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Gisela Casimiro lança dois novos retratos autobiográficos, entre a poesia e a crónica

No mês de abril, Gisela anunciou o lançamento de mais duas obras literárias: Giz (uma coleção de poemas) e Estendais (livro de crónicas). Entretanto, entramos em contacto com a autora para descobrir mais sobre a correlação existente entre as duas obras, o porquê dos estilos aparentemente antagónicos e o que há por trás destes universos que a escritora vem pintando. 

Qual a distância entre a “Gisela Cronista” e a “Gisela Poeta”? 

Sou uma contadora de histórias, uma escritora, antes de mais. Poderia ser exclusivamente poeta, ensaísta, ou dramaturga. A poeta que há em mim comunica com a cronista e com a dramaturga, uma faceta mais recente. Tal como todas comunicam com a artista, que também usa a palavra escrita e oral no seu trabalho. E ainda com a que faz tradução. E, quem sabe, a que ainda vai escrever para televisão e cinema. Penso que devemos ser tudo o que podemos ser. Comecei pela prosa, pela ficção, pela escrita de cartas e diários. Penso que é muito mais o que as aproxima do que o que as distancia: os meus livros são sobre pessoas, são íntimos, são muito quotidianos, existe poesia na crónica e incluí vários textos em prosa no livro de poesia, uma colecção de sonhos. Não basta escrever em versos para criar poesia, e talvez a poesia na crónica seja mais subtil por vezes, mas nos permita enfrentar o verso, que nem sempre parece ser para toda a gente, ou talvez apenas ainda não tenham encontrado a poesia certa. Penso que a poesia também precisa de alguma desformatação, de ser mais flexível, despretensiosa para quem a lê. O que distancia esses dois lugares de criação, a crónica e a poesia, é a técnica, a forma, o exterior. A crónica deveria ser mais valorizada em Portugal como género próprio que é. Por outro lado, a poesia é colocada num pedestal que a afasta das pessoas, por vezes. É bom um poema viralizar, mas só se for um bom poema. Tem de ser cada leitor a descobrir, agora, o que ressoa em si de cada livro. Minha parte eu fiz: escrevi.

Existe alguma correlação entre as duas obras?

O que une as duas obras é um lado autobiográfico, naturalmente, mas também uma preocupação em olhar, pensar e denunciar temas que me interessam profundamente, como o género, o corpo, os direitos humanos, as questões raciais, a violência, a guerra, a família, o amor, o quotidiano. O quotidiano não tem necessariamente de ser um quotidiano português, mas é enraizado nisso; também há espaço para outras formas de viver, outras culturas, preocupações e batalhas, alegrias. Em ambas estou a marcar o momento, a experiência, estou a curar o meu trauma e a tentar compreender melhor quem sou e sobretudo a pensar-me, a pensar a nossa existência, a garantir que cumpro o que entendo como a minha missão e o meu propósito. Mas também estou a guardar de algum modo o que me é mais precioso, que são as pessoas que encontrei ao longo da vida e a forma como elas me marcaram.

A data de lançamento da obra Estendais foi em despropósito ou há alguma razão específica?

Não vejo que haja qualquer despropósito. Saímos de uma pandemia não há muito tempo e eu tive, felizmente, muito trabalho em várias áreas desde então. Nunca deixei de escrever, sempre escrevi várias coisas sem saber quando ou se poderia publicá-las. Persisti e fui resiliente, defendi o meu trabalho. No entanto, estive a trabalhar em vários projectos em simultâneo, e ainda estou, embora prestes a terminar os últimos de uma leva de cinco livros, todos diferentes. Em 2022 ainda escrevi uma peça de teatro e fui co-criadora de uma outra. Em breve começarei a fazer o apoio à dramaturgia de um projecto que estreia este ano. Entre encomendas e livros que eu propus a editoras, e considerando todos os atrasos que houve com publicações devido à pandemia, é natural que só agora saiam estes livros. Não basta escrever. Essa é apenas uma parte, por vezes muito morosa. A escrita é disciplina, paciência, pesquisa. É preciso ter uma estabilidade, uma solidão, uma base que permita com dedicação corresponder à qualidade e exigência de cada livro. Depois precisamos de publicar, e essa parte em si pode demorar tanto ou mais do que o tempo da escrita. O mercado editorial não é tão aberto à negritude quanto isso, e se é difícil para pessoas brancas publicar, mais ainda o é para nós. Mesmo quem já vai construindo um caminho, tem de estar constantemente a provar o seu valor e ainda se vê rejeitada e sem resposta muitas vezes, o que leva a que tantos autores negros tenham de fazer publicações pagas por si mesmos. Teria gostado de publicar um ou dois livros por ano após o Erosão, mas as coisas nem sempre correm como imaginamos. O que não significa que não corram melhor após a concretização. Havia a pressão das encomendas por um lado e, por outro, um compromisso de honra com algumas coisas minhas na gaveta. A vida tem o seu próprio timing, as editoras também, e é preciso confiar nesse timing. Acabo de publicar um livro com a mesma editora independente com a qual publiquei o primeiro de poesia. E publiquei um livro com uma editora conceituada e tradicional pela primeira vez. São duas coisas diferentes. São editoras com estruturas, alcances e formas de trabalhar diferentes. A apresentação de um livro é um momento para estar com quem nos lê, mas o importante é escrever e conseguir publicar, e por vezes demoramos também anos entre terminar um livro e encontrar a editora certa, a que nos diz sim. O Estendais foi rejeitado por outra editora que depois me fez uma encomenda que será publicada ainda este ano. No entanto, ei-lo aqui, à venda pela Caminho, e já nas mãos de muitos leitores, porque eu não desisto de nenhum livro meu, demore o que demorar. Sou perfeccionista, deixo-me paralisar por isso muitas vezes, mas  entretanto curei o meu síndrome de impostor. Quando recebi as provas quer de um quer de outro, achei que era preciso olhar para tudo de novo e fiz muitas alterações, acrescentei texto, poli muita coisa, dei mais um tempo para ter a certeza de que o que seria publicado era de facto o melhor que eu tinha para dar em cada livro. Não é sobre ter pressa e sim sobre saber que um livro é para sempre e que as palavras têm muito poder. Inspiro-me muito em Djaimilia Pereira de Almeida, uma escritora maravilhosa e premiada, mulher negra, que mantém uma consistência de qualidade e de produção impressionantes. É a isso que aspiro, e não devemos deixar que ninguém nos limite. As pessoas perguntam-me há anos sobre os próximos livros. Elas queriam ler-me nesse formato, só os artigos ou as antologias que saíram nos últimos anos não bastavam, nem a elas nem a mim. Em 2023 vou publicar um livro por cada ano em que não saiu nenhum desde o primeiro. Tenho muito para dizer e, felizmente, pessoas interessadas em dialogar comigo. Sinto que é também um presente para elas, esta abundância. Mas não se iludam: lutei muito para chegar aqui.

Para quem é que escreve “a menina”? Para Portugal, para “África”? E se (ainda) for sobre e para o mundo, que mundo é esse?

Essa é uma alusão a uma crónica no livro Estendais, contextualizando para quem ainda não o tenha lido. A verdade é que Portugal é um país e África um continente, com uma multiplicidade de países como bem sabemos. As nossas lutas unem-nos, mas cada país em África tem a sua especificidade. Temos de deixar de comparar o que não é comparável, sob risco de minimizarmos e descaracterizarmos todas essas realidades e o peso de um país não pode ser equiparado ao de um continente inteiro. Eu escrevo para pessoas. Escrevo para todas as pessoas, porque falo de temas que são de todas as pessoas, mesmo se as nossas urgências o não são, e mesmo se as geografias nos separam. Escrevo sobre onde estive, o que vi, ouvi e senti, porque em algum lugar do mundo, alguém se irá reconhecer e conectar com isso, como eu, tantas vezes, através de livros escritos por outras pessoas. Escrevo para aprender, também, para ganhar e dar horizonte, para recebê-lo. O mundo é o meu, é o de cada um, é o de todas as pessoas. Falo de coisas que não vivi mas às quais não posso ficar indiferente, o mundo que nos entra pela casa adentro através das notícias. Falo sobre o que me veio daí a partir das pessoas com quem me cruzei. Os livros são uma forma de condensação de conhecimento e sabedoria. E há histórias que devem ser contadas e recontadas várias vezes. Recuso-me a ser apenas uma qualquer categoria literária e identitária que me seja imposta.

O que ficou da Erosão e que pedaço da Guiné Bissau se manteve intacto?

Existe uma continuidade entre Erosão e Giz, há até poemas que continuam outros do primeiro livro. O que ficou da Erosão foram as mesmas coisas, apenas mais cruas. Há poemas que não incluí no Erosão e que agora estão no Giz. Houve temas sensíveis que no Erosão estão mais subliminares e que por alguma razão pouco foram referidos. No Giz, não há como não reparar neles, como não falar sobre eles, mais que não seja porque houve grandes mudanças no mundo, em termos de leis, ligados a esses temas. Se tanto continua por resolver, as inquietações não podem não continuar a surgir nos poemas. Não penso que a Guiné-Bissau esteja presente nestes livros. Ela ainda está para chegar aos meus livros. Não como um apontamento ou nota de rodapé, mas em toda a sua glória. Quando eu chegar lá, quando eu voltar, escreverei sobre isso. O que de resto se mantém intacto é a minha família, que é quem me dá a Guiné de todas as formas desde que eu nasci, mesmo vivendo em Portugal a maior parte da minha vida.

Como retratas a questão do riso e do humor nas tuas obras e o porquê de ser tão importante para ti?

O humor é algo inato, mas também é um talento, um músculo, uma tecnologia de sobrevivência ancestral. O riso é parte da minha biografia, do meu carácter. Consigo sempre rir de mim, rir das situações, é uma ferramenta que domino na oralidade e na escrita e que tem sido fundamental para o meu equilíbrio mental e emocional. Outro dia alguém me disse que eu deveria fazer stand-up, uma vontade que sempre tive. Antes da pandemia, aconselhei-me com a minha amiga Carlota Cunha, ou Carlota da Internet, como é mais conhecida, que me pôs em contacto com a Catarina Matos, humorista e actriz, que me enviou algumas coisas práticas para eu poder estudar mais sobre isso. Até lá, faço-o na escrita, e o teatro tem sido o lugar onde consigo dar corpo, ou que alguém dê através das minhas palavras, a esse lado humorístico em plena força. Para além dessas leituras recomendadas, continuo a assistir a séries e espectáculos na TV e agora tenho começado a ir a espectáculos de stand-up comedy maioritariamente organizados e protagonizados por pessoas negras, como o Carlos Pereira ou o Rainner Brito. Falamos tanto de visibilidade e representatividade, mas a comédia é um dos poucos lugares onde encontro consistentemente pessoas negras com deficiência e noto que existe também lugar para pessoas brancas com deficiência. Ou seja, há muito trabalho por fazer, mas também lições positivas a retirar, e eu espero poder contribuir para ajudar a comunidade negra, e não só, claro, a beneficiar ao máximo do seu potencial de escrita humorística.

Fala-nos mais sobre o livro Estendais. Como o defines e como foi o processo de conceção?

Sempre escrevi crónicas, é um formato natural para mim. Escrevo um pouco como falo, e as crónicas permitem essa mistura de conto com corrente de consciência, com análise social e com poesia em prosa. Estendais mostra quantas vezes me sentei com outras pessoas a dialogar e a estar verdadeiramente presente. Mostra também o quão sortuda sou por tantas pessoas iniciarem conversas comigo e como uma conexão breve pode conter tanta profundidade, se estivermos disponíveis para escutar, e eu estou. As relações humanas carecem de tempo, e entretecer todos estes momentos demorou anos. Espero que algumas destas pessoas, minhas conhecidas e desconhecidas, consigam encontrar o livro e a si dentro dele. Algumas pessoas já não estão entre nós, porque faleceram, e assim o livro serve como uma homenagem. Outras já não estão na minha vida, mas talvez possam voltar ou, mesmo não voltando a estar, possam talvez recordar com alguma ternura certas partilhas. Para mim é um livro tão bonito quanto as pessoas sobre as quais fala. Claro que há um lado político, como não poderia deixar de ser. Quanto ao processo, ele foi muito meu, pois fui escrevendo o livro sem uma data para terminar a não ser quando encontrasse uma editora para ele. Já tinha partilhado uma primeira versão do manuscrito com a Djaimilia Pereira de Almeida, que me deu bons conselhos. Mais tarde, foi o Ondjaki que me apresentou a Zeferino Coelho, o editor deste livro. Conhecemo-nos, conversámos bastante, fomos construindo uma relação de acompanhamento mútuo, e assim nasceu esta minha primeira colaboração com a Caminho. Para além de Saramago, é naturalmente muito simbólico estar na mesma editora que Paulina Chiziane, Ondjaki, Kalaf Epalanga, Ana Paula Tavares, Conceição Lima. A capa do livro é uma loja de uma mulher imigrante, uma fotografia da minha autoria, o que para mim enquanto artista também é um conseguimento.

E o livro Giz? Como o defines, como foi o processo de conceção e a experiência de ter o rapper brasileiro Emicida no prefácio?

Giz é um livro pesado, cru e acutilante. É também um livro que tem muita esperança dentro, e isso começa pela capa: uma fotografia escolhida por mim, de Ricardo Falcão, antropólogo, mediador cultural e realizador. São as suas filhas mais velhas, Fátima e Mariama, uma nascida no Senegal e outra em Portugal, uma de pele escura e outra de pele clara, a fazer escalada. Para mim, enquanto mulher negra, nascida na Guiné e com um história de interracialidade na família, é muito importante esta fotografia e espero que, quando crescerem, elas saibam que podem ser capa de livros, de revistas, que têm o poder da escolha, da decisão sobre as suas vidas e a sua criatividade. Giz tem também um lado curioso, uma selecção de muitos sonhos que tive ao longo dos anos. Interessava-me olhar para esse lado mais cerebral e onírico. Conheci o Emicida numa conversa online do CONLAB, uma conferência organizada pelo CES de Coimbra, em que éramos os oradores. Foi uma troca muito bonita e emocionante. Claro que já sabia quem ele era, mas ele não me conhecia. Mais tarde estivemos juntos na MICAR do SOS Racismo, no Porto, trocámos contactos e fomos falando e desenvolvendo uma amizade à distância, muito peculiar e que muito prezo. Ele está em tour pela Europa novamente, e estamos ambos ansiosos por nos vermos, já com o livro no mundo. Iremos com certeza colaborar mais vezes, já ambos manifestámos essa vontade. É uma pessoa que admiro muito, que me inspira, que conquistou o coração do Brasil e de muitas pessoas mundo fora. Recentemente pude vê-lo brilhar também enquanto actor no magnífico filme Medida Provisória de Lázaro Ramos.

Neste registo mais intimista que nos parece estar presente no teu poemário, o que podemos aprender (visto que data há mais de dez anos) sobre ser mulher, negra e artista? Como foi esse processo de construção, desconstrução, escrita, reescrita e pó?

Sou bastante transparente e expressiva sobre os meus processos, as dificuldades e desafios a eles associados, sobre as questões práticas, sobre o sofrimento que existe na criação, sobre a demora e sobre a rejeição, a importância da terapia, do auto-cuidado, a paralisia da perfeição e a pressão da black excellence, para que outras pessoas possam pegar nisso e saber que é possível, e consigam, com as suas próprias ferramentas e redes de apoio, chegar ao mesmo lugar ou para lá dele, se possível em muito menos tempo. Em geral, contudo, penso que o trabalho é o que melhor fala sobre mim, e que está realmente tudo, ou quase tudo lá, para quem tiver interesse e curiosidade. E não está em código mas intencionalmente simples, para que haja o mínimo de barreiras entre mim e quem me lê. Quer num livro quer noutro, o feminismo, a condição feminina, a identidade, o corpo e muitos outros temas estão bem escurecidos.

Disseste, certa vez, que os artistas negros contemporâneos estão essencialmente cansados. Porque, inevitavelmente, têm de ser ativistas por força de uma certa invisibilidade. Estás cansada? Como lutas contra este vulto?

A invisibilidade é apenas uma consequência do racismo estrutural. O cansaço é estrutural, a luta vem de longe e está longe de terminar, mas existe um poder ancestral a que podemos sempre recorrer. Eu estou cada vez menos cansada e faço questão de estar. Porque estou a aprender a viver melhor e porque estou mais ciente dos meus limites, agora mais definidos. Os limites são o que nos permite estar protegidos, mas também precisam ser defendidos. O descanso físico, mental, emocional, laboral, financeiro, e outros, são direitos humanos, pois sem eles não conseguimos lutar, e descansar é também um acto de anti-racismo. Emocionei-me muito na cerimónia de Doutoramento Honoris Causa de Grada Kilomba pelo ISPA, em vários momentos. Das várias lições que pude retirar do seu discurso de agradecimento, deixo esta: “Não temos de trabalhar com toda a gente”. E acrescento, não temos de ser tudo para toda a gente. Temos de encontrar formas de criar comunidade e de conseguirmos persistir até encontrar pessoas que sejam como nós, que tenham ido mais longe que nós e que também fiquem felizes com o nosso progresso e realização dos nossos sonhos e objectivos. É preciso saber que existe quem esteja alinhado connosco, e que as pessoas certas nunca nos irão sujeitar, tokenizar ou drenar. Precisamos proteger a nossa recusa, como diz a artista Jota Mombaça. Nós temos uma escolha, e o nosso “não” por vezes beneficia-nos mais do que muitos “sim”. Sobretudo, pode dar-nos o descanso que permite estarmos em plena vitalidade e presença numa oportunidade que vai de facto fazer avançar a nossa vida. É importante relembrar o que nos ensinou Toni Morrison: o racismo é uma distracção que nos impede de vivermos a nossa vida.

Gisela Casimiro é escritora, artista, performer e ativista portuguesa nascida na Guiné-Bissau, em 1984. Tem um primeiro livro publicado, Erosão, textos em várias revistas e antologias, nacionais e internacionais. A sua obra está traduzida para turco, mandarim, alemão, espanhol e inglês. É autora do texto e dramaturgia de Casa com Árvores Dentro, espetáculo encenado por Cláudia Semedo e apresentado no Teatro Municipal Amélia Rey Colaço (Portugal). Participou em exposições nas Galerias Municipais do Porto e Lisboa. Integra a Colecção António Cachola no MACE. Está ligada ao INMUNE e à UNA – União Negra das Artes.

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