Double Life, um trapper que nasceu do Kuduro

Há nomes artísticos que são meros pseudónimos. Outros, como Double Life, são espelhos da própria vida. Nascido em Angola, criado em Portugal, com uma temporada de sete anos em França e, hoje, a viver em Inglaterra, o artista leva no nome a síntese de uma existência feita de encontros culturais, deslocamentos e reinvenções. A sua música é, por isso, o reflexo dessa travessia.

“Double Life foi um nome atribuído pelo meu grande amigo e colega, ChaudK. Sempre vivi numa política do ‘tudo dois’ e o nome encaixou-se perfeitamente na minha vida artística”, contou-nos em conversa com a BANTUMEN.

Com uma bagagem internacional e um olhar atento ao mundo, Double Life oferece uma proposta sonora que funde inovação com herança. As experiências fora de Angola deram-lhe acesso privilegiado a uma informação e cultura global que, segundo o próprio, foi determinante: “Para nós, comunidade PALOP, a informação chegava sempre em último lugar. Lá fora tive acesso mais rápido ao que se passava no mundo. Isso fez toda a diferença.”

Apesar da distância física, nunca se desligou das origens. Angola continua a ser uma presença constante, especialmente através do kuduro, que o mantém ligado à terra que o viu nascer. “Sempre mantive contacto com Angola e procurei saber mais sobre o meu povo. O kuduro ajudou-me muito nesse desenvolvimento rítmico”, partilhou, sublinhando a importância do estilo na sua construção musical.

O mais recente single, “No Lie”, marca o início de um novo capítulo com o lançamento do Projeto Life. A canção traduz uma filosofia de vida centrada na autenticidade e na superação das mentiras que contamos a nós próprios. “Muitas vezes mentimos a nós próprios, achando que não conseguimos alcançar algo. Este single fala exatamente sobre abandonar essas mentiras internas”, explicou.

Na composição, temas como ansiedade, ambição e verdade interior ganham forma, inspirados nas vivências quotidianas do artista. “Estou a tentar transformar o meu nome numa marca. E uma marca, para mim, tem de ser única”, disse-nos.

O videoclipe de “No Lie” reforça essa mensagem e valoriza o investimento pessoal como caminho para o sucesso e realização. “Visualmente, quero mostrar que devemos investir em nós próprios, pois é aí que reside o nosso verdadeiro valor.”

Já sobre o Projeto Life, Double Life antecipa energia e ambição. “Durmo pouco, mas sonho grande. Acordo todos os dias com o objetivo de realizar os meus sonhos. Tenho surpresas preparadas para quem acompanha a minha música. É preciso ficar atento!”, disse entre risos.

Este novo trabalho assume-se como um espelho da sua visão artística: expansiva, determinada e ancorada num desejo profundo de inspirar quem o rodeia. “Um dos meus maiores sonhos é poder cantar diretamente para o meu povo”, confidenciou com brilho nos olhos.

Para Double Life a música é uma ferramenta de ligação e expressão coletiva. “Nunca devemos deixar de consumi-la, porque é através dela que podemos transmitir mensagens importantes”, reforçou.

Antes de se despedir, deixou uma mensagem sentida ao público da BANTUMEN e à comunidade lusófona espalhada pelo mundo: “Agradeço à BANTUMEN por este espaço e a todos os que me têm acolhido com tanta curiosidade e carinho. É incrível saber que o meu trabalho atravessa fronteiras e toca pessoas com histórias semelhantes. Espero inspirar e contribuir para mais representatividade, autenticidade e orgulho nas nossas raízes. Estamos juntos nesta jornada de afirmação cultural e criatividade sem limites.”