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MIA 2024

Tremor: Rabo de Peixe não é a série da Netflix

March 25, 2024
Tremor: Rabo de Peixe não é a série da Netflix

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O festival Tremor celebrou o seu 11.º aniversário nesta edição de 2024. Mais de uma década de existência marcada pelo sucesso, mas sobretudo por um compromisso contínuo com a diversidade, inclusão e inovação cultural. Em entrevista à BANTUMEN, Márcio Laranjeira, um dos membros da organização, partilhara a sua visão e os desafios enfrentados ao longo deste percurso.

Desde a sua estreia, o Tremor tem sido um ponto de encontro para os amantes de música e de arte, mas também um espaço para a reflexão sobre temas fundamentais como a diversidade, cooperação e respeito mútuo. Segundo os organizadores, o festival não é apenas um evento, mas sim um lugar de responsabilidade, onde se promove ativamente a convivência entre diferentes culturas e perspetivas. “Nós acreditamos que o Tremor deve ser um reflexo da diversidade que existe não só na ilha, mas também no mundo”, afirmou. “Acho que já não é algo que deve ser visto apenas como uma vontade. Acho que tem que ser uma coisa factual e que deve ser abrangente a todos os eventos. A nossa missão também acaba por ser um bocadinho essa, tentamos criar um lugar onde as pessoas se sintam bem, onde as pessoas sintam que é delas, independentemente do que são, como são, em que lugar da vida é que estão. E ao longo destes dez anos de história, começamos em 2014, tudo mudou muito, o festival mudou imenso, a ilha mudou imenso, nós também mudamos imenso. Há coisas fundamentais que se mantêm, mas a forma como fazemos as coisas mudou. Acho que a palavra diversidade para nós é mesmo muito importante e diversidade de tudo. A ilha é diversa, os lugares que nós escolhemos são diversos, o público é diverso, os artistas são diversos.”

Ao longo dos anos, o festival passou por diversas transformações, mas manteve-se fiel ao seu compromisso: dinamizar a ilha de São Miguel com um festival que mescla diferentes artes e com tanta ou mais qualidade do que se faz noutras geografias. A organização destaca a importância de desconstruir ideias preconcebidas e de desafiar constantemente as suas próprias perceções, mesmo dentro da equipa de programação. “O nosso trabalho não se resume a escolher artistas e enviar convites”, explicou. “É um processo de reflexão e de questionamento constante. Queremos manter o nosso entusiasmo e continuar a evoluir a cada edição.”

Além disso, o Tremor tem um forte envolvimento com a comunidade local, estabelecendo parcerias com diversas estruturas e associações da ilha. Esta ligação estreita permite ao festival não só contribuir para o desenvolvimento cultural da região, mas também para desafiar estigmas e preconceitos, sobretudo em relação à comunidade de Rabo de Peixe. A vida daquela comunidade está muito além do ilustrado na série homónima da Netflix. “Aquilo foi uma história que aconteceu uma vez. As pessoas são super afetuosas, têm uma capacidade de receber que é extraordinária, e estão fartas que caiam num estigma em relação a elas. Como a ideia preconcebida sobre ser um bairro pobre, sobre ter uma ligação à droga. Isso foi uma história como há histórias em todos os lugares”. Atualmente, embora o Tremor tenha uma grande adesão de um público estrangeiro, inicialmente, o festival foi criado para a população nativa. “Este festival nasceu para quem vive cá. Antes, nas duas primeiras edições do Tremor, era caríssimo voar para aqui. Não existia sequer uma ideia de turismo, ou seja, o festival nasceu sem uma ideia de que vinham pessoas de fora sequer. Nasceu, tipo, isto é algo, para quem vive cá, para quem está cá o ano inteiro”, afirmou Márcio Laranjeira.

Apesar do reconhecimento internacional ser bem-vindo, “não queremos perder a nossa essência. Queremos que o festival continue a ser uma experiência única, onde as pessoas se sintam verdadeiramente parte da comunidade”, argumenta. Essa intenção desenvolve-se em várias ações, como por exemplo o espetáculo de Sam The Kid e a Escola de Música de Rabo de Peixe, com a participação de MCs locais e que deu a conhecer o repertório do hip hop açoriano; um workshop do coletivo do Reino Unido All Hands on Deck com mulheres, trans e pessoas não-binárias da ilha; um arraial regado de boa culinária tradicional em Rabo de Peixe; uma exposição de arte Bonecreira e presépios de Lapinha, entre outras atividades.

Quanto ao futuro, os organizadores do Tremor estão abertos a novas possibilidades, mas mantêm-se fiéis à sua visão original. Embora reconheçam as oportunidades de expansão para outros locais, enfatizam que a essência do festival está profundamente enraizada na ilha de São Miguel e que seria difícil replicá-la noutras regiões. “O Tremor é único porque está enraizado no seu território e na sua comunidade”, sublinhou Larangeira. “Queremos manter essa ligação especial e continuar a criar experiências memoráveis para todos os que participam no festival”, acrescentou.

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