Ana Djú acredita que "a estratégia digital é uma esperança de transformação para a Guiné"

February 7, 2025
Ana Djú estratégia digital Guiné

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O final de janeiro de 2025 trouxe um importante marco para o futuro da Guiné-Bissau. A Estratégia Nacional de Transformação Digital (ENTD.GW) foi oficialmente lançada num evento realizado no Palácio do Governo, em Bissau. Esta iniciativa, liderada pelo Governo guineense em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e com apoio financeiro do Povo do Japão (organização estatal nipónica), simboliza uma aposta firme na modernização do país, através da digitalização dos serviços públicos, da inclusão digital e do desenvolvimento sustentável.


A BANTUMEN acompanhou de perto esta transformação e teve a oportunidade de conversar com Ana Djú, Head of Solutions Mapping do PNUD na Guiné-Bissau e fundadora da Associação Mindjer i Futuro. Reconhecida como uma das 100 personalidades negras mais influentes da lusofonia em 2024, Ana Djú está à frente de iniciativas de impacto social e digitalização em território guineense.


Ana Djú explica que o PNUD já vinha a atuar na digitalização de algumas áreas críticas do país, como o sistema judicial e os negócios estrangeiros. No entanto, à medida que os trabalhos avançavam, surgiu a necessidade de criar uma estratégia nacional integrada. "O Governo percebeu que era preciso uma linha orientadora para coordenar os vários esforços. Foi [Gibril Mané] o secretário de Estado [das Telecomunicações e]da Economia Digital que nos fez esse pedido, liderando o processo até ao lançamento atual", relembra Ana.


O processo teve início em julho de 2024, com uma conferência onde especialistas internacionais e nacionais se reuniram para delinear o plano. "Convidámos representantes da Cabo Verde Digital e especialistas em transformação digital do PNUD, que partilharam as suas experiências e ajudaram a estruturar a estratégia. Foi um percurso longo, mas muito gratificante", acrescenta. Este trabalho conjunto incluiu também representantes de organizações comunitárias, sociedade civil e técnicos locais, essenciais para compreender as necessidades reais da população.



Desafios de inclusão e o fosso digital



Um dos principais objetivos da ENTD.GW é assegurar que o acesso às novas tecnologias seja universal e que as comunidades mais vulneráveis não sejam deixadas para trás. "O fosso digital é uma preocupação real em países em desenvolvimento. Muitas vezes, as tecnologias chegam primeiro a quem já tem acesso, ampliando as desigualdades. Por isso, trabalhamos diretamente com organizações de base, como a Rádio Jovem e a Renage, para garantir que as necessidades das comunidades sejam ouvidas", explica a Head of Solutions do PNUD.



Uma das soluções inovadoras apresentadas é o projeto InovaLab, que visa simplificar o acesso digital para populações remotas. "O InovaLab cria espaços onde as pessoas podem desenvolver competências digitais básicas. Assim, quando as tecnologias emergentes chegarem a essas áreas, os cidadãos já terão uma base de conhecimento que lhes permitirá beneficiar das novas oportunidades", sublinha.


Um dos maiores desafios em países como a Guiné-Bissau é a instabilidade política, que muitas vezes afeta a continuidade de projetos governamentais. Ana Djú reconhece esta dificuldade, mas destaca a resiliência do PNUD e de outras organizações internacionais para garantir a sustentabilidade dos programas. "A cada mudança de governo, as prioridades podem mudar. Já vimos situações em que um governo quer um 'muro amarelo' e o seguinte prefere um 'muro verde'. No entanto, temos esperança de que a digitalização continue a ser uma prioridade, como tem sido até agora."



Ana ressalta que o trabalho do PNUD é feito sempre em estreita parceria com o governo. "As Nações Unidas não definem as prioridades; seguimos aquilo que o governo considera essencial. No entanto, o nosso papel é assegurar que os projetos sejam implementados de forma sustentável, mesmo em tempos de transição política."



Com o lançamento oficial da ENTD.GW, os próximos passos incluem a implementação de projetos específicos em colaboração com diferentes ministérios. "Já começámos a receber pedidos para desenvolver um sistema integrado de digitalização governamental. Queremos criar uma infraestrutura que facilite a gestão administrativa e reduza a burocracia, especialmente em áreas sensíveis como a justiça e o registo civil", afirma Ana.


Ana Djú durante a apresentação oficial do programa de transição digital da Guiné-Bissau


A transformação digital promete simplificar processos que atualmente são complexos e demorados. "Na Guiné-Bissau, o acesso à justiça ainda é um grande desafio. Algo tão básico como obter um bilhete de identidade ou registar um casamento pode levar meses devido a problemas burocráticos. Com um sistema digitalizado, será possível acelerar esses processos e reduzir o risco de perda de documentos", explica.



Para Ana Djú, a digitalização é uma esperança de transformação para o país. "Eu vejo esta iniciativa como algo essencial. Já tivemos avanços no passado, mas acabaram por se perder. Agora, sinto que estamos a criar algo que pode realmente mudar a vida das pessoas. A digitalização pode trazer mais eficiência, transparência e inclusão, algo que a Guiné-Bissau precisa urgentemente."


Ana destaca ainda a relevância das parcerias internacionais no sucesso da estratégia digital. Para ela, a troca de experiências com outros países lusófonos e em desenvolvimento é crucial para evitar erros já cometidos e adotar as melhores práticas. "As nossas histórias têm muitas semelhanças, e, ao aprendermos com os processos de digitalização de países como Cabo Verde, podemos acelerar o nosso desenvolvimento. Essas parcerias estratégicas são essenciais para criar soluções sustentáveis que realmente respondam às necessidades dos cidadãos."



A colaboração com organizações internacionais e governos parceiros oferece uma base de apoio que permitirá à Guiné-Bissau manter o progresso alcançado, mesmo perante desafios políticos e económicos. "Juntos, conseguimos ir mais longe. Cada experiência partilhada é uma oportunidade de evolução e crescimento, garantindo que ninguém seja deixado para trás neste processo de transformação digital", conclui Ana Djú.



O lançamento da ENTD.GW representa um passo decisivo na modernização da Guiné-Bissau, colocando a tecnologia no centro das políticas de desenvolvimento sustentável e inclusão social.

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