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Após as eleições gerais em Moçambique, que deram, alegadamente, larga vitória ao Partido Frelimo de Chapo, o clima que se configura na capital Maputo, é cinzento, tempestuoso e de alta tensão.
Os protestos perduram em larga escala e se vão alastrando em camadas de incógnitas, pelo povo que repudia nas ruas os resultados já anunciados pela CNE, em contramão ao que foi perspetivado no sonho popular. Frelimo 70% dos votos, e Mondlane, de pé atrás, com pouco mais de 20%.
O resultado são as varreduras das forças militares cada vez mais presentes nas ruas de Maputo, recorrendo a gás lacrimogéneo e a balas reais, na tentativa de dispersar o sonho dos manifestantes. Outro dos resultados, ora muito provável, porém, pouco ou nada adepto do jogo democrático, é a tímida presença da mídia local nos apontamentos dos factos como factos que, até ao momento, são.
Posto isto, o respaldo é muito próximo a um quotidiano catastrófico. E o grande culpado: Venâncio Mondlane!
Um candidato independente, que veio de uma espécie de sombra e que, na ribalta, fez valer o sonho moçambicano, por meio de uma agenda comum, de poucas amarras à figura do líder como nos acostumaram, e que, principalmente, nasceu de cara lavada sem a memória das confusões históricas e do fundamentalismo partidário.
Mondlane é engenheiro, artista, pastor de igreja evangélica, ex-comentador de televisão e rádio, político extra-partidário e populista por excelência. Com o seu carisma, Mondlane tocou o coração de jovens e adultos fartos de lhes roubarem o futuro. Esta massa populacional uniu-se em prol de um único farol, e cegamente prescreveu uma carta de alforria. Na carta, consta a desapropriação do sim, o desmatamento do binômio de há 50 anos, a união das classes, e a revolução como prioridade na agenda de quem deixou de cruzar os braços.
Outros ainda cruzam. Sentam-se à mesa, reunidos, e simplesmente cruzam. Como o caso da SADC, que veio a público felicitar já a Renamo e seu ilustre desconhecido Daniel Chapo, pela retumbante vitória e pelas graças da jovem democracia, que uma vez mais, venceu.
Parecerá presunçoso, mas a dita carta de alforria, em cujo desígnio consta a revolução em foco e prontidão, não parece uma agenda, de todo, nossa, coletiva e africana. A União Europeia, por exemplo, limpou as mãos e limpou-se das barbáries ao testemunhar grotesco exagero na manipulação, no enchimento forçado de urnas, segundo consta, e nos subornos habituais aos delegados de lista. A mídia internacional, por outro lado, condena as balas reais e a coercibilidade no geral que se tem propalado um pouco por Moçambique inteiro. Enquanto que nós… nós escolhemos assistir indiferentes ao espetáculo que reúne bravura e civismo, em afronta ao anti-democrático. Portanto, se isto não for por todos, ao menos que seja por Moçambique!
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