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Camila Alcântara é artista plástica e empreendedora. Guilherme Marinho é um empreendedor criativo e consultor para artistas visuais. Nascidos e criados em São Paulo (Brasil), juntos há quase uma década, eles formam um casal na vida e – há quase cinco anos, na sociedade e direção da Lateral Galeria Contemporânea de Arte. Um espaço na capital paulista que busca estreitar cada vez mais os vínculos criados pela arte, ampliar e fortalecer a comunidade formada por artistas, visitantes e colecionadores. Hoje, a LTRL apresenta obras de artistas emergentes, e entre seus objetivos está desmistificar a ideia das galerias de arte como espaços reservados apenas ao conhecimento erudito e ao alto poder aquisitivo.
Eles se conheceram em 2015, no mercado da moda, quando começaram a namorar. Mas foi no mundo das artes plásticas que o casamento aconteceu. Filha de um casal interracial, formado por mãe branca e pai negro, a dualidade compôs a história de Camila. “Eu sempre fui uma entusiasta, interessada e admiradora de arte. As escolas onde estudei e os lugares que frequentei me levaram para esse lugar. A arte sempre esteve muito presente na minha vida. Quando eu conheci o Guilherme, eu fui agregando isso na vida dele e passamos a visitar, juntos, galerias, museus, exposições. A gente fazia juntos muitos programas culturais, mas eu nunca me imaginei artista. Eu tinha uma perspectiva de espectadora, de um lugar onde a arte me alimenta. Em 2017, eu comecei a minha produção artística e, em 2020, tive a ideia de ter a Lateral Galeria como um espaço para apresentar meu trabalho e de outros artistas. Convidei o Gui para vir nessa jornada comigo”, contou Camila sobre o começo de tudo.
Apaixonado por encontrar soluções, Guilherme Marinho é o parceiro certo para Camila. Ele se descreve como uma pessoa criativa, tanto nas artes quanto nos negócios. “Sou um empreendedor, assim, de sangue, eu diria, porque desde cedo vi meu avô empreender sua barraquinha na feira para criar a família. Eu cresci muito próximo também de um tio que também empreendeu e certamente esses exemplos me influenciaram”, contou. Ele conta que a arte sempre esteve em sua vida, de forma espontânea ou amadora. “Eu sempre gostei de desenhar. Fiz muitos cursos livres na área da moda, curso de desenho de moda, de visual merchandising, de produção de moda. Eu desenhava peças e enviava para a costureira fazer. Com 21 anos abri a primeira empresa, uma marca de roupa com uns amigos. Já na Faculdade de Moda, não levei adiante por questões financeiras, mas continuei com marcas de moda. Quando comecei a frequentar lugares de arte com a Camila, me encantei com esse universo. Desde então, a arte está mais presente na minha vida, de uma forma mais consciente”, acrescentou.
Quando começou a desenvolver um trabalho artístico, Camila diz que foi compreendendo algumas coisas importantes com esse processo. “Compreendi que ali eu poderia me comunicar com as pessoas através da minha arte. Eu conseguiria acessar as pessoas por meio do meu trabalho. Ver as pessoas de frente para o meu trabalho, refletindo a respeito dele, trazendo questionamentos, elaborando pensamentos e reflexões foi, para mim, a virada de chave do que eu queria para a minha vida”, destacou a artista. A partir disso, ela vive o desafio de trabalhar com arte e cultura, ao mesmo tempo em que é gratificante fazer o que gosta e acredita. A ideia de abrir a galeria surgiu depois da primeira exposição da Camila. “Depois de ter uma experiência incrível de poder expor meu trabalho, comecei a pensar que todo artista merece ter essa experiência também de apresentar o seu trabalho. Fui buscar outros espaços para fazer novas exposições, mas não tive muita abertura. Não consegui esses espaços, e então, pensei de ter a minha própria galeria”, lembrou ela.
O ano era 2020. Marcado pela pandemia da Covid-19 com ampla restrição de circulação de pessoas por todo o mundo. A Lateral Galeria começou na rede social, até que a flexibilização chegou e foi possível pensar em ter um espaço físico para receber as pessoas presencialmente. O Guilherme, que já ajudava Camila a pensar em precificação, estratégias de comercialização e venda, entrou de cabeça nessa empreitada. “Eu nunca imaginei ter uma galeria de arte. Mas quando o convite da Camila chegou, senti um entusiasmo que eu nunca tinha sentido antes. Foi uma decisão muito de coração mesmo. Hoje eu vivo com, para e da arte. A galeria é a nossa casa. É onde passamos a maior parte dos nossos dias, onde convivemos com as obras de arte e onde trocamos com artistas e público. Isso é muito transformador. Cada dia mais eu penso que todo mundo precisa de arte, todo mundo precisa conviver com obras de arte”, destacou Guilherme.
Arte para todos
Quando pensam nos motivos que os levaram a viver da arte e empreender, o casal é unânime em dizer do acesso à cultura. “Fico feliz de oferecer acesso e a possibilidade do colecionismo de arte. Aproximar a arte das pessoas no sentido de que muitas vezes ela é colocada como algo que se preserva apenas para um lugar erudito ou elitizado. A nossa proposta é aproximar as pessoas da arte e mostrar que a arte fala de um lugar subjetivo, um lugar humano. A gente busca abrir caminhos para apresentar esse universo para pessoas que, muitas vezes, ainda não descobriram e nem sabem que gostam”, explicou a artista plástica. Para ela, a arte não é sobre saber ou entender, é simplesmente sobre sentir. “Para mim, a arte também está voltada para o nosso autoconhecimento, para a nossa construção enquanto indivíduo. Eu acho que quando a gente olha para uma obra de arte, estamos vendo em um espelho que permite enxergar o nosso interior. Além disso, o autoconhecimento também contribui para um contexto coletivo. Porque quando eu sou um indivíduo que me conheço, tenho domínio das minhas escolhas, dos meus pensamentos, tenho familiaridade com as coisas que eu sinto, com as minhas emoções, eu, consequentemente, me relaciono melhor com os outros”, defende Camila.
A Lateral Galeria é um espaço aberto a todas as pessoas e expressões artísticas, independente de origem ou contexto social. Para os sócios, o mais importante é promover o encontro genuíno entre arte e público, incentivando a circulação de todos pela cidade e oferecendo oportunidades para que qualquer pessoa possa explorar, se conectar e consumir arte livremente.
“Frequentemente recebemos pessoas que moram em periferias da cidade que ao visitarem a galeria descobrem que é possível consumir arte e se permitem relacionar com obras de arte. E, a partir desse momento, elas começam a voltar aqui e a visitar outros espaços também. Então, eu acho que o maior desafio que temos como mercado é tornar o acesso mais palpável para essas pessoas, quebrar e desmistificar esse paradigma de que você só pode comprar arte se você tiver muito dinheiro”, comentou Guilherme.
“É de suma importância que surjam novos espaços culturais que apresentem uma maior diversidade de trabalhos. E mais do que isso, que os artistas consigam também criar seus próprios espaços, viabilizar o acesso e romper esse sistema que a gente vive. Para os artistas e para os empreendedores, o que eu desejo é que não falte coragem. Às vezes a gente tem que ir com medo mesmo para dar esse primeiro passo. Também desejo paciência para continuar e por fim, persistência e fé para acreditar que de alguma forma as coisas vão se encaixar e vão dar certo ali na frente”, sugere a artista Camila Alcântara.
📸 Bruno Pompeu
Viver da arte, viver do sonho
Para além de oferecer acesso à cultura, Camila e Guilherme também fundaram a Galeria com o objetivo de viver da arte. No entanto, vender obras de arte é outro desafio. Eles trabalham para que as pessoas entendam o valor de uma obra de arte e compreendam o quão rico é consumir obras de arte.
De acordo com o empreendedor nato, Guilherme Marinho, a sociedade é moldada a partir da cultura. Através da arte é possível formar e consolidar narrativas. Então, quando se oferece o acesso a isso, é possível transformar a realidade das pessoas. Guilherme afirma que, historicamente, existe essa defasagem de oportunidades para artistas de periferia e artistas negros. “Aqui na Galeria, não temos um recorte curatorial voltado apenas para esse perfil, contudo, consideramos de extrema importância oferecer espaço para que esses artistas possam apresentar seus trabalhos. É uma outra forma de aproximar as pessoas que moram na periferia do consumo de arte. Muitas vezes, o artista periférico fala da realidade que ele vive e os visitantes enxergam essa realidade através da obra ou até mesmo, se enxergam na obra. Isso é oportuno para que o público da periferia comece a consumir arte”, esclareceu ele.
Por fim, ele explica que é fundamental dar mais espaço para artistas periféricos e artistas negros por conta da diversidade do que se oferece quando existem novas narrativas, novas histórias sendo contadas dentro de instituições e galerias. “Queremos transformar esse ecossistema da arte em algo mais saudável, onde todos os envolvidos ganhem - artista, galerista, patrono, colecionador e sociedade. A gente visa ter um espaço maior. Desejamos fazer exposições e também levar a arte brasileira para fora do Brasil, fomentar o mercado, formar novos colecionadores. Pensar em outros negócios é um movimento que eu faço também. Estou sempre atento às possibilidades para ampliar o mercado”, reforçou.
O recado que ele deixa para os talentos que ainda não encontraram a coragem de empreender é paciência e resiliência. “Construir um negócio é difícil. Mantê-lo é ainda mais desafiador. Conquistar a saúde financeira, um negócio sustentável, leva tempo, mas é possível”, finalizou Guilherme Marinho.
O LTRL Cult & Lab é o setor da galeria que se dedica à realização de uma ampla gama de eventos, tais como oficinas, workshops, cursos e conversas, com a missão de fomentar e expandir a partilha de conhecimento, tanto prático quanto teórico, no âmbito da arte e do mercado. Além de conduzir essas atividades nas próprias instalações, oferecem a flexibilidade de criar e levar eventos personalizados para outros locais.
Além disso, a LTRL tem um Clube de Colecionadores, pensado para incentivar o consumo de obras de arte por pessoas que estão começando suas coleções. Por um preço acessível, a pessoa assina o clube e começa a construir sua coleção com obras originais e únicas.
Por fim, a Lateral Galeria oferece um programa de patronato, tanto para pessoas quanto para empresas, com o objetivo de construir uma comunidade que compreende o valor da preservação, do crescimento e do desenvolvimento da arte contemporânea brasileira.
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