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Igor Regalla, um artista entre a representação, realização e fotografia

March 10, 2023
Igor Regalla, um artista entre a representação, realização e fotografia

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Igor Regalla entrou pela primeira vez nos ecrãs da nossa casa na série “Água de Mar” e ficou mais conhecido pelo público na novela “Única Mulher”, que considera ser o lugar onde tudo começou. Depois, vieram mais novelas, salas de teatro e ainda o cinema. Até onde vai a vida artística de Igor? Descobrimos que ultrapassa a representação e ainda há muito por conquistar. 

A vida artística de Igor Regalla começou em Portugal mas o artista passou uma parte da vida na Guiné-Bissau. Nasceu no país africano e com um ano de idade veio para Portugal, aos sete anos retornou à Guiné, mas com o decorrer da guerra civil foi obrigado a regressar. Em conversa com a BANTUMEN, recorda que o bichinho do mundo das artes nasceu e cresceu em Portugal, porque consumia muitas novelas com a mãe e sempre se envolveu muito nas histórias. Ainda assim, apenas reconheceu o interesse na área quando fez um breve workshop de teatro na ACT- Escola de Atores. 

Durante o ensino secundário estudou informática, por causa do interesse em computadores mas não terminou o curso. “Felizmente, chumbei a matemática e a físico-química, porque não podia entrar no Curso da Escola Superior de Teatro de Cascais se tivesse o 12.º ano completo”, comenta Regalla. Antes de se inscrever no curso de teatro lembra-se de se questionar: “o que é que queres mesmo fazer da vida?” e a ideia de ser ator agradou-o. Sobre o curso de atores refere que foi essencial para ganhar uma capacidade de “pensamento próprio e crítico”. 

Regalla comenta que sempre se dedicou muito para aprender. “Eu tenho de ser bom aqui (escola), se eu for bom aqui, lá fora vou estar preparado para qualquer circunstância”, assumiu convictamente o artista à BANTUMEN.  

No período depois de terminar o curso, Igor relembra a vontade que tinha em vencer. Na altura, a ambição passava por ser o “ator preto que as pessoas em Portugal mais iam gostar de ver representar”. Com o passar do tempo, os objetivos passaram a ser outros. Logo após o curso, teve a oportunidade de integrar peças de teatro através do projeto Novos Atores, coordenado por Renato Godinho. 

No fim das peças de teatro que fez em conjunto com outros colegas seleccionados para o projeto, sentiu a dificuldade do panorama artístico português: entrar no mercado. Acabou por ficar muito tempo sem trabalhar e sentir que não tinha espaço na indústria. 

O cenário acabou por alterar-se. Depois do primeiro casting, que foi com a vontade de vencer e a acreditar que ninguém iria fazer melhor do que ele, acabou por ficar com o lugar e, assim que ligou a Renato Godinho a contar a novidade o conselho foi: “vicia-te nisso e nessa vontade”. 

“Sinto que todo este esforço de tentar conquistar este lugar na indústria veio de muita persistência, de acreditar muito, trabalhar muito, entregar muito e de suportar muito” 

Igor Regalla já participou em dezenas de projetos televisivos, séries, filmes e cinema. Entre todos, não consegue evitar falar do filme que protagonizou um lutador de boxe- “Gabriel”, que estreou em 2018. Em conversa, o ator explica que esteve presente em 95% do filme e que foi a primeira vez que teve a oportunidade de mostrar do início ao fim o percurso de uma personagem. 

https://www.instagram.com/p/CIk-nQNBDAE/

Com o filme, realizado por Nuno Bernardo, Igor Regalla foi o primeiro ator negro a ser nomeado para um Globo de Ouro em Portugal, para a categoria de ator principal. Ainda surgiu o Prémio Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, e venceu o prémio Novos Talentos da Fundação GDA. Além de todo o amor e reações que recebeu, o artista conta que foi a primeira vez que a mãe veio de propósito da Guiné para ver um projeto seu, mesmo depois de ter feito peças de teatro, séries e novelas. 

Este projeto surgiu depois de Ruth – filme sobre Eusébio -, mas Igor explica que mesmo assim Gabriel foi o projeto mais importante até hoje, porque foi um culminar de muito esforço e trabalho e surgiu também na altura quando soube que ia ser pai e isso tornou-se um “acrescento” a toda a viagem.

Já fiz várias coisas e várias coisas diferentes e, para mim, é isso que é desafiante: ser versátil a esse ponto encaixar em todo o lado e para mim isso é ser ator”

Igor Regalla

“Sinto que todo este esforço de tentar conquistar este lugar na indústria veio de muita persistência, de acreditar muito, trabalhar muito, entregar muito e de suportar muito”, comenta entre risos. Ainda assim, acredita que não existe um lugar seguro na indústria. “A verdade é que a perspetiva é sempre um vazio gigante. Acabo um projeto emocionado, porque sinto genuinamente que vai ser o último projeto que vou fazer na vida”, diz o ator argumentando que trabalha muito e não apenas no mundo da representação, desdobrando-se também para a vertente da realização. Refere que a profissão de ator é “um bocadinho mais segura e sustentada noutros países”, entre gargalhadas, diz que “o panorama artístico cá em Portugal é mesmo um desporto radical”. 

Uma das reivindicações constantes dos profissionais de cultura foi que 1% do Orçamento do Estado fosse direcionado para o setor. 

Entre todos os projetos de representação, Igor revela que sente a mesma satisfação seja em novela ou cinema, encarando o trabalho de ator de “cumprir o propósito no registo que for necessário” e “sinto-me feliz por conseguir ser versátil nesse sentido, adaptar-me a todos os diferentes géneros”. Desde ser uma mulher no Hérmane, a jogador de boxe, a representar o Eusébio, traficante de armas ou  mordomo, Igor Regalla já deu vida a muitas personagens. “Já fiz várias coisas e várias coisas diferentes e para mim é isso que é desafiante: ser versátil a esse ponto encaixar em todo o lado e para mim isso é ser ator.”

https://www.instagram.com/p/BuI_S6hBAsX/

Igor Regalla acredita que a representatividade é necessária em todas as áreas, não apenas no que toca a professores. “Ainda nos dias que correm refugiu-me muito atrás do computador, porque muitas vezes saio e o cenário não mudou assim tanto. Vejo pessoas pretas a limpar chão, sem querer ser menos digno, não quero ser pejorativo para as pessoas que o fazem”, partilha Igor com a BANTUMEN, referindo que o panorama ainda não alterou muito. 

Ao mesmo tempo, responsabiliza os políticos: “cabe aos nossos políticos juntar aqui as peças e tentar perceber o que está errado, porque é que há pessoas que são aglomeradas em certos sítios e essas pessoas têm menos oportunidades que as outras, há coisas que estão erradas socialmente. Isto começa tudo em casa, no sítio onde as pessoas vivem e vai-se estendendo pela forma como as pessoas encaram isso”. Ainda assim, Igor sublinha que o local onde cada um nasceu é determinante. Agradece ainda aos pais por terem tomado decisões que o permitiram viver a vida que tem agora. “Tive a sorte de poder lutar por estas oportunidades que tive. Estou contente por ainda ter espaço aqui, mas eu sei que tenho de lutar por tudo isto constantemente”. 

No início do mundo da representação deu o papel a personagens de bairros sociais, venda de droga e considera que isso é a parte “trágica” da sua carreira. Mas sublinha que, com o passar do tempo, não o chamam apenas para isso, mas também para isso. “De qualquer forma, acho trágico e tenho pena que a maior parte das pessoas me conheça neste contexto. Gostava que se revertesse isto, nas novelas aparecemos a fazer outras coisas, a ser pessoas bem sucedidas de vez em quando. É nesse sentido… vermo-nos um bocadinho mais representados”.

Defendo acima de tudo que temos de ser minimamente felizes a fazer aquilo que fazemos”

Igor Regalla

Valete, NGA, Força Suprema e Papillon são alguns dos artistas para quem Igor Regalla realizou videoclipes. Também já fugiu à regra e realizou para Ivo Lucas, mas o amor que sente pelo hip-hop é inegável pelo brilho no olhar. A primeira paixão pelo género foi com o álbum Pratica(Mente), de Sam The Kid. 

O mundo da realização de Igor não vai ser definido apenas no mundo da música. “Vou mesmo fazer outras coisas, como séries, filmes, tenho um filme de sonho que não posso morrer sem fazer”. “Se eu deixar de representar, inevitavelmente, hei de realizar”

Ao espreitar o Instagram de Igor é inevitável não encontrar o amor pela fotografia. Conta que está sempre a tirar fotografias pela capacidade em eternizar o momento. 

À BANTUMEN ainda comentou que, num cenário hipotético, em que a representação deixasse de fazer parte da sua vida, a realização e a fotografia seriam uma opção, porque são coisas que o motivam a acordar e a ir atrás. “Defendo acima de tudo que temos de ser minimamente felizes a fazer aquilo que fazemos”, partilha Igor Regalla. 

Vídeo produzido por Igor Regalla

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