Marcas por escrever
Contactos
BantuLoja
Pesquisa
Partilhar
X
Nascido na Nigéria e criado no sul de Londres, Caleb Femi emergiu como uma das vozes mais proeminentes na literatura britânica e além. As suas iniciativas criativas também se estendem à moda, tendo colaborado com nomes globais como a Louis Vuitton. Caleb é uma força criativa multifacetada: poeta, cineasta e agora uma voz emergente na televisão com o seu trabalho em "Industry", aclamada série transmitida pela HBO.
Em conversa com a BANTUMEN, Caleb revelou o coração e alma por detrás do seu trabalho, explorando a experiência negra britânica, a interseção da arte visual e poética e a sua jornada criativa entre Lagos e Londres.
Caleb Femi descreve-se de forma simples: "Sou apenas um rapaz nigeriano, criado no Sul de Londres, que gosta de sonhar e conceptualizar histórias sobre realidades possíveis e impossíveis." No entanto, a simplicidade da sua autodefinição contrasta com a profundidade e a complexidade do seu trabalho.
Desde a sua coleção de poesia Poor, que aborda as complexidades da vida em comunidades marginalizadas, até à sua direção criativa em projetos de moda para marcas como a Louis Vuitton, Caleb traz um olhar único para o mundo da narrativa contemporânea. Ele vê a arte como um veículo para “preencher as lacunas”, especialmente no que diz respeito à representação negra. “Muitas vezes, quando contamos histórias negras, enfrentamos o desafio de derrubar estruturas preconcebidas que desumanizam quem somos. É necessário reconfigurar essas narrativas para que nos possamos ver refletidos de forma verdadeira e íntegra.”
A poesia de Caleb, embora poderosa, não se limita às palavras. Ele combina-a frequentemente com imagens e filmes para criar uma experiência imersiva e visceral. Para ele, a poesia é apenas o ponto de partida. “As palavras são um estado falhado de expressão porque nem sempre conseguem comunicar tudo. Às vezes, só vendo algo é que conseguimos realmente entender o que está a ser dito.”
Através do uso de imagens em movimento e fotografia, Caleb preenche lacunas emocionais que as palavras não conseguem alcançar. As imagens no seu trabalho desafiam representações redutoras e esta abordagem híbrida é evidente em Poor, onde imagens e textos trabalham em conjunto para subverter preconceitos. "Quando escrevo sobre violência, quero que vejam o filho de alguém, não um estereótipo ou uma fotografia policial. Quero que a humanidade dessas pessoas seja inegável."
O seu segundo livro, The Wickedest, inspirado em festas caseiras, exibe o mesmo poder visual, explorando como é que esses momentos de congregação íntima são cruciais para o fortalecimento das comunidades. “As house party são espaços de conexão e responsabilidade coletiva. Há algo profundamente humano em reunir-se num espaço doméstico, partilhando alegria, vulnerabilidade e comunhão.”
Para escrever o livro, Caleb viajou pelo mundo, de Paris a Kingston, mergulhando em diferentes culturas e tradições. "Queria capturar o que nos une globalmente, mas também o que nos torna únicos enquanto indivíduos," detalha. O resultado é uma celebração vibrante e universal de pertença e resistência.
Caleb acredita que a sua identidade nigeriano-britânica é tanto uma ponte quanto uma exploração contínua. “Ser negro britânico é estar num caldeirão cultural. Mas, para entender completamente a minha identidade, percebi que também precisava de conhecer as experiências dos meus irmãos e irmãs negros em outros países.”
Crescer numa comunidade culturalmente rica, mas muitas vezes negligenciada, moldou a abordagem de Caleb à narração de histórias. Ele reconheceu como a sua identidade dupla como artista nigeriano e britânico lhe permitiu explorar diferentes narrativas culturais. "Uma das melhores coisas sobre a Black Britishness é que é um caldeirão de culturas africanas e caribenhas. Mas percebi o quanto eu não sabia sobre os meus países vizinhos—os francófonos, lusófonos e outros através da Europa. Compreender as suas experiências ajudou-me a entender melhor a minha própria identidade," refletiu Caleb. "As influências culturais que carrego vêm não apenas de Londres ou Lagos, mas também de Lisboa, Paris e outras cidades onde comunidades negras florescem."
A visão criativa de Caleb vai além da poesia e da fotografia para a televisão. A incursão de Caleb na televisão com Industry da HBO foi um novo desafio. O programa, muitas vezes descrito como Wolf of Wall Street com esteroides, explora a glamorização do capitalismo e da cultura do hustle. O papel de Caleb em moldar o tom e a profundidade emocional do programa destaca a sua capacidade de unir arte e crítica cultural.
Caleb Femi by Aiden Harmitt-Williams
Ele trouxe uma visão autêntica e emocional para a série, que explora o mundo intenso e implacável da alta finança. “O meu objetivo era criar algo que fosse visceralmente londrino e emocionalmente autêntico. Sabia que a minha experiência e a da minha comunidade podiam enriquecer a narrativa.”
No episódio ambientado em Berlim, Caleb usou o surrealismo para capturar a intensidade emocional de personagens em situações extremas. "A televisão é uma plataforma incrível para explorar nuances que, por vezes, não conseguimos capturar apenas com palavras ou imagens estáticas," reflete. "Entrei como um diretor de cinema alternativo, só para correr riscos e me divertir. Acho que o programa precisava dessa energia.”
Caleb acredita que o futuro da arte negra reside na autonomia e na colaboração interna. “Temos que parar de procurar validação das grandes marcas e instituições. Precisamos de criar os nossos próprios marcos de sucesso, os nossos prémios, as nossas plataformas. A verdadeira revolução começa de dentro.”
Ele vê as novas gerações, especialmente os Gen Z, como pioneiras de um novo tipo de liberdade criativa. "Estamos numa era em que tudo é possível. A tecnologia e a conectividade global abriram portas para formas de expressão que antes eram inimagináveis."
Para os criadores emergentes, Caleb oferece um conselho simples, mas profundo. "Persistência é tudo. As ideias vêm até ti porque acreditam que podes trazê-las ao mundo, mas se as ignorares, elas vão para outra pessoa. Não abandones os teus projetos e nunca deixes de explorar a tua prática."
Com um pé na poesia, outro na arte visual e ambos firmemente plantados na narrativa da experiência negra, Caleb Femi continua a abrir novos caminhos na arte, moda e televisão. A sua jornada é uma prova do poder transformador da criatividade, quando esta é usada para contar histórias que ressoam profundamente em todos nós.
Com confiança e determinação nas mangas, Caleb vê um futuro empolgante para a poesia e as artes visuais, moldado pelas novas tecnologias e mudanças culturais que abraçam a nossa comunidade. Quando questionado sobre os seus livros favoritos que têm vindo a revolucionar a cultura Black British, Caleb recomendou:
Manorism de Yomi Sode
Surge de Jay Bernard
Rosewater de Liv Little
Keeping the House de Tice Cin
O trabalho de Caleb Femi é um testemunho do poder da narração de histórias na formação do discurso cultural. Seja através da poesia, do cinema ou da televisão, ele continua a ultrapassar limites, criando arte que é tão reflexiva quanto transformadora.
Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.
Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.
Recomendações
Marcas por escrever
Contactos
BantuLoja
© BANTUMEN 2024