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Ga DaLomba: “Um craque é feito de habilidade, um líder é feito de mentalidade”

No registo civil é Clovis Graziani da Lomba mas no mundo artístico é Ga DaLomba. Nasceu da década de 80, poucos anos após a independência, numa altura em que Cabo Verde era regido pelo sistema do partido único, rumo à democracia. Sem querer, DaLomba nasceu revolucionário.

Muito do que canta e escreve são críticas sociais e é visto como um rapper ativista. Para ele é importante falar de causas, mas não gosta de rótulos e nem quer que esses o definam. Diz ser um espírito africano e um cidadão que entendeu que não deve esperar pelo governo para fazer com que algo aconteça.

A música apareceu na sua vida como uma chamada, como algo omnipresente e numa extensão do seu ser. O primeiro contato que teve com o Hip Hop, nomeadamente o norte-americano, foi através de um irmão, Nuno. Deu-lhe a conhecer All Eyez On Me – quarto álbum de estúdio do rapper 2Pac – ainda em cassete, em 1995. Ga era uma criança. “Na altura não percebia nada, era guiado pelo flow. Na mesma altura também já existiam alguns grupos de Hip Hop em Cabo Verde como Bairro Norte, Ice Company, 3 Nobo”, entre outros, explicou-nos o rapper.

Em tenra idade trocava os desenhos pela escrita. O seus cadernos estavam cheios de letras, apontamentos e pensamentos e na rua já fazia freestyle com os amigos. Ga DaLomba cresceu com a mãe, filho de pai emigrante. Sobre a infância, diz ter sido feliz, embora “solitária, por ser filho único”, admite. Contudo, primos e amigos não lhe faltavam, o que de alguma forma ajudou-o a preencher esse vazio. Isso acabou por ditar muito a forma como escreve, inspira e como age na vida.

Passou uma temporada nos Estados Unidos, onde conseguiu ver de outra forma a música e aprender com ela, num país completamente diferente do seu. Voltou a Cabo-Verde e tudo o que o influenciou, aplicou na sua terra natal.

Questionado sobre o que mais o influenciou, respondeu: “Qualquer coisa influência o indivíduo, nós somos frutos de um meio, seria muito injusto dizer que qualquer coisa que passou na minha vida não me tenha influenciado. A minha mãe sendo mãe e o pai que ele não conseguiu ser, teve muita influência em mim, a emigração do meu pai, a procura da figura paterna nas ruas, teve influência, tudo o que me circundou, a forma que os meus avós me tratavam, a rua…”.

A cada fase da sua vida, com o passar dos anos, consegue perceber as mudanças e alterações das suas composições, que fazem parte das várias mutações que vai sofrendo e que depois são refletidas em música. Para não limitar a criação da sua arte, o autoconhecimento que tem sobre si, sabe os seus limites, conhece bem o seu calcanhar de Aquiles. “Consigo ver-me sem filtros, o que às vezes a sociedade não vê”.

É auto-crítico e recebe de bom agrado as críticas dos outros acerca do seu trabalho e também da vida. Uma qualidade que adquiriu com as várias experiências e vivências ao longo do tempo.

Desde 2016 que lança músicas e tem apostado na sua carreira. Já conta com duas mixtapes e um álbum. O singleMama Perduam”, com Ellah Barbosa, foi na altura nomeado na categoria de melhor Hip Hop no Cabo Verde Music Awards (CVMA), em 2019 venceu a Menção Honrosa e no ano seguinte venceu na categoria de Melhor Hip Hop com a música “Anju da Guarda” com a participação de Grace Évora e Melhor Colaboração com a participação de Kuumba. 

As suas músicas, além do carácter social, são sentimentais, com uma mensagem muito clara sobre amor. Ter sido criado por mulheres, fê-lo conhecer e abraçar sem medos o seu lado mais sensível, que faz questão de expressar nas suas músicas. Como resultado, lançou recentemente o singleOmi Tambe Ta Txora” (o homem também chora, traduzido para português), com Gil Semedo, onde permitiu-se ser mais vulnerável, chorar e mostrar as suas dores e fraquezas. Ga não quer ser o homem comum, o que a sociedade vê apenas como aquele que tem de suportar tudo sozinho e ser forte. “Quero tirar a máscara robótica do homem”, embora tenha as suas preferências e exigências, a sua escrita é assim, sem limites, sobre o que vê, sente, e sem se limitar.

Ga DaLomba, durante 15 anos, consumiu drogas, algo que assume publicamente, e há mais de sete que está limpo. É caminho desbravado diariamente e em que não pensa no que pode acontecer no futuro. Pensa no hoje e que é um momento em que não vai consumir. É um processo difícil mas assegura que se consegue com muita garra, resistência, resiliência. “Também passei por momentos difíceis na minha vida devido ao consumo de drogas, que nunca escondi, e tem sido uma batalha diária superar, com muito esforço e tratamento. Hoje vivo em recuperação numa luta que é continua, é um nascer de novo, é acreditar e correr atrás”, porque “um craque é feito de habilidade, um líder é feito de mentalidade”.

E nessa necessidade de liderar, entre 2016 e 2021 trabalhou em Cabo Verde no projeto social “Nunca Experimentar”, uma série de encontros de reflexão, com jovens das várias ilhas, de partilha de experiências com foco na prevenção e combate às drogas, que visa prevenir e resgatar jovens do consumo através da sua história. Ga DaLomba passou por 205 lugares diferentes incluindo seis ilhas, desde liceus, escolas primárias, comunidades entre outros. No total, mais de 15 mil pessoas, entre jovens, crianças e adultos, beneficiaram do projeto, juntamente com as suas famílias e foram encaminhados para tratamento.

Ga DaLomba não pensa parar por aqui, há muito mais por fazer e quer deixar algo palpável, algo em que se possa orgulhar socialmente e musicalmente. Clica no vídeo para veres a entrevista na íntegra e saberes mais sobre o artista cabo-verdiano.

Relembramos-te que podes ouvir os nossos podcasts através da Apple Podcasts e Spotify e as entrevistas vídeo estão disponíveis no nosso canal de YouTube.

Para sugerir correções ou assuntos que gostarias de ler, ver ou ouvir na BANTUMEN, envia-nos um email para [email protected].

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