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“Genes”, um disco revivalista do rock português dos anos ’70 e ’80

Após um hiatus conturbado, entre a procura da sua própria identidade, a depressão e as drogas, Genes volta com novo vigor com um álbum homónimo e revivalista.

Genes traz de volta as sonoridades em voga nos anos 70 e 80 para ressuscitar o psicadelismo pop e o rock melódico e harmonioso, apoderando-se das guitarras elétricas em quase todos os temas e dando-lhes vida através de pedais moduladores, coros motown e harmonias doces e honestas em emoção e em espírito.

O disco oferece-nos canções para todos os moods, num disco divertido de se ouvir, com a maioria dos vocais e instrumentais de Genes, à exceção de Rita Borba em “Atenção” e Luís Severo em “Basileia”.

O álbum foi concebido entre janeiro de 2018 e julho de 2020 e é reflexo de uma reviravolta na vida de Genes. Enquanto adolescente, Genes descobrira-se rapper. Após um hiatus de quase três anos sem editar novos trabalhos, desde o LP de estreia Pessoas (2017), quando tinha apenas 19 anos, Genes isola-se durante vários meses em busca de um som que fosse apenas seu. “Queria deixar para trás o Hip Hop. Não tinha a vida para contá-la em raps. (…) Entrei num momento de total perda de identidade. Estive para desistir da música várias vezes, mudar-me para a Grécia e começar de novo lá. Cheguei a comprar um bilhete de ida sem volta”, disse-nos o artista.

A sua auto descoberta sonora passa por Londres e pelo interesse pela música de Beck, Velvet Underground e Beach Boys, e por tentar soar bem sem parecer uma cópia nos dias que correm.

Bastou apenas um single, “Conde D’alva”, “e do nada, Genes tornava-se de novo no wonderkid que a Vice antecipara anos antes”, lemos no comunicado enviado à nossa redação.

Após tudo isso, de regresso a Lisboa, continuando assolado em ideias, mas sem poder para materializá-las: “Estava completamente pronto para gravar um disco. Sentia mesmo que esse momento e estado de espírito que sentia nessa altura iam fazer de mim um artista satisfeito na hora de cantar e de gravar as canções”. Após as medidas estritas do Covid, esses planos foram por água abaixo”.

O isolamento acabou por transformar-se em depressão e o artista admite inclusive ter estado dependente de drogas. “Era de loucos trabalhar com música quando tinha ao meu dispor droga praticamente gratuita. Canábis de vários tipos, xanax, cocaína… Chegou uma altura onde não me apetecia viver mais. Liguei para todos os meus amigos no telefone e disse-lhes que ia-me atirar da Ponte 25 de Abril. Talvez estivesse a querer chamar à atenção, ou talvez algo em mim já não sentia nada e a dor de repente tornar-se-ia mais leve“, confessa.

Após esse momento, Genes regressa para casa dos pais na tentativa de tentar reencontrar-se de novo. De uma paixão pela música perdida por desagradáveis encontros com a noite e amigos menos recomendáveis para uma vida pacata no Montijo. O campo, a liberdade da natureza que rodeia o seu apartamento no Bairro do Esteval, entre viagens madrugadoras para Lisboa, o artista reviu-se muitas vezes entre a solidão e o medo. “Pedi ao Sambado para ficar nos estúdios da Maternidade. Acampava lá uma ou duas noites seguidas, o Alek Rein abria-me as portas. Eram zero as boas ideias que saiam de lá para cá.”

A meio de 2021, Genes decidiu mudar-se de volta para Benfica onde alugara um atelier de som. De volta à frustração de não poder exprimir-se no seu máximo expoente, volta a ter outra recaída. “Estava entre a espada e a parede. Não podia voltar para casa porque não tinha como ir para casa. Sentia que não tinha um sítio para onde ir porque não pertencia em lado nenhum“. Dormi no chão do estúdio muitas vezes, já para não mencionar as noites que passava num sofá minúsculo.” ‘Dormir no Sofá’ é um tema que nasce dessa relação com o desconforto.

Por fim, em novembro de 2021, Genes decide colocar um ponto final no consumo de drogas e saiu de vez de Lisboa para ficar no Montijo, a trabalhar nas restantes canções que precisava. Tirou um pequeno curso de adultos curado por Steve Savage e lecionado nos programas da Universidade de Oxford, e aí torna-se amigo de Al Carlson (Engenheiro de Som de nomes como Lady Gaga, Geneva Jacuzzi, Weyes Blood) que começava a comparar as suas demos à pop lo-fi / psicadélica de muitos dos artistas com quem havia trabalhado.

“Estava preocupadíssimo com a questão de misturar as minhas próprias canções. Se não tinha um contrato discográfico, ao menos queria um som que ia com os padrões de qualidade que eu busco para tornar-me num artista mais competitivo. O Al disse-me que os meus efeitos vocais e nos instrumentos já eram bons e que eu cantava bem. Isso deu-me uma confiança anormal para mostrar as minhas novas demos a mais artistas que admirava. Tão anormal confiança que cheguei a mandá-la para a Lena D’Água”.

Alguns meses depois, Genes pede ouvido crítico a duas lendas. Luís Severo torna-se num colaborador improvável: “Sempre que eu e o Luís nos cruzamos, tínhamos sempre conversas interessantes. Aproveitei o facto do Sambado querer obviamente passar mais tempo com a família para questionar-me ao Severo sobre as minhas decisões a nível de arranjo e de mistura. Ele estava sempre a dar-me boas dicas. Às tantas, pedi-lhe um trecho vocal que acabou por ficar num dos temas, ‘Basileia’. E sobre a Lena D’Água, as pessoas não têm noção quando falam da Lena. Ela é só espectacular. Acho que não estaria a cantar em português se não fosse por causa dela.

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