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O primeiro concerto do ano do Teatro do Bairro Alto, que decorrerá no dia 18 de fevereiro, junta os músicos Cachupa Psicadélica e Scúru Fitchádu e a artista visual e designer Ana Rita António.
A fusão destas duas indústrias criativas diferentes, música e design, chama-se Quarto Escuro, Panela Quente, que é “um projeto que reúne três criadores que, em diferentes épocas, atravessaram um dos maiores hubs criativos nacionais por excelência, as Caldas da Rainha. Juntos, propõem para o TBA uma atmosfera de formas opostas que se atraem por via de poesia, violência e de imagens-símbolo”, como se lê no comunicado da Agenda Cultural Lisboa.
A BANTUMEN esteve à conversa com Cachupa Psicadélica e Scúru Fitchádu para ver como uma panela cheia de influências cabo-verdianas, da morna, coladera, funaná e às influências afro-futuristas, urbana e punk, podem resultar num delicioso prato auditivo.
Cachupa psicadélica e Marcus Veiga, dos Scúru Fitchádu, são músicos e amigos que têm grande “respeito e admiração pela cultura cabo-verdiana e, claro, a experiência geracional de 80 em universos diferentes, mas paralelos”, define Scúru.
Cachupa Psicadélica é um projeto musical criado por Lula’s (Luis Gomes). Lula’s é do Mindelo, na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde. Cria dos anos 80, apaixonou-se pelo Rock de Seattle na adolescência. Chegou às Caldas da Rainha para estudar. Ingressou no curso Design e Multimédia do qual desistiu, no terceiro ano, para lançar-se na carreira artística e o lançamento de “O Último cabo-Verdiano” foi a confirmação de que conseguiu “fazer acontecer”. “O felling era “agora bora fazer acontecer.” Tocar, tocar bem, tocar bem melhor e não voltar a apanhar pêra rocha no verão. O felling continua igual.”
Scúru Fitchádu – escuro fechado, em Crioulo – é um projeto musical criado por Marcus Veiga. Marcus nasceu em Lisboa, mas cresceu na zona oeste – entre Bombarral e as Caldas da Rainha. A mãe é angolana e o pai cabo-verdiano. Da infância até hoje, percorreu caminhos que, a primeiro bordo, parecem adversos, mas que no final convergem e formam uma boa cachupa.
“Nasci na cidade, vivi no gueto na infância, corri nos campos da aldeia, estudei na vila e tornei-me homem na cidade. Vendo de tudo, passando e lidando com muita coisa nesse percurso. O misto resulta naturalmente dessa panela que ferve, com uma forte incidência na cultura cabo-verdiana pois fui criado com essa parte da família fortemente influenciado pelo ambiente onde estava inserido até aos dias de hoje.”, relata Scúru.
Em “Mar Brabu”, emitido no “No ar” da Antena 3, testemunhamos a fusão sem pudor de funaná e punk-rock.
O manifesto criativo de Scúru é fruto de uma mistura sem precedente de géneros musicais esteticamente opostos: punk, morna, coladera e funaná e mostra que o resultado da junção de estilos musicais que se opõem não precisa de ser como água e azeite.
Embora vá ao encontro das suas origens cabo-verdianas, Scúru tem plena noção de que a sua arte pode não apreciar a todos e valida a desconfiança, “porque o amor pela cultura é algo que nos torna sempre mais relutantes em abrir mão a outras interpretações e transformações. Claro que houve uma grande desconfiança inicial que talvez ainda persista na minha música e na minha abordagem.”
Agradar não é a principal preocupação do criador, o objetivo é manifestar-se de forma descomprometida e “sem uma intenção vaga”, quer as pessoas gostem da sua arte quer não.
Aos risos, Cachupa Psicadélica não faz a mínima ideia se a vitalidade do punk está dependente do consumo de funaná, mas de acordo com a sua interpretação criativa e de composição, Scúru Fitchádu, vê os dois géneros como “manifestações musicais em paralelo como essenciais movimentos de contracultura. São mais que riff ou contratempo de batida, é uma atitude acima de tudo.”
Segundo Cachupa Psicadélica, o projeto “Quarto Escuro, Panela Quente” dá origem à necessidade de um ponto de equilíbrio entre as suas diferentes maneiras de manifestar a arte “para que o espetáculo seja uma fusão orgânica entre três criadores, três visões, três mundos num só quarto, quadro, corpo.”
Essa confluência de artes realiza-se com Ana Rita António, artista visual e designer, cujo o seu trabalho questiona a funcionalidade dos objetos e busca encontrar estratégias criativas de resolução de problemas do quotidiano real.
Scúru Fitchádu e Cachupa Psicadélica, além de cruzarem-se em alguns pontos comuns, também têm, segundo Scúru, características muito diferentes. Se por um lado há um manifesto “extrovertido e antagónico”, por outro lado o que se manifesta é introspecção e reflexão. No entanto, o processo criativo deste concerto é baseado “no mesmo chip” com, acima de tudo, as suas influências e abordagens. A artista Ana Rita António, através da escuta da arte dos colegas, é que vai pegar nessas características e ilustrar toda uma intenção. Scúru Fitchádu prossegue dizendo que “o conceito é definitivamente subliminar, que induz a algo não definitivo, algo que sugere que tanto tem de romântico como algo envolto em negrume. A última coisa que queres encontrar num quarto com muita pouca visibilidade é uma panela quente pronta a estragar-te o dia ou não”.
O concerto “Scúru Fitchádu, Cachupa Psicadélica, Ana Rita António” – Quarto Escuro, Panela Quente – decorre na sexta-feira, dia 18 de fevereiro, pelas 19h30 no Teatro do Bairro Alto. Os ingressos estão à venda na bilheteria online do Teatro do Bairro Alto e nas bilheteiras do São Luiz Teatro Municipal, do LU.CA – Teatro Luís de Camões e nos pontos de venda habituais (Fnac, Worten, CTT).
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