“ASOPO”, a ponte de El Coffee entre Brasil, Nigéria e afrobeats

December 13, 2024
ep ASOPO El Coffee

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El Coffee, trapper da nova geração brasileira, diz que através do afrobeats tem se conectado cada vez mais com a sua ancestralidade. Sua voz grave dá vida ao EP “ASOPO”. O título usa um termo em yorubá que significa conexão. “Eu fui estudar porque queria saber mais, apesar de já conhecer”, observa. “Só que eu queria saber mais sobre meus ancestrais, sobre o nosso povo. Também queria ter propriedade para falar do assunto, argumentos para chegar num momento como esse e saber o que estava fazendo, o gênero que eu estava fazendo”. Essa imersão teve início em 2020, e se intensificou depois que Paiva, seu produtor, foi para um camp de produção em Portugal. “Lá, ele encontrou alguns produtores de afrobeats, inclusive o P. Priime, um dos caras que já tem uns hits pelo mundo”, revela. “Quando ele voltou, nós começamos a fazer os sons”. 

Por influência da família, Coffee entrou na música pelo samba. Aos sete anos de idade fez seu primeiro desfile na ala das crianças, e três anos depois começou a tocar na bateria de uma escola de samba. Ele afirma que esse viés musical faz parte do seu DNA, nasceu com ele. “Tive as primeiras referências com a minha mãe”, fala. “Ela curtia aquelas festas de black music dos anos 80 e anos 90. Ela me influenciou muito”. Do samba, partiu para o trap. Colocou alguns sons na rua, mas se encontrou no afrobeat e sua vertente moderna, também arquitetada em Lagos, na Nigéria. 


“Já considero algo religioso, tá ligado? É mais que um gênero musical. Se tornou uma religião a partir do momento que eu comecei a estudar”, reflete. “Se você parar para ver a energia da Nigéria, do continente africano, enfim, é semelhante à nossa, tanto no gênero, na musicalidade, tanto na energia de dança e festa. Tudo é semelhante ao que fazemos aqui”. 


Foto de @bielllzera


Menos orgânico que a sua gênese, o afrobeats ganhou o mundo com Wizkid, Burna Boy, Davido Tyla. No Brasil, Rincon Sapiência foi um dos pioneiros na experimentação. No caso de El Coffee, o processo de introdução levou um tempo. Para fazer o EP teve que fazer no mínimo 3 versões para cada uma das 9 músicas até chegar no resultado que queria. “A gente quis realmente trazer essa energia”, ressalta. “Quando você ouvir vai se conectar, porque tem uma energia”. Mesmo tratando de assuntos quentes, tendo os relacionamentos amorosos como direcional de todas as composições, existe leveza e equilíbrio. O jeito que Coffee interpreta, somado à cadência dos beats de Paiva, faz com que algo mais apimentado não seja tão explícito quanto a letra propõe.

Para chegar nessa estética, El Coffee e Paiva buscaram referência na Música Popular Brasileira (MPB, especialmente nos sons de Djavan e Gilberto Gil. “Eu acho que o vocabulário da MPB é culto e tem uma fonética que é meio pausada. Isso combina com os flows”, diz. “Eu também quis misturar com a linguística yorubá, só que em português. Como nosso vocabulário é muito extenso, eu tive que pensar rima por rima pra não ficar muito longo”. No quesito composição, tudo que está posto ali é baseado em fatos. Com um sorriso acanhado, o cantor revela que tem algumas vivências retratadas.


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“Foi de uma época que eu tinha rompido um relacionamento, e estava curtindo a vida de solteiro”, revela. “Estava trabalhando naquilo que vivenciava, aquilo que sentia, tá ligado? Vivia uma experiência amorosa, e, ao mesmo tempo, pensava: nossa, esse bagulho foi louco! Também pensava muito no meu antigo relacionamento. Era uma mistura de energias, de sentimentos. Mas tudo ajudou para criar esse disco”. 


Falar sobre suas relações não foi o único motivo de El Coffee fazer músicas sensuais, dançantes e provocativas. O seu principal objetivo era atingir as mulheres. “A gente queria atingir de fato a massa feminina, principalmente dentro do nosso movimento negro”. Isso porque, na visão dele, o ritmo e a vibe conversam diretamente com esse público. “A estrutura tem uma sensualidade e um suingue, que acho que combina com a energia das brasileiras. É para celebrar, curtir e dançar muito”.

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