Quem quer comprar Angola e porquê?

December 15, 2024
Quem quer comprar Angola e porquê?

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Dois anos após a grande promessa de visitar África no US-African Leaders Summit, o presidente norte-americano Joe Biden finalmente visitou Angola e as suas zonas de interesse, de 2 a 4 de dezembro. Como foi constantemente mencionado, o objetivo da visita recaiu sobre o famoso Corredor do Lobito. O projeto ambicioso, avaliado em mais de 1 bilhão de dólares, anunciado durante a conferência do G20 em setembro de 2023, visa expandir a linha ferroviária entre a cidade portuária de Lobito e os mercados-chave da República Democrática do Congo e da Zâmbia, facilitando o transporte de mercadorias e a movimentação de recursos minerais.


Para além de interromper o curso normal das atividades diárias dos angolanos, esta visita refletiu também a falta de informação que a maioria dos cidadãos angolanos possui sobre a posição diplomática de Angola no xadrez da geopolítica internacional, que é, por certo, uma das posições mais estratégicas no continente africano.


A relação entre Angola e os Estados Unidos não é novidade para ninguém que conheça a história do país, e remete ao tempo da Guerra Fria e da Guerra Civil em Angola, onde os Estados Unidos apoiavam a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), com o objetivo de contrapor o avanço soviético, enquanto a URSS apoiava o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). Assim como tudo, em relações internacionais os interesses nunca são constantes e, desde então, o foco da diplomacia estadunidense para África foi se alterando e demonstrando por meio de várias iniciativas. Mas o objetivo final, escrito nas entrelinhas, segue sendo o domínio do mercado económico africano, uma "não tão nova" estratégia imperialista.


Ironicamente, a visita tardia de Biden faz parte da urgente necessidade dos EUA marcarem território em África, sendo que, na última década, o seu poder sobre o continente foi perdido para a China, que durante esse tempo promoveu uma assídua "conquista" de países africanos com a iniciativa Belts and Roads, que passou a ser conhecida como uma "armadilha de dívidas". Além do avanço da presença chinesa no continente, o enfraquecimento da presença militar dos EUA em África, com a perda de uma importante base militar no Níger e a expulsão do seu exército no Chade, é também um fator que contribuiu para esta urgente iniciativa.


Mas, porquê Angola e porquê agora?


Entre as várias motivações que podem justificar esta visita diplomática, que desde 2017 fez parte dos objetivos principais da governação do presidente João Lourenço, uma delas seria o facto de que Angola é o quarto maior parceiro comercial dos Estados Unidos em África e se encontra numa localização geográfica perfeita para exploração de cobalto, cobre e lítio, minerais que têm sido a causa do conflito militar entre a República Democrática do Congo (RDC) e o Ruanda, e que também contribuem para o avanço tecnológico ocidental.


Olhar para este tabuleiro geopolítico global com maior profundidade é suficiente para observar o envolvimento de outros atores, como os países do G7 e Portugal, que, devido aos laços coloniais com Angola, têm sido um facilitador crucial nesse processo através da empresa Trafigura, atuando muitas vezes como consultora intermediária para os interesses que existem entre estes dois países.


Por mais que a história constitua um passado não tão distante, a mesma dá-nos motivos suficientes para olhar para iniciativas como esta com um certo ceticismo. Será que esses países têm realmente interesse em ajudar Angola a alcançar um desenvolvimento sustentável, ou buscam apenas exploração barata para o seu auto-desenvolvimento?


A realidade é que, por trás das boas intenções e das promessas de investimentos, o que predomina são os interesses estratégicos. O país possui um enorme potencial económico ainda subentendido em recursos naturais, e acaba por ocupar, com o tempo, uma posição cada vez mais estratégica na geopolítica africana e global.


No entanto, a questão permanece: até que ponto Angola conseguirá transformar essa relação em benefícios económicos reais para a sua população, ou se encontrará, mais uma vez, presa no jogo de interesses globais que a levará a servir apenas outro explorador?


O futuro desta relação a estes líderes pertence e, para os angolanos, convém principalmente ao seu governo tomar decisões inteligentes e estratégicas que salvaguardem o futuro do povo.


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