Especial Guiné-Bissau, 10 anos BANTUMEN: O que é preciso fazer para tirar-te de casa?

Na passada sexta-feira, dia 21 de fevereiro, celebramos no Musicbox, em Lisboa, o 10.º aniversário da BANTUMEN, uma noite marcada por homenagens ao falecido ícone da música guineense Américo Gomes e pela presença de uma nova geração de músicos da Guiné-Bissau radicados na capital portuguesa. A dupla Afrolions, Alice, LilBoy Bruce, King Kunta, Missy Bity e Naty Pro foram os protagonistas de um espetáculo que, apesar de contar com uma audiência reduzida (cerca de 80 pessoas, cuja maioria chegou já depois do concerto ter terminado), mostrou a força e a vitalidade da música guineense.  

O evento, que decorreu entre as 21h30 e as 23h50, serviu não só para celebrar uma década de existência da BANTUMEN, mas também para refletir sobre os desafios de organizar eventos que atraiam o público esperado. Apesar de termos mais de 300 mil seguidores nas redes sociais (25% desse número é lisboeta) e de contarmos com uma base de mais de 100 mil visualizações mensais na revista digital, a verdade é que ficamos com a sensação de que a interação possível está limitada a isso mesmo: ao universo digital. Seja para a revista como para estes artistas que, igualmente, mobilizam milhares nas suas esferas digitais. 

Natty Pro, foto de Nuno Silva/BANTUMEN

Ainda assim, decidimos arriscar e celebrar os 10 anos da BANTUMEN com uma série de concertos em Lisboa, dedicados a cada um dos países africanos de língua portuguesa. Esta iniciativa visa marcar uma década de construção de pontes entre as diferentes comunidades afrodescendentes que partilham a língua portuguesa, promovendo o diálogo e a reflexão sobre as suas experiências, necessidades e inovações.  

Desde 2015, a BANTUMEN começou como uma revista de cultura e entretenimento voltada para um público masculino, mas rapidamente percebemos que o nosso alcance poderia ser muito mais amplo. Hoje, somos uma plataforma generalista que abraça as culturas de São Tomé e Príncipe, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau e das diásporas africanas, promovendo não só estas culturas, mas também participando ativamente na criação de novas narrativas através de eventos e iniciativas diversas.  

King Kunta, foto de Nuno Silva/BANTUMEN

Ainda que tenhamos de enfrentar dificuldades na mobilização de público, o concerto de 21 de fevereiro foi um momento magnífico que mostrou que a Guiné-Bissau (no contexto diaspórico) está a viver uma das melhores fases da sua música, desde os tempos dos Tabanka Jazz. A nova geração de artistas, representada no line-up da noite, está a ecoar a força da música guineense além-fronteiras.  

A dupla Afrolions chegou atrasada para o soundcheck e não conseguiu montar o setup de percussão a tempo, mas, uma vez em palco, mostrou que não estava ali de passagem. Alice, com uma t-shirt personalizada em homenagem ao cantor Américo Gomes, conquistou o público. Mesmo tendo atuado para uma audiência reduzida, Alice mostrou a sua fibra artística e deu um verdadeiro show digno de palcos de grandes festivais. Natty Pro trouxe o reggae, King Kunta apresentou o seu clássico "Lacoste", e Missy Bity brilhou ao misturar hits que vão da música tradicional ao afro-tech, com destaque para "The End", produzida pelo compatriota Buruntuma.  

Quanto ao profissionalismo, LilBoy Bruce e a sua equipa destacaram-se pela organização e dedicação que, no contexto musical lusófono e da experiência que temos tido na BANTUMEN, supera o desempenho e dedicação de artistas com longos anos de carreira.  

Missy Bity, foto de Nuno Silva/BANTUMEN

Lilboy Bruce, foto de Nuno Silva/BANTUMEN

Afrolions, foto de Nuno Silva/BANTUMEN