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Dar é receber e a startup Do To Give prova isso

November 8, 2022
Dar é receber e a startup Do To Give prova isso

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Laurentino Costa, 30 anos, natural de Lisboa, faz parte do leque de jovens afrodescendentes que encara a sua existência na terra como uma missão. O veículo para a levar a cabo é a tecnologia, a menina dos seus olhos.

Ciente de que não basta sonhar para fazer acontecer, Tino, como é conhecido entre os mais chegados, passou para o papel as ideias que tinha na mente, dando-lhes forma, nome e endereço. Um projeto, de si, embrionário mas que por estes dias já conheceu a luz do dia, aquando da última edição da Web Summit em Lisboa, uma das maiores feiras tecnológicas do mundo. Que é pouco comum relacionarmos nomes de pessoas negras a este tipo de universo, já sabemos e foi precisamente nesse sentido, que nos sentámos à conversa com o Tino (responsável pela ideia) para conhecer mais de perto o projeto Do to Give.

Além de tudo, este é o projeto em que este empreendedor aposta como forma de garantir que os seus três filhos têm um futuro assegurado, que os seus pais tenham as condições de vida que merecem e que, por fim abra e sedimente caminho para que a comunidade tenha e seja referência no mundo da inteligência artificial.

Tino, porquê uma startup no quesito “mudar o mundo”?

O mundo precisa de ações rápidas e imediatas para fazer face aos problemas que têm vindo a assolar imensas famílias e crianças – mas sabemos que isso envolve um investimento enorme e um certo risco de todos os stakeholders. Assim, tivemos de identificar um único problema, capaz de atingir outros problemas adjacentes. Então, acreditamos que a nossa solução fará com que pessoas e entidades adotem, sem qualquer esforço ou custo adicional, uma rotina mais solidária e sustentável aliada aos hábitos que estes já trazem. Contamos com a tecnologia para alcançar este objetivo pois é uma poderosa ferramenta e tornou-se tão necessária na vida das pessoas que, se for bem utilizada, seremos capazes de mudar positivamente o rumo das coisas encontrando assim o equilibro tão necessário quanto urgente.

Que propósito tem a Do To Give?

O nosso propósito é simples. Criar alternativas práticas e imediatas de apoio às mais diversas causas sociais e ambientais. Basicamente fazer com que todos os utilizadores se tornem num exemplo a seguir com as atividades do seu quotidiano em que, ao mesmo tempo que vivem, acabam por ajudar a causa com que mais se identificam.

Porquê agora?

Esta ideia surgiu durante a pandemia, numa fase em que pude sentir na pele o que muitas famílias passam há anos. Dificuldade em obter alimentos e as Organizações Sem Fins Lucrativos já não tinham capacidade de resposta a tantos pedidos de apoio que iam surgindo. E, atualmente, com a guerra e dificuldades ambientais (secas, catástrofes…) estes pedidos irão aumentar drasticamente. Vimos que as pessoas até estavam dispostas a ajudar mas, no meio da incerteza e da instabilidade, torna-se complicado para elas tomarem essa decisão. Então pensei com a restante equipa como fazer com que as pessoas ajudassem mais estas instituições de uma forma fácil, sem custos adicionais e, acima de tudo, que tivessem sempre a par do que é feito com o seu contributo. Dessa questão surge a Do to Give, uma app de impacto social que, nesta primeira versão, permite aos utilizadores doar o seu cashback através de uma compra que estes façam no seu dia-a-dia, à causa com que melhor se identifiquem.

É uma ideia individual ou de grupo?

Partiu de uma ideia individual, mas não teria tanta força se não fosse pela ajuda da minha mulher e de companheiros que me têm vindo a acompanhar neste processo de construção.

O trabalho de um engenheiro tecnológico requer um mood de solidão ou de socialização no processo criativo?

De ambas as partes. Diria que no princípio precisamos de nos fechar num casulo para assimilar tudo aquilo que é necessário para criar algo do zero. Eu, particularmente, encontro essa paz durante as madrugadas em que falo e discuto comigo mesmo até alinhar as ideias. Mas depois, procuro sempre validar o esboço com as pessoas que me rodeiam para moldar algo à medida das reais necessidades.

O que é que queres que a tua startup tenha de diferencial das já existentes, para que se destaque e tenha procura?

Para além de ter funcionalidades que satisfaçam as reais necessidades dos utilizadores, todas as aplicações que desenvolvo tendem a ser aplicações que enalteçam o lado humano das coisas – em suma, fazer com que os utilizadores realmente vivam mais e criem experiências no mundo real com a ajuda da minha tecnologia.

Pelo caminho, têm sido maiores os desafios do ponto de vista de recursos ou de ideias?

Não é muito fácil criar uma startup quando os recursos são limitados e tens três filhos e despesas altas. Mas, sinceramente, o maior desafio que tive foi delinear uma ideia que fosse simples para um problema tão complexo como este.

Há algum nome no mundo tecnológico ou noutra esfera de atuação,+ que te tenha inspirado para deitares “mãos à obra”?

Existem alguns nomes sim, Steve Jobs, Jay Z, Nina Silva (MBM), Tony Effik (Google) são os nomes em que me procuro inspirar. Mas eu tenho em mim, uma ambição de necessidades: necessidade urgente de ajudar os meus pais, necessidade urgente de deixar condições melhores para os meus filhos e por fim a necessidade urgente de ser mais um afrodescendente influente e com sucesso, aumentando assim a nossa visibilidade no ramo das tecnologias e do business.

Em que fase se encontra o projeto e quando iremos ter acesso ao resultado final?

Estamos na fase de implementação e testes, com a nossa primeira versão quase concluída. Mas diria que no início do próximo ano terão um convite especial para o lançamento oficial.

O universo tecnológico é de uma dimensão imensurável. Como é que um autodidata como tu garante que trás para o mercado um produto de excelência?

Fui obrigado a tornar-me num autodidata, pois não consegui concluir a licenciatura. Então tive de aprender sozinho nas mais diversas áreas, o que foi bom, pois acabei por adquirir uma versão mais ampla do que seria suposto na agenda académica. Estou convicto de que a minha solução é viável e de alta qualidade no que toca à experiência de utilização, porque nesta experiência adquiri uma aptidão especial – saber ouvir. Basicamente agarrei em todas as “dores” que as pessoas sentiam e diziam, em todos os artigos que os media têm escrito e em tudo o que as instituições e marcas têm vindo a fazer para resolver este problema. Juntei tudo isso utilizando Web3 e Data Science.

Sentes que te faz falta maior bagagem académica/científica?

Sim, sem dúvida. Teria uma orientação para manter numa linha de aprendizagem e não me iria sentir tão perdido, mas também sinto que precisava desta interrupção para me obrigar a ir atrás do conhecimento. Algo mais vasto e abrangente.

Pensas retomar os estudos?

Sim, esse é um dos meus objectivos a curto prazo. Fiquei a meio do terceiro ano em Informática de Gestão. Tendo isso, pretendo ainda especializar-me em Data Science e aprofundar os meus conhecimentos em Programação (Back-end).

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