Mpilis Serviços, quando o trabalho doméstico é uma ferramenta de empoderamento e proteção contra o assédio

Satam Injai, de 37 anos e CEO da Mpilis Serviços, é empreendedora e administradora da Mpilis Serviços, uma empresa pioneira na prestação de serviços domésticos (limpeza, cozinha, babá, serviços de lavanderia, transformação e conservação de legumes e frutas). A 28 de agosto de 2020, foi distinguida com um certificado de reconhecimento pela agência nacional de empreendedorismo juvenil, pela sua contribuição com ações empreendedoras, criando inovações e impacto socioeconómico durante a pandemia de Covid-19.

Determinada a empreender para servir a comunidade e contribuir para o crescimento socioeconómico da Guiné-Bissau, Satam Injai partilhou com a BANTUMEN a sua história de vida e os desafios que enfrentou nos estudos até se tornar empreendedora, jornalista e professora. “Perdi o meu pai quando tinha nove anos. Vivia com a minha mãe e irmãos e precisávamos de muito esforço para ter o que comer. Temos um tio que nos matriculava e pagava as propinas na escola, também ajudava com um saco de arroz mensal, e o resto ficava por nossa conta. Como tínhamos duas arcas verticais, pedi à minha mãe para colocar água nelas, e fui vendê-la na antiga paragem da Volvo, com a ajuda dos meus irmãos, que me auxiliavam a carregar os garrafões. Trabalhei com orgulho como empregada doméstica e faxineira na cidade de Bissau…”, recorda-nos Injai.

Questionada sobre os desafios do empreendedorismo na Guiné-Bissau, Injai sublinha que não é fácil devido à falta de políticas adequadas e de incentivos para o setor. A ausência de um ambiente propício ao crescimento das pequenas e médias empresas, aliada à burocracia, ao difícil acesso a financiamento e à falta de formação específica para empreendedores, faz com que muitos negócios acabem por não se consolidar.

Além disso, Injai destaca um fator cultural que se torna um obstáculo adicional para quem decide empreender no país. "Quando alguém começa a empreender, a própria sociedade assume que tem dinheiro e começa a sobrecarregá-lo com pedidos e problemas. Se acabarmos por gastar o dinheiro da empresa nessas situações, ela nunca cresce”, explica. O que deveria ser um processo de construção e reinvestimento acaba, muitas vezes, por se tornar um ciclo de despesas não planejadas, dificultando a sustentabilidade do negócio.

Satam Injai | Foto DR

Esse fenómeno social reflete a forte cultura comunitária e de entreajuda existente na Guiné-Bissau, onde o sucesso individual é frequentemente visto como um recurso coletivo. No entanto, essa dinâmica pode ser prejudicial para pequenos empreendedores, que, em vez de reinvestirem no crescimento do negócio, veem-se pressionados a apoiar financeiramente amigos e familiares. Sem mecanismos de proteção e estratégias eficazes de gestão financeira, muitos negócios acabam por estagnar ou até falir antes de atingirem um patamar de estabilidade.

Para contornar essas dificuldades, Injai defende a necessidade de maior sensibilização sobre a importância de separar as finanças pessoais das empresariais e de criar uma cultura empreendedora mais sustentável. Além disso, reforça a urgência de políticas públicas que incentivem o crescimento de micro e pequenas empresas, facilitando o acesso a crédito, formação e apoios institucionais.

Injai destaca ainda a pandemia de Covid-19 como o período mais difícil para a Mpilis Serviços, que viu os seus planos de expansão travados. “Na altura, estávamos prestes a passar de um pequeno empreendimento para uma empresa consolidada, mas a Covid destruiu esse sonho”, lamenta.

Há cinco anos, a administradora da Mpilis Serviços sonha em transformar a empresa numa referência no setor e em proporcionar oportunidades a um maior número de mulheres, independentemente do seu nível social ou académico, para que possam alcançar independência financeira sem recorrer a favores obscuros de terceiros.

Além de ser uma fonte de rendimento, a Mpilis Serviços representa também um refúgio para muitas mulheres que enfrentam discriminação e assédio no trabalho doméstico. Num setor onde as trabalhadoras frequentemente são vulneráveis a abusos, a empresa surge como uma alternativa segura, garantindo um ambiente laboral protegido e respeitoso. Através da formalização dos serviços e da criação de condições dignas de trabalho, a Mpilis não só oferece emprego, mas também protege os direitos das mulheres, permitindo-lhes construir um futuro com autonomia e dignidade.

Fundada em março de 2016, a Mpilis Serviços está localizada no bairro da Ajuda, primeira fase, em Bissau. Atua num segmento ainda pouco explorado no país e emprega mais de 50 mulheres e jovens que procuram trabalhar honestamente para sustentar os seus estudos e os dos seus filhos. A empresa presta serviços domésticos de qualidade para residências privadas, instituições e empresas comerciais.