Ser, fazer e transformar, a revolução capilar da Nanura

April 7, 2025
Nanura beuty entrevista
📸: @joelfernandes.photography

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A história da Nanura, marca de produtos capilares criada pelas irmãs Nadine e Anethe Carvalho, é feita de amor, ancestralidade, propósito e resiliência. Com quatro anos de existência, a marca é comercializada online a partir do Reino Unido e começou recentemente a sua distribuição em Portugal. O nome, que significa “mulheres bonitas” na língua do povo Mankanya – grupo étnico da Guiné-Bissau – é um tributo às suas raízes, à força das mulheres da sua família e ao poder de escolha que a marca procura oferecer a outras mulheres negras espalhadas pelo mundo.


O empreendedorismo não surgiu por acaso. Foi herdado e vivido através das mulheres da família. “Não sei se percebemos a veia empreendedora quando mais novas, mas vimos bastante o exemplo. Por exemplo, na Guiné Bissau é bem comum essa veia empreendedora ou comerciante. Temos uma sociedade muito pequena, em que faltam meios, faltam infraestruturas. Portanto, o comércio pessoal - da pessoa para a pessoa - é muito comum. Sempre vimos a nossa mãe trazer coisas do exterior para vender: desde objetos pessoais a coisas para a casa", explicou Nadine.

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Agenda cultural

A vaidade e o cuidado com a estética sempre fizeram parte do ambiente familiar em que cresceram. A mãe, uma mulher vaidosa, apaixonada por malas, maquilhagem e cuidados capilares, foi uma referência constante. Numa consequência natural, desde cedo que Anette desenvolveu um gosto especial por fazer penteados, ainda que nunca o tenha feito de forma profissional. Esse espírito criativo e inovador, associado à procura constante por novas ideias e soluções ligadas à beleza, nasceu em casa e tornou-se numa influência determinante no percurso das irmãs.

As pessoas acham que precisam sacrificar a saúde para fazer penteados

Nadine Carvalho

A escolha do nome da marca foi pensada de forma estratégica e identitária. Mais do que criar um negócio, as fundadoras procuraram garantir que a marca refletisse a sua essência, cultura e ancestralidade. Era fundamental que a Guiné-Bissau, as suas raízes e valores estivessem presentes desde o primeiro momento. “A nossa cultura, a nossa ancestralidade, a nossa Guiné tinham de estar presentes. Fomos ensinadas a levar a bandeira da Guiné-Bissau connosco, onde quer que a gente vá.” A ideia do nome Nanura surgiu da mãe das irmãs, pertencente ao povo Mankanya. “É um nome bonito, mas significa muito, muito para nós”, afirmou Anethe.


A marca assume-se como promotora da liberdade estética e rejeita os padrões únicos de beleza. “Queremos aconchegar escolha, aconchegar liberdade. A mulher negra, ao explorar a estética ou a moda, não deixa de ser africana. A moda também é uma forma de expressão.” Essa liberdade está refletida nos produtos da marca. “Hoje sou cacheada, amanhã sou lisa, depois o que for. A Nanura dá muito essa dualidade. O nosso produto Edge Control - tipo de produto de cabelo formulado especificamente para alisar e modelar os baby hairs - , por exemplo, permite que a pessoa use o seu próprio cabelo e faça os seus penteados com confiança. Além da estética, a saúde capilar é um pilar fundamental para nós. A nossa preocupação, principalmente com o laboratório, é sempre esta: queremos produtos de qualidade, sim, mas também com elementos naturais. O nosso Edge Control tem óleo de rícino, óleo de jojoba, vitamina E e extrato de ananás. Não queremos apenas eliminar ingredientes nocivos, mas adicionar elementos que tragam bem-estar e saúde", explicou Anethe.

Sobre a criação deste produto em específico, Anette revelou a preocupação com a utilização de algo que fosse também ao encontro das suas próprias necessidades. “Era muito importante para mim, porque uso mais o meu cabelo natural e tenho pele sensível. Precisava de um produto sem álcool, não pegajoso, e que respeitasse a saúde do couro cabeludo.” Este é um tema sensível no universo dos cuidados capilares, não só pela infinidade de opções disponíveis no mercado, mas também porque grande parte dos produtos de fácil acesso é formulada com químicos que podem ser prejudiciais, tanto para a saúde do cabelo como para o bem-estar geral. Nadine acrescentou ainda que “as pessoas acham que precisam sacrificar a saúde para fazer penteados. Não é preciso. É possível ter tudo isso e confiar nos produtos.”


O desenvolvimento de cada produto da Nanura segue um processo rigoroso, iniciado com a procura de um parceiro laboratorial que reúna critérios específicos de qualidade, reputação e flexibilidade. As fundadoras da marca não se contentam com fórmulas genéricas e exigem personalização de acordo com as necessidades do seu público. Cada proposta é avaliada com atenção, e apenas após um processo minucioso de testes e ajustes é validada para produção.

“Esgotámos o stock em dois dia”

Anethe Carvalho

A última reformulação da marca coincidiu com uma forte aposta na divulgação digital, especialmente no TikTok. “Foi incrível. Quando mandamos os produtos às influencers e elas testaram ao vivo, foi compras e compras atrás de compras. Esgotámos o stock em dois dias”, contou Anethe, entre risos.


“É muito bom ver as clientes descreverem os produtos exatamente como nós pensamos neles. Dizem que dura o dia todo, que não é oleoso. Esse feedback catapultou as vendas e valida tudo o que fazemos”, acrescentou Nadine.


Apesar do crescimento consolidado no Reino Unido, Portugal mantém-se como uma base estratégica e, acima de tudo, emocional para Nadine e Anethe. O país representa um ponto de origem e um espaço onde sentem a necessidade de afirmar o seu projeto, como se completar o percurso fora só fizesse sentido quando também há impacto dentro de casa.


Ainda assim, a entrada no mercado português tem enfrentado alguns entraves. Um dos principais desafios está nos hábitos de consumo locais, onde ainda prevalece a preferência por compras físicas em detrimento das encomendas online. Essa resistência, aliada à necessidade de construir confiança na experiência digital, obriga a marca a adaptar a sua estratégia para o contexto nacional. "Comprar online ainda gera alguma desconfiança. Mas agora que temos stock em Portugal e oferecemos envio gratuito, acreditamos que será mais fácil quebrar essa barreira", explicaram.


Sobre possíveis desafios culturais e sistémicos, são uma realidade inegável para as empreendedoras negras num contexto europeu, mas as fundadoras da Nanura preferem focar-se nas soluções e no progresso. Reconhecem que existem barreiras impostas por preconceitos e estigmas sociais, mas optam por enfrentá-las com resiliência, estratégia e confiança no seu plano de negócio. Para elas, a determinação em seguir em frente é maior do que qualquer obstáculo imposto pelo sistema.


Ao longo de quatro anos, a Nanura registou um crescimento notável, tanto a nível empresarial como pessoal. O percurso permitiu às fundadoras amadurecerem enquanto empreendedoras, enfrentarem momentos de incerteza e consolidarem a confiança na qualidade do que oferecem. A ausência de um sucesso imediato revelou-se uma vantagem, proporcionando o tempo necessário para estruturar todos os pilares da marca, desde o design e identidade visual até ao cumprimento das exigências legais. Hoje, dominam todas as áreas do negócio com segurança e conhecimento aprofundado.


E se, para muitos, o desenvolvimento de um negócio em família pode ser prejudicial para a relação, neste caso, a cumplicidade entre as irmãs fortaleceu-se. “Se eu estiver doente, a Anethe pega na parte operacional e faz acontecer. E eu já me preocupo com números e estratégia. Aprendemos uma com a outra. Evoluímos", disse Nadine.


Quando questionadas sobre que sentimento querem proporcionar a quem compra os seus produtos, respondem prontamente: “Que as mulheres retirem destes produtos o poder de poder ser. Usar lace um dia, cabelo natural no outro, tranças no seguinte. Todos os produtos da Nanura adaptam-se a essas fases”. Além do sentido individual que procuram dar com a sua marca, há também um propósito coletivo. “Gostávamos que as jovens mulheres negras percebessem que é possível fazer a diferença. Mesmo estando fora de África, podemos transformar as nossas comunidades, aqui e lá. Podemos ser proprietárias, líderes e exemplos”, concluem.


No final desta entrevista, pedimos que escolhessem uma palavra para definir a marca. “Qualidade”, respondeu Nadine sem hesitar. “Era a minha também”, sorriu Anette, acrescentando depois: “Mas também é liberdade. A Nanura é livre. Nós somos livres de fazer e ser quem somos. E queremos que continue assim para sempre.”


Mais do que uma marca de produtos capilares, a Nanura é um manifesto de liberdade, identidade e ambição. Representa o poder de escolha, a valorização das raízes africanas e a força de mulheres que decidiram criar, liderar e inspirar. Com qualidade, consciência e uma visão clara, Nadine e Anethe Carvalho mostram que é possível transformar uma ideia nascida em casa num projeto global, capaz de impactar e empoderar comunidades dentro e fora do continente africano.

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