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Roger Cipó é uma das 100 personalidades negras mais influentes da lusofonia, mas a sua notoriedade está longe de ser o ponto de partida desta história. Nascido num ambiente onde as oportunidades eram escassas, Cipó encontrou na capoeira, na fotografia e no ativismo social as ferramentas para transformar a sua realidade e a de quem o rodeia. “Filho de Cleuza, irmão da Janaína, da Jaqueline, do Rodrigo e do Rian e tio de uma galera”, cresceu numa família numerosa e entende que esse fato chega antes do empreendedor, fotógrafo e empresário. Para Roger, é impossível dissociar a pessoa que é hoje do lugar de onde veio e sublinha que foi nas relações com os seus que começou a compreender o mundo e o seu lugar nele.
O nome “Cipó” foi-lhe atribuído na capoeira, a sua primeira escola de vida. Aos 14 anos, já desempenhava o papel de professor, assumindo uma responsabilidade pouco comum para a sua idade. Foi também na capoeira que experimentou, pela primeira vez, a dinâmica de liderar uma comunidade e contribuir para a sua coesão. Este foi o início de um caminho que viria a consolidar o seu compromisso com causas sociais e culturais, em particular as ligadas às tradições afro-brasileiras.
Roger Cipó | 📸 BANTUMEN
Formado em fotografia, Cipó começou por documentar o universo dos terreiros de candomblé no Brasil. O contacto com as religiões afro-brasileiras foi também o ponto de partida para a criação do seu blogue, O Olhar de um Cipó, em 2011. Esta plataforma tornou-se um espaço onde imagem, texto e luta pela valorização de práticas culturais, muitas vezes, marginalizadas convergiam. As suas fotografias destacaram-se não apenas pela qualidade técnica, mas por serem um instrumento político no combate às violências sofridas pelas comunidades de terreiro.
"Não sou o antropólogo branco francês que vem estudar a mística destas experiências. Eu documento estas práticas de dentro, como alguém que as vive", afirma. Este posicionamento levou-o a ser reconhecido como uma referência no movimento negro brasileiro, sobretudo na luta pela valorização das religiões afro-brasileiras, frequentemente marginalizadas e alvo de discriminação. Cipó entende o seu papel como mais do que o de um fotógrafo ou comunicador: "A minha contribuição para o movimento negro foi a fotografia, mas era mais do que isso. Era um esforço para dar visibilidade a práticas culturais que enfrentam violências estruturais."
Para além da fotografia, Roger Cipó consolidou-se como comunicador e activista. Desde cedo, esteve envolvido em movimentos sociais, participou em marchas na Avenida Paulista e foi uma voz ativa na colocação de questões centrais para a população negra brasileira. Com o tempo, o alcance da sua voz ultrapassou as fronteiras do Brasil, permitindo-lhe conectar-se a comunidades de língua portuguesa noutros países, incluindo Portugal, onde tem construído novas ligações.
"Levar estas discussões para fora do Brasil é uma forma de expandir a rede de diálogos sobre a negritude e os desafios das comunidades marginalizadas", afirma. Hoje, Cipó não apenas regista histórias: ele conta-as. O ativista utiliza as redes sociais e os espaços que ocupa para amplificar vozes silenciadas, defender direitos e questionar estruturas de poder.
“Não sou o antropólogo branco francês que vem estudar a mística destas experiências. Eu documento estas práticas de dentro, como alguém que as vive”
Roger Cipó
Com estreia marcada para 12 de março, a primeira temporada internacional do seu podcast "Todo Dia História Negra" apresenta trajetórias de Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Além do seu cada vez maior alcance além do Brasil, Cipó identifica que a escolha de conversar com personalidades dos PALOP se deu pela forma como o idioma e cultura conectam e aproximam estas comunidades africanas ao seu país. Carla Adão (Angola), primeira mulher negra a dirigir um canal de TV em Portugal, a RTP África; a influenciadora Nilsa Carona (Moçambique), o apresentador de TV Wilds Gomes (São Tomé e Príncipe), a apresentadora e atriz, Nádia Silva (Angola), os irmãos Rudolphe e Fernando Cabral (Guiné Bissau), o jornalista e fundador da BANTUMEN Eddie Pipocas (Angola) e a jornalista e produtora cultural Amina Bawa (Brasil) são algumas das histórias que o podcast vai revelar.
Apesar da visibilidade, o produtor e empresário não perde a conexão com as suas origens e destaca a importância da humanidade no seu percurso: "Antes de ser uma figura pública, sou uma pessoa. Preciso de espaço para errar, aprender e contribuir para um mundo mais justo."
É no equilíbrio entre errar e aprender que demonstra como o ativismo, a arte e a comunicação podem caminhar juntos na construção de uma visão plural e multidisciplinar da sociedade. Mas mais importante do que a forma como interliga os três mundos, é a necessidade e o compromisso que assume consigo próprio de não perder o vínculo com as origens. Para o “filho da [Dona] Cleuza”, "é mais importante regressar ao Brasil com mais repertório e contribuir para esta rede de trocas globais", remata.
Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.
Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para redacao@bantumen.com.
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