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Arapucagongon é o nome do duo que junta Jhon Douglas e Henrique Silva num projeto musical que ambiciona criar uma ponte transatlântica entre o Brasil e Cabo Verde. Esta iniciativa é uma imersão que mistura o universo da simplicidade e da natureza, com referências à Amazónia de Jhon Douglas, e o batuque, dança e energia de Cabo Verde trazidos por Henrique Silva. "Arapuca" significa armadilha no Brasil, enquanto "Gongon" é um fantasma, algo que mete medo, e também o nome de um pássaro em Cabo Verde.
Radicados em Lisboa, a cidade e o seu ecossistema cultural, ricos em sonoridades, vivências e encontros, influenciam o projeto, que também procura estabelecer pontes com outros artistas que compartilhem da mesma vibração e vontade de criar algo novo.
Conversámos com Henrique Silva e Jhon Douglas sobre como surgiu o Arapucagongon, os desafios de fazer música independente em Portugal e as questões de identidade e rótulos que ainda limitam a indústria musical.
Jhon Douglas: Eu ando de skate na Praça da Figueira. Lá tenho vários amigos, e um deles é o João Lima. Através dele, conheci o seu tio, o Lulas da Cachupa Psicadélica, e, consequentemente, tive proximidade com o Mama Demba, que é um "conector". Ele é DJ e está muito envolvido na introdução da cultura de Cabo Verde através do seu trabalho. Quando ele me conheceu melhor, disse-me: "Tens de conhecer o Henrique". Ele organizou um encontro na sua casa na Amadora. Nesse dia, fizemos a primeira música.
Henrique Silva: "Saemba Saemba".
Jhon Douglas: Sim, mas sem pressão. Inicialmente, havia a ideia de fazer Acácia Maior com o convite a Jhon Douglas, mas como estávamos com vontade de expandir os projetos, decidimos criar algo nosso. Fomos-nos encontrando mais e desenvolvemos afinidade. O Mama Demba percebeu que o meu trabalho também buscava trazer a minha cultura, não só da Amazónia, mas como artista imigrante aqui. Ele viu que o Henrique também estava interessado em alinhar, e então seguimos com o que estamos a fazer.
Henrique Silva: Ainda estamos a descobrir. No concerto no B.Leza, apresentámos um novo formato do Arapucagongon, que é bastante diferente do que fazemos com a banda. É igualmente prazeroso, mas neste caso somos apenas nós dois e há uma abordagem mais eletrónica.
Jhon Douglas: Vamos encontrando o que faz sentido. Somos geograficamente de extremos culturais, mas próximos em termos de sonoridade. As referências culturais populares e periféricas que temos em comum tornam a nossa criação muito natural e espontânea. Não é uma estratégia; simplesmente deixamos extrair o que temos em comum.
Henrique Silva: Compusemos três ou quatro músicas numa tarde. Fomos apresentar o primeiro single ao programa "Conversas ao Sul". Tínhamos de ir de manhã e só saímos à noite.
Jhon Douglas: E não podes sair de lá…
Henrique Silva: Estávamos lá com um violão, a ouvir RTP África. Iam passando várias referências musicais, e dizíamos: "Este tipo de funaná é fixe. Bora criar! Tu tu tu tum, já saiu uma."
Jhon Douglas: O mais divertido é podermos encontrar-nos só para criar, sem compromisso. O desafio está mais na parte logística e financeira, como arranjar cachet para toda a banda. Por isso, decidimos tentar trazer o projeto para uma formação só com nós dois. Foi um teste que resultou muito bem. Pelo feedback das pessoas, independentemente da sonoridade, identificaram a brincadeira e a ligação entre nós.
Fotografias de Ana Viotti
credits
Henrique Silva: Quando nos conhecemos melhor, trocámos muitas referências. Ele dizia: "Como é que tu conheces isso?" Em Cabo Verde absorvemos muitas influências. E quando o Jhon conviveu com cabo-verdianos, cheguei a encontrá-lo a ouvir Bana e Voz de Cabo Verde.
Jhon Douglas: Eu interesso-me por isso. Ele também acaba por cair na minha “arapuca”, mostrando-me coisas de que gosto. Depois, passados uns tempos, estou a cantar algo que ele me mostrou. Cabo Verde e Brasil são os títulos que usamos para abrir as portas do nosso projeto, mas é o Cabo Verde de São Vicente e o Brasil da Amazónia. Essa especificidade é fundamental, porque traz outras referências do mundo, que falam também da cultura de onde o Henrique vem. Queremos transpor essas semelhanças e criar uma música sincera.
Henrique Silva: O Nhô Jon é uma coladeira clássica de Cabo Verde, mais especificamente de Santo Antão.
Jhon Douglas: Estávamos em casa, em Mem Martins, a criar o projeto e a ensaiar quando o Henrique me mostrou uma versão do Nhô Jon, do Waldemar Lopes da Silva. Ele sugeriu fazermos a nossa versão. Ensinei-me a cantar a letra simples e curta, e também o toque do violão.
Henrique Silva: Descobri o projeto do Waldemar Lopes, pai do Danilo Lopes dos Fogo Fogo. Esse projeto, com dois cabo-verdianos e um brasileiro, inspirou-nos a dar continuidade a essa ideia.
Henrique Silva: O álbum está a caminho. Temos músicas e concertos preparados; agora falta-nos apenas arrecadar fundos. Estamos um pouco cansados de sustentar tudo do nosso bolso. Queremos estruturar o projeto financeiramente, entrar em editais e conseguir condições que nos permitam continuar e valorizar as pessoas que nos apoiam.
Jhon Douglas: Se fosse há uns anos, fazíamos de qualquer jeito, mas hoje queremos trabalhar com qualidade e respeito, para garantir que os nossos espetáculos sejam realmente completos e valorizem todos os envolvidos.
Henrique Silva: Com o Arapucagongon, queremos levar a nossa música ao Brasil, Cabo Verde e ao mundo, se possível.
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