No mundo literário principalmente direcionado aos mais jovens, incluído as crianças, existe uma ausência de livros que se aproximem da sua realidade ou representam a sua identidade enquanto africanos ou descendentes. Poucos ou nenhuns são os livros com heróis e heroínas negros.
Paula Cardoso, com quem já falámos aqui, como convidada do 23.º episódio do #BANTUMENPodcasts, quer mudar essa realidade. Na altura, falámos acerca da necessidade de Paula descobrir e despertar a sua própria identidade. Nessa procura, acabou por criar o Afrolink, uma rede de partilha entre os profissionais dentro da comunidade negra em Portugal.
Desde então, Paula tem vindo a desenvolver uma série de contos infantis intitulada “Força Africana”, que promove o empoderamento de crianças afrodescendentes.
“Esta é uma história com a qual eu sonhei toda a minha infância: uma aventura protagonizada por heróis e heroínas que se parecessem comigo. Fosse na textura do cabelo, no tom da pele ou nas feições. Mas todos os livros que lia acabavam por criar em mim a convicção de que eu não tinha lugar no mundo dos superpoderes. E, quanto mais páginas eu folheava, mais evidente se tornava o meu “não lugar”. Afinal, como pertencer quando essa pertença é excluída da narrativa?”, explicou Paula relativamente aos contos.
Paula foi percebendo que, à medida que ia crescendo, essa invisibilidade transferiu-se dos livros para os cargos de liderança e influência, para a televisão, o cinema e tantas outras áreas deficitárias de diversidade, “fenómeno que hoje considero ser indissociável dessa ausência e esvaziamento precoce do direito ao sonho.“
Então, a jornalista e comunicadora não esperou que alguém lhe abrisse uma porta ou lhe desse uma oportunidade. Paula tomou a decisão de criar ela próprias histórias de meninos e meninas, que podem ser tudo o que quiserem, independente do tom das suas peles.

“Para além da construção de personagens com os quais as crianças negras se podem identificar – favorecendo a sua autoestima e sentimento de integração -, a coleção, que aqui se inaugura, permite que todas as crianças incluam no seu imaginário heróis e heroínas étnica e racialmente diferentes, desencorajando atitudes de superioridade de uns sobre os outros”, acrescentou.
A “Força Africana” é mais do que uma apresentação de fenótipos “invariavelmente excluídos da narrativa, como a pele escura ou o cabelo afro”. É uma introdução de traços que valorizam a cultura de África, através da partilha de informações positivas sobre o “continente berço” da Humanidade.
Destaque para as referências a Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, os países de origem dos cinco personagens principais da Força Africana, que são Nzinga, Crioulo, Bijagós, Macua e Cacau.
O primeiro livro da Força Africana, que tem por título O Sol desapareceu. Será que foi roubado?, está escrito, ilustrado e paginado, foi um percurso realizado de forma independente ao longo dos últimos meses. Para que as crianças e não só possam ter a versão imprensa do mesmo, falta apenas avançar com a publicação dos primeiros exemplares, processo que será efetuado através de uma pequena editora, a Nimba Edições.
Para tal, está a ser feita uma campanha para ajudar a cobrir os custos de impressão. Paula pede a participação de todos, porque “é fundamental para concluir esta história, e trazer mais diversidade às leituras das nossas crianças“.
Ao clicares abaixo podes contribuir com o valor que puderes, e podes ainda aproveitar a oportunidade de adquirir o livro a um preço promocional e desfrutares das recompensas.