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Passaram mais de duas décadas desde a morte de Orlando Pantera, mas o seu legado continua vivo e agora ganha uma nova dimensão graças ao trabalho da filha, Darlene Barreto, presidente da Fundação que carrega o nome do artista. Em entrevista à BANTUMEN, Darlene falou sobre os desafios da institucionalização da fundação, o impacto do trabalho do pai e o novo documentário que promete revelar um lado mais íntimo e humano do músico cabo-verdiano.
Criada oficialmente em 2022, a Fundação Orlando Pantera tem vindo a consolidar-se como uma entidade cultural dedicada à preservação e divulgação do legado do autor de composições como "Tunuka", "Lapidu na Bo" e "Dispidida". Mas o caminho não tem sido simples. “A Fundação não nasceu para ser só um nome. Queremos que ela cumpra uma missão no tempo”, afirma Darlene.
Segundo a fundadora, o primeiro objetivo foi garantir que o nome Orlando Pantera não ficasse apenas nas memórias da geração que com ele conviveu. “Não é que o Orlando Pantera esteja esquecido, mas sentimos necessidade de trazer esse nome para a nova geração, que muitas vezes conhece as músicas mas não associa ao autor”, explica. Foi com essa intenção que surgiram iniciativas como o espetáculo Pantera, uma peça de música e dança coreografada por Clara Andermatt, que percorreu Portugal e chegou a Cabo Verde, e que deram origem à formalização da fundação. Atualmente, a prioridade é garantir sustentabilidade. “Não queremos depender apenas dos apoios institucionais. Estamos a criar empresas associadas para que haja dinheiro a circular e a fundação possa cumprir a sua função social”, explica Darlene. Ao mesmo tempo, continuam os esforços para estabelecer parcerias internacionais e reforçar o trabalho legal em torno dos direitos de autor do espólio de Pantera.
A mais recente novidade da fundação é o documentário sobre o artista, realizado pela cineasta portuguesa Catarina Alves Costa, com estreia mundial marcada para 3 de maio, no Festival IndieLisboa. “O filme começou a ser desenvolvido em 2023, com muita pesquisa, muita escuta, e sobretudo com um olhar muito pessoal da Catarina sobre o meu pai”, conta Darlene. A realizadora já tinha filmado Pantera em 2000, pouco antes da sua morte, e foi a partir dessas imagens de arquivo que nasceu a proposta.
“Foi com esses vídeos que eu conheci o meu pai de forma mais próxima. Não como músico, há muitos registos dele a cantar, mas como pessoa. Como é que ele falava, como se mexia, como pensava”, revela Darlene. A filha de Pantera tinha apenas seis anos quando o pai morreu, e esse distanciamento biográfico torna a experiência ainda mais emotiva. “Chorei imenso ao ver o filme. Há arquivos que eu nunca tinha visto. E acredito que o público vai emocionar-se também.”
Depois da estreia em Lisboa, o documentário será exibido em Cabo Verde, com apresentação prevista para a Cidade da Praia. “Estamos a trabalhar para garantir a estreia logo a seguir ao IndieLisboa, porque é importante devolver este filme a Cabo Verde”, sublinha.
Para Darlene, o mais surpreendente neste processo tem sido a forma como, mesmo após tantos anos, continua a descobrir novas facetas do pai. “Surpreendo-me sempre com a forma como as pessoas falam dele. Com carinho, com emoção. Nunca ouvi ninguém dizer algo negativo sobre o meu pai. Era uma pessoa muito querida”, partilha.
Mais do que o músico brilhante, Darlene quer que o público conheça o homem por detrás das composições. “Este filme não é meu, nem da Catarina. É das pessoas. O nosso objetivo é que chegue ao maior número de pessoas possível, para que conheçam o humano atrás da voz e da genialidade.”
A Fundação Orlando Pantera é um monumento para perpeturar a memória mas é também uma plataforma ativa, viva, que gere projetos, desenvolve parcerias e promove a cultura cabo-verdiana com base na obra e nos valores de Pantera.
Com uma rede que se estende entre Cabo Verde, Portugal e outras comunidades da diáspora, Darlene Barreto mantém firme o compromisso de cuidar de um património que é ao mesmo tempo íntimo e coletivo. “Estamos a trabalhar para que a Fundação perdure no tempo. E para que o nome Orlando Pantera continue a tocar não só nos palcos, mas no coração das pessoas”, concluiu.
Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.
Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.
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