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Guiné-Bissau: Mais um ano do imortal Amílcar Cabral, os 100 da viragem?

September 16, 2024
Guiné-Bissau: Mais um ano do imortal, os 100 da viragem?

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"Nó djunta tudu na um mon, nó grita ku tudu força - Cabral, Cabral lanta di coba pa nó barsau" (juntemos as nossas mãos, gritemos bem alto - Cabral, Cabral levanta-te da cova para te abraçarmos), uma frase da canção "Cabral" de Sidónio Pais que, melodicamente cantada, se torna um elemento que ecoa, invictamente, nos corações e mentes de todos os que realmente sentem Cabral, o vivem e o espelham naquilo que é mais sagrado enquanto seres humanos. De toda a lista que se pode fazer, a Cultura estará, inevitavelmente, intrinsecamente presente, a tal ponto que, em dias como os de setembro, o que mais se ouve e sente são músicas para Cabral e sobre Cabral. Assim, a música, como manifestação cultural, torna-se ainda mais próxima daquilo que gostaríamos de ter e viver.


No entanto, um dia como 12 de setembro marca não só o nascimento de um dos dois líderes mais importantes da humanidade no século XX (BBC HistoryExtra, 2020), mas também o Dia Nacional da Cultura. Essa cultura, viva e vivida a todos os níveis, foi a que possibilitou um maior engajamento para vencer a luta e afirmar-se como um povo livre do jugo colonial.


De tanto que se fala do icónico poeta e revolucionário, algumas reflexões me vêm à mente e deixam-me pensativo. São reflexões resultantes de alguma escuta ativa antes, durante e depois da antestreia do filme "ami i un simples afrikano" (eu sou um simples africano), de Flora Gomes, Sana Na Hada e Suleimane Biai.


O produtor do filme, Paulo Gomes, na apresentação da antestreia, falou de forma muito assertiva sobre o processo que os levou a chegar a este pré-produto apresentado no dia do centenário do Ideólogo da Luta. Referiu como Amílcar está presente nas suas vidas e como se pode agarrar o pensamento de Cabral para fazer a diferença, tanto no cinema como noutras áreas de interesse nacional. No entanto, o que mais me marcou foi a sua afirmação: "este momento do centenário pode ser que seja o momento da verdadeira viragem da página do nosso país."


Para que isso se concretize realmente, é fundamental incorporar alguns desígnios que passaram no documentário feito pelo trio de cineastas: "se tens medo, vão-te matar"; "anós nô ossa luta"; "ika ka boca ku ta bai busca comida, i comida ku ta bim pa boca". As últimas duas frases definem aquilo que é o povo guineense na sua génese: "nós ousamos a luta" e "não é a boca que vai buscar comida, é a comida que vem para a boca". Isso espelha exatamente o dia-a-dia do guineense, que luta para manter a comida na mesa e ser feliz com o mínimo que consegue diariamente. Para isso, é fundamental desapegar-se do medo que está instalado no país e enfrentar todas as formas de violação dos direitos. Estas são algumas das formas contínuas de virar a página.


Outra forma, por vezes negligenciada e também mais complexa, é a busca profunda do resgate da autoestima guineense. O estado atual das coisas contribui fortemente para que o guineense não fale de si, dos seus valores, daquilo que mais estima e orgulha neste país à beira do Atlântico. "Estamos mal"; "esta terra vai ficar assim"; "estamos a sair do mal para pior"; "nem os nossos filhos ou netos vão sentir o sabor desta terra" são algumas das afirmações que se ouvem em vários espaços públicos, da capital ao interior do país.


Contudo, não nos faltam razões para irmos ao fundo de nós mesmos, ao nosso âmago, buscar incansavelmente a razão da nossa existência enquanto povo. Esta pode ser encontrada em vários momentos, sinais e referências, mas também na profundidade das afirmações de Amílcar Cabral, que foi um simples africano, lutando afincadamente para ver o seu povo livre, tal como todos os outros povos subjugados nas suas liberdades.


É mais do que tempo de resgatar a nossa autoestima enquanto povo, que outrora lutou firmemente pela sua independência total, e enfrentar o mal que constantemente se instala na nossa terra.

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