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"Estamos a trabalhar para chegar a todo o mundo e não só aos guineenses", Carel Baptista 

August 21, 2024
Entrevista Carel Baptista abeny

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O nome Carel Baptista não é desconhecido por aqui. Este jovem de 26 anos, natural da Guiné-Bissau, tem desempenhado um papel fundamental na promoção da cultura guineense. Com inúmeros projetos já iniciados e aos quais dedica grande parte do seu tempo, decidimos conversar com o agitador cultural para saber mais sobre o seu trabalho.


Carel vive em Portugal há cinco anos, é formado em Análises Clínicas, mas é na cultura que várias vezes encontra a sua medicina. Mas nem sempre foi assim. Com um começo modesto, como trabalhador no McDonald's para pagar as contas enquanto estudava Ciências Biomédicas Laboratoriais em Bragança, Carel decidiu que não iria limitar os seus sonhos e criou o projeto Nô Sta Djuntu, uma “plataforma de promoção e divulgação da Guiné-Bissau e dos valores nacionais”. Entretanto, desenvolveu também o Malila de Humor, um projeto de comédia que promove o stand-up guineense e o Abeny, um coletivo musical que está a ganhar cada vez mais visibilidade [tendo inclusive um concerto marcado para o dia 23 de agosto, em Lisboa]. "Quando cheguei a Portugal, era um jovem com muitos sonhos, e graças a Deus, consegui realizar alguns”, explicou. 


Numa realidade completamente diferente da que estava habituado, Portugal revelou-se um recomeço duro, de muita aprendizagem e adaptação. “O meu objetivo inicial ao vir para cá era estudar, fazer um curso. Vim para cursar Agronomia, mas não era o que eu realmente queria. Acabei por passar um ano a trabalhar, sabes como é, no McDonald 's à noite. No ano seguinte, entrei na faculdade para fazer Ciências Biomédicas Laboratoriais, em Bragança, que envolve Análises Clínicas, Anatomia Patológica e Saúde Pública”. Essa experiência acabou por moldar as perspectivas de futuro de Carel e de como se queria posicionar, em termos pessoais e profissionais.

Carel Baptista ©BANTUMEN


Surgiam assim as primeiras ideias sobre como Carel poderia transformar-se num pilar da promoção e do desenvolvimento da cultura guineense, onde quer que ela esteja presente. Quando questionado sobre o porquê de preferir criar projetos conectados às suas origens, a resposta é direta: "Sempre acreditei que a cultura guineense pode ganhar reconhecimento mundial e, por isso, nunca me desviei desse objetivo, mesmo respeitando outras culturas. Quem me conhece sabe que cresci numa sociedade multicultural. Na Guiné-Bissau, antes de vir para Portugal, eu fazia parte do grupo cultural Netos de Bandim, que muitos conhecem. É o maior grupo de música e dança da Guiné-Bissau. Fiz parte do grupo de 2011 até ao final de 2019, quando vim para Portugal. Mesmo não estando mais ativo no grupo, continuo a ser membro da direção".


Em 2024, nasce a Abeny, um projeto musical que reúne artistas da nova geração da Guiné-Bissau radicados na diáspora, como King Kunta e Missy Bity. Esta iniciativa tem dado frutos e crescido exponencialmente, não só na Guiné-Bissau, mas também fora. Este é um passo importante na evolução de Carel, que destaca: "Ganhei experiência ao me relacionar com outras pessoas e participei em várias conferências de jovens. Já viajei por quase toda a Europa, América, Ásia... só falta a Oceania [risos]".


https://www.instagram.com/p/C-AL5K-oZ53/


Apesar das dificuldades, como a falta de apoio institucional e a necessidade de financiamento, Carel recebe apoio de algumas plataformas de comunicação e personalidades da Guiné-Bissau, o que tem sido crucial para o avanço do projeto. "Temos conseguido chegar a artistas que nem acreditávamos que aceitariam colaborar connosco, mas aceitaram. Cada vez que falo com um artista, eles aceitam logo, sem hesitação. Isso mostra confiança e que acreditam no projeto. E eu defino 'todo o mundo' como chegar a todas as nacionalidades, não apenas guineenses. A Abeny tem uma abordagem diferente. O nosso objetivo é fazer uma música com uma sonoridade global, que não se limite apenas aos nossos ritmos tradicionais. Por exemplo, utilizamos o Amapiano, que é um ritmo global, e o Afrobeats. As melodias das músicas, mesmo que as pessoas não entendam o crioulo, elas acabam por gostar da melodia, do flow que os artistas estão a utilizar. Isso é chegar a todo o mundo", sublinha.


No dia 23 de agosto, o coletivo Abeny vai subir ao palco do Armazém 18, em Odivelas, nos arredores de Lisboa. Além de Missy Bity e King Kunta, o espetáculo vai contar com vários convidados especiais, como Tino OG, Allis, Ammy Injai, Merboys, Lil Boy Bruce e muito mais. "Decidimos fazer o concerto agora porque é o verão e muitos guineenses que vivem fora de Portugal aproveitam para passar férias aqui. Além disso, os artistas que fazem parte do projeto já têm um público fiel, e isso vai ajudar a garantir o sucesso do evento. A Abeny é um projeto com continuidade. Após o lançamento deste projeto, a Missy Bity e o King Kunta continuarão as suas carreiras solo, e eu, junto com a equipa, selecionaremos novos artistas. A próxima seleção incluirá dois rapazes e duas meninas. O objetivo da Abeny é continuar a dar oportunidades, porque talento sozinho não basta para avançar”, concluiu.

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