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Iveth prepara-se para lançar o seu segundo álbum de estúdio

Iveth prepara-se para lançar o seu segundo álbum de estúdio

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“Leave No One Behind” é o novo single da rapper moçambicana Iveth. Após 14 anos, a artista prepara-se para lançar o seu segundo álbum de estúdio. Em conversa com a BANTUMEN, Iveth fala-nos um pouco do seu percurso como advogada, rapper, defensora de Direitos Humanos, como também, da importância de cultivarmos a nossa cultura e planos futuros.

Natural de Maputo, Ivete Mafundza Espada sonhava ser advogada desde pequena. Recorda-se de um episódio, onde lia uma página de jornal sobre um caso de corrupção e disse: “quando eu crescer e for advogada, eu não vou deixar isso acontecer”. Sempre quis contribuir para a justiça. E ao mesmo tempo, interessava-se por música. “Quando, estivesse com amigos e escutássemos músicas, ouvia muita música e dançava. E também sempre tive esse sonho de querer fazer música. Um pouco mais adiante, na adolescência, decidi que essa música tinha que ser hip hop e me inspirei na Lauryn Hill”, conta-nos.

Iveth entrou no mundo do hip hop no final da década de 1990. Fez parte de alguns grupos e em 2005 lançou o seu primeiro projeto a solo, Erga-te e sê feliz, que a fez levar o prémio de Melhor Cantora de Hip hop moçambicano. Em 2010 nasceu o seu primeiro álbum, intitulado O convite, composto por 20 faixas originais, incluindo o sucesso “4 Estações”. Por outro lado, seguiu, como tinha sonhado, a carreira jurídica. Tornou-se advogada e, hoje em dia é, também, docente na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.

Durante a conversa, Iveth partilha que o início da sua carreira foi bastante desafiante, principalmente numa época onde o hip hop (moçambicano) não acolhia as mulheres. “O hip hop tem esta característica de ser um estilo muito masculino em vários aspetos. A maneira de estar, a maneira de te expressares, origem, etc. E há alguns anos, se eu for a ver cantoras de hip-hop ou cantoras de R&B, todas elas vestiam-se à maneira masculina. E para mim, recordo-me que a primeira vez que estive em palco, sempre estive de saias. E ao longo do tempo fui tornando o meu estilo e a minha maneira de me apresentar muito mais feminina porque é o que eu sou. E o hip hop, além de, na altura, colocar as mulheres a vestirem roupa masculina, estarem dentro de uma cultura masculina, a comportarem-se em alguns momentos com atitudes masculinas, o hip hop masculino usava bastante as mulheres”. Foi uma altura de embates pessoais, sobretudo para alguém a cursar Direito, disciplina que está no extremo oposto da formalidade em relação ao hip hop.

O estilo de Iveth é caracterizado pelo storytelling e conhecido por narrar histórias que defendem a igualdade. O seu útlimo single não foi diferente. “Leave No One Behind” é inspirado na celebração dos 75 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos”, com a partipação do artista moçambicano Hot Blaze. “Como documento muito importante, decidi não expressar a minha ideia sobre esta declaração de forma muito formal, mas de uma forma artística. E decidi fazer daquilo uma história, que conta a história da humanidade até a aprovação da declaração e pós-declaração incluindo os novos desafios como humanidade, país, África, mundo nos dias de hoje. E eu acho que foi uma coisa muito bonita que conseguimos fazer e temos que continuar a falar sobre os vários aspetos da forma mais artística que a gente puder,” diz Iveth.

Apesar do seu último trabalho de estúdio ter sido em 2010, Iveth foi lançando algumas músicas soltas e colaborando com outros artistas. A rapper acredita que o próximo álbum será um trabalho mais maduro, que projete a sua evolulção e o seu crescimento pessoal. “Tive a oportunidade de me tornar noutra Iveth. Mais madura, mais ciente de muitas questões. Uma coisa é falar de justiça ou de injustiça, uma coisa é falar de corrupção, falar de ser mulher em Moçambique, em África. Hoje, para além de falar de tudo isso, eu vivi e passei por tudo isso. Hoje falo com propriedade, não de alguém que está do outro lado e é observadora mas de alguém que para além de ser observadora, viveu, passou, percebeu estas questões todas como advogada, como esposa, como mãe, como cidadã, como docente, como tudo isto. Hoje, falo de violência doméstica porque defendo casos de violência doméstica. Falo de questões de corrupção porque, todos os dias, estou exposta a estas mesmas questões. Falo da beleza de ser mãe, dos desafios de ser mãe, dos problemas porque também sou. Então, se antes era observadora, hoje também sou parte da equação. Isso fez-me amadurecer bastante e trazer uma nova Iveth, mais crescida, mais madura, mas também pronta para a versatilidade. Uma opinião mais pessoal.”

No entanto, a artista acrescenta que gostaria de continuar a lançar música de forma mais constante: “Tenho que pisar mais palcos, trocar mais experiências, transmitir mais a mensagem do hip hop feminino nos PALOP e no mundo afora. E também ter colaborações com cantores dos PALOP e CPLP. Eu tenho muitas histórias. Muitas histórias. À semelhança do que aconteceu com a música “Amiga”. Foi um conjunto de histórias e todas elas são reais. E aconteceram. A vida de advocacia são muitas histórias. E eu quero contar estas histórias, artisticamente, respeitando a privacidade de cada um. Mas garantindo que as pessoas percebam o que acontece num determinado cenário e que possam reiterar daí algumas conclusões e aprendizados”.

No final da entrevista, a advogada ainda fez uma reflexão sobre a importância de cultivarmos a nossa cultura ”O hip hop não é nosso, é verdade. Oficialmente é dos outros e eu estou a cantar um estilo de música que não seja meu. Mas como tornar o hip hop, a música clássica ou outros estilos de música mais moçambicanos? Eu canto e a minha base é efetivamente moçambicana. É valorizar isso para o mundo perceber, para a nossa bandeira bilhar mais alto. Tenho tentando meter aspetos e ingredientes moçambicanos. Tou a falar de Moçambique, de locais de Moçambique, de línguas de Moçambique. Falar nessas línguas. O que é Khanimambo? O que é matapa? Todos esses ingredientes que vêm na música são identitários de Moçambique. E não só em termos de falas, mas também em termos de sons. Colocar alguns sons que são típicos de Moçambique”, sublinhou.

A artista informou que o próximo single sairá em breve, sem especificar a data, e que o lançamento do segundo álbum será entre os meses de agosto e setembro.

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