiras não afetam apenas a dinâmica do relacionamento, mas também a autoestima e a saúde emocional dos indivíduos envolvidos. Entretanto, muitos casais conseguem encontrar força um no outro, construindo novas narrativas que superam adversidades e criam um espaço seguro de amor e apoio mútuo.
A solidariedade entre casais negros é essencial. Em vez de se deixarem abater pelas dificuldades, muitos optam por se fortalecer mutuamente, estabelecendo laços que transcendem as barreiras impostas pela sociedade. Essa resistência configura uma forma potente de amor que merece ser celebrada e reconhecida. É imprescindível promover encontros que desafiem um sistema que busca fomentar nossos desencontros, o que implica em estratégias que visem o fortalecimento de um coletivo. Não se deixem enganar!
Um sentido de continuidade e conexão profunda
Neste Dia dos Namorados, é crucial refletir sobre a importância de celebrar o amor em suas diversas formas, especialmente o amor preto. A vivência de ser pessoa negra no mundo é singular e exige um conhecimento experiencial que vai além da compreensão da maioria. Reconhecer e valorizar essas relações não apenas enriquece nossas vidas, mas também contribui para nossa saúde mental e emocional, promovendo o autoconhecimento enquanto sujeitos negros neste mundo. Ver-se no outro, construir códigos próprios de enfrentamento e interpretar o contexto em conjunto são comportamentos que casais negros, imersos em profunda intimidade, conseguem desenvolver. Já se depararam com uma situação de racismo e trocaram apenas um olhar para confirmar? Ou seu parceiro não negro não percebeu quando você sofreu uma violência?
É evidente que não devemos romantizar nem ignorar a quantidade de desafios que enfrentamos; sabemos que a jornada é árdua. Uma vez, ouvi de uma atriz renomada que o amor preto cura, desde que seja genuíno. Ela tinha razão, mas até que ponto estamos comprometidos em tornar esse amor verdadeiramente bom? Que possamos nos inspirar nas histórias de amor e resistência que nos cercam, promovendo um mundo onde o amor, em todas as suas nuances, seja sempre celebrado, especialmente o amor preto.
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