Em parceria com a Galeria Municipal do Porto (Portugal), a artista e DJ Lola Rodrigues, também conhecida como SoundPreta, deu a conhecer o percurso Exodus, que mostra alguns espaços multiculturais na Invicta. Em conversa com a BANTUMEN, Lola fala da importância da presença e representatividade negra no cenário artístico.
Lola Rodrigues é natural da cidade de Curitiba, no Brasil. Formada em Jornalismo, decidiu mudar-se para Portugal com o propósito de iniciar o mestrado em Curadoria, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, em 2017. Consciente da falta de representatividade e diversidade nos espaços e núcleos culturais da cidade decidiu, em 2019, criar o projeto SoundPreta (@sound.preta). Embora, atualmente, Lola seja a única integrante, o projeto era inicialmente composto por mais duas mulheres.
“A ideia inicial era essa junção criar esse bloco para ter mais força e mostrar que a gente também está aí, que a gente está no Porto e que a questão de a gente não ver não significa que as pessoas não estejam aí. Além da visibilidade, falta de oportunidade. São sempre as mesmas pessoas, as mesmas coisas. Então acho que é mais nesse sentido. Incentivar outras pessoas negras a aparecer e tocar também. E colocar a cara para ver o que acontece”, conta-nos.
A convite da Galeria Municipal do Porto, Lola criou um trajeto pelo Porto que percorre espaços geridos por artistas, imigrantes e comunidade lgbtq+. O Atravessa Ateliê (@atravessa_atelie), restaurante da Filó e o espaço Jubilant Relax (@jubilantrelax) são alguns dos espaços do percurso. A DJ explica-nos que “o Exodus dá a conhecer o tecido artístico local do Porto, através de visitas guiadas a galerias, espaços de exposição e estúdios de artistas. Direcionado a turmas do ensino secundário e superior, integra uma sessão de contextualização na escola e um percurso orientado por artistas, críticos de arte, galeristas e curadores”.
“Esse tipo de política que (o espaço) não precisa necessariamente existir da dependência do Estado ou de outras políticas privadas, as pessoas conseguem se organizar dentro da própria comunidade e gerir/fazer esses espaços. Então, a escolha foi neste aspeto. Espaços de resistência em algum aspecto, porque é difícil as pessoas imigrantes, da diáspora, conseguirem ter espaço físico de trabalho. Ainda mais para trabalhar com arte,” diz Lola.
O Jubilant Relax, localizado no bairro do Bonfim da cidade do Porto, além de bar, é um sítio versátil que abriga vários eventos artísticos, desde exposições, feiras, oficinas, concertos e muito mais. “O Jubilant é um espaço multicultural onde acontecem várias atividades. Está ali o pessoal do graffiti, o pessoal da música, o pessoal das artes visuais, o pessoal do rap. O pessoal lgbtq+ e a galera brasileira também se sentem em casa. É um espaço de acolhimento para várias pessoas de diferentes comunidades e muito plural culturalmente, propõe diferentes atividades “, completa Lola Rodrigues.
Numa cidade onde é raro ver DJs mulheres, negras, imigrantes e lgbtq+, Lola trouxe o SoundPreta, cujo nome traduz-se para “Som Preto”. O seu set é conhecido pelos sons urbanos desde o rap, baile funk e de muitas batidas de referência negra.
Hoje em dia, Lola reside em Lisboa, capital do país, onde diz estar presente com maior representatividade. “A diferença que sinto ao viver aqui, que acho que também foi um dos motivos de querer vir para cá, é a representatividade e a presença das pessoas na movimentação cultural da cidade. Acho que é muito mais forte essa representatividade tanto da comunidade negra como da comunidade lgbtq+ e da diáspora. É mais presente”, admite Rodrigues.
Embora, cada vez mais, note-se um crescimento na diversidade de eventos culturais na cidade do Porto ainda é visível uma desigualdade nas oportunidades artísticas e falta de espaços de “reunião” da comunidade negra na cidade.
“Não sei se é uma questão da quantidade de pessoas mas, o que percebi quando estava aí, é que eram sempre as mesmas pessoas e os mesmos grupos que chamavam uns aos outros e que já se conheciam há um tempo. Então, as pessoas da diáspora, as pessoas lgbtq+ têm que formar as próprias comunidades e não conseguem se inserir nesse circuito, então tem que criar o próprio circuito. Percebi aqui a maior representatividade de pessoas negras nos espaços culturais enquanto agentes da arte. E uma mistura muito maior entre os diferentes núcleos,” completa Lola.
Para saber mais sobre o percurso Exodus com Lola Rodrigues, podes aceder aqui.
Darcielle Manjate da Costa
Moçambicana. Licenciada em Ciências da Comunicação e mestre em Gestão de Indústrias Criativas. Cheia de sonhos e entusiasmada por novos desafios profissionais. Amante de música, gosto por arte, rodeada de cultura e interessada em discussões sobre igualdade, género e orientações sexuais. Motivada em partilhar o trabalho da comunidade afro-descendente pelo mundo afora.