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4 dias de cultura, música e arte, assim foi o Festival Iminente 2021

Julinho KSD
Julinho KSD | Fotografia: Olson Ferreira

Quase dois anos depois, o festival Iminente voltou a acontecer. De 7 a 10 de outubro foi possível voltar a celebrar em carne e osso as várias expressões da cultura urbana. O festival, que já teve lugar em Oeiras e depois no Panorâmico de Monsanto, passou a ocupar, este ano, a zona oriental de Lisboa, na antiga fábrica de gás da Matinha, perto do Gare de Oriente. Ali, foi criado espaço para diversas expressões artísticas, desde música, artes visuais, performances e conversas.

O cartaz desta edição de 2021 apresentou um painel diverso, com os artistas que têm marcado a atualidade musical em Portugal e que, sobretudo, refletem uma Lisboa multicultural.

O festival contou com três espaços diferentes: o principal num terreno aberto, o secundário no interior de um edifício devoluto, e o terceiro numa pista de carrinhos de choque, todos com música, com concertos praticamente ao mesmo tempo.

Vimos Pongo a mostrar em palco que é de Angola que carrega no seu ser e o Kuduro é a sua essência. A autora cantou “Começa”, “Quem Manda No Mic” e “Bruxos”, single que foi apresentado num dos palcos mais prestigiados do mundo, o Colors Show. O público deixava-se contagiar pelo que vinha do palco. Não parava e dançava como se o amanhã não existisse. Sem dúvida que Pongo fez-se sentir e quem não a conhecia a partir daquele momento, ficou fã. Se não houvesse público, atrevo-me a dizer que a cantora teria feito a festa sozinha, de sorriso rasgado e a transpirar energia.

“Tou na A1, na A2, na A5 a chegar a Lisabona. Nigga diz que é patrão da linha C. Alguém lhe diga que ninguém tem patrão na minha zona”. Só ao ler este excerto, tenho quase a certeza que já sabem quem é o autor das barras, não fosse “Lisabona” ter mais de cinco milhões de visualizações no YouTube. Falamos de Plutónio, o rapper do Bairro da Cruz Vermelha, que deixou a sua alma no palco. Fez todos cantarem em uníssono as suas músicas, juntamente com a sua entourage da Bridgetown. Plutónio era sem dúvida naquele palco uma reação nuclear, andava de um lado para o outro do palco e o público, se tivesse espaço faria o mesmo na plateia. A sua atuação não foi só um concerto, foi o confirmar que finalmente estamos a voltar à normalidade e podemos apreciar a música como deve ser apreciada.

Seguimos diretos para ver um pouco de Scúru Fitchadu, que apanhámos quase no final, culpa do concerto de Plutónio que roubou-nos toda a atenção. Mal chegámos ao palco do Cine Estúdio, onde os Scúru faziam a festa, sentiu-se um arrepio forte, pelo menos falo por mim. Aquela mistura de música elétronica, gaita, com o ferrinho (idiofone de raspagem, constituído por uma barra de metal, que é friccionada por outro objecto de metal, como uma faca por exemplo), não deixa ninguém indiferente.

Quando demos por nós, já estávamos no dia seguinte, no palco principal, a ouvir Julinho KSD a apresentar o seu primeiro álbum, Sabi na Sabura, lançado no dia 24 de setembro. Apesar de ser recente, o público já cantava as músicas de cor e salteado como se tivesse feito parte da produção do LP. Aapesar de algumas falhas técnicas, Julinho mostrou que tinha flow e a forma como a voz um pouco rouca se imiscuía entre as melodias deu mais emoção ao momento em si.

De seguida, partimos para ver o concerto da dupla IKOQWE, composta pelo produtor Pedro Coquenão (conhecido também como Batida) e o rapper Luaty Beirão, mais conhecido em palco como Ikonoklasta. Os músicos interpretaram duas personagens ficcionadas: Iko e Coqwe, com a cara totalmente enfaixada, à excepção de olhos e boca, e uma espécie de antenas na cabeça, que na verdade eram piaçabas. O que o concerto teve de interessante também teve de comédia, num registo peculiar e que pode não ser entendido pelos demais. A música que a dupla faz, acaba por ser uma mistura de beats criativos com algo experimental e futurista e, se ouvirmos bem, sentimos a presença forte do Kuduro. Os IKOQWE tinham algo para contar, uma narrativa, uma história que só quem lá esteve poderia perceber (ou não).

Entretanto, no palco Choque, já se ouvia Cíntia a sair pelas colunas. Num palco mais pequeno e intimista, a artista mostrou que não é tão pequena assim e que sabia o que estava a fazer. E não haviam só pessoas da sua faixa etária, era uma mistura interessante de idades e de estilos. Não conseguimos ficar até ao final porque queríamos assistir ao concerto do Dino e ainda tínhamos de andar um pouco até chegarmos ao palco principal, o Gasómetro.

O Dino é do povo, o Dino é de todos, o Dino é aquela canção que se ouve e tem de se partilhar como toda a gente. É isso que se sente quando ouvimos e vemos o intérprete de “Lisboa Crioula” em palco. Foi memorável. Apresentou-se sozinho, num palco enorme para uma pessoa só, mas que rapidamente soube ocupar com a sua energia e amor pelo público. Podemos admitir que o Dino é dos cantores mais queridos por Portugal e isso sente-se. A musica que faz, ultrapassa barreiras e fronteiras. A sua voz doce embala qualquer um, numa melodia sem registo, que se mistura com o seu calor pelo público, que faz questão de cumprimentar e comunicar. A música cabo-verdiana é a rainha da festa, tal como Dino já nos habituou, mas nunca se faz presente sem a sua mistura eletrónica e dançante. O concerto foi para lá de bom e tivemos ainda direito a estreia de uma nova música, com a companhia de Julinho KSD e Branko.

Se tivemos tempo para beber água ou comer alguma coisa, não nos lembramos. Foi tudo demasiado rápido e intenso. A música, durante aquelas horas, ofereceu-nos uma espécie de déjà vu de um passado não muito distante mas que soou a séculos. Todos estavam ansiosos por voltar a estar entre a multidão, a sentir música.

No penúltimo dia (9), chegámos mais cedo, queríamos tentar aproveitar tudo com mais calma e tempo. Fomos a tempo ver algumas exposições e performances.

Ghoya apresentava-se no palco, a representar com uma tshirt da Black City, marca portuguesa de street fashion, criada por Uncle C, cuja sua loja na Amadora e é tida como uma das relíquias do Hip Hop em Portugal. À primeira vista, parecia que Ghoya estava um pouco tímido, mas depois daquela voz rouca e firme entoar as primeiras palavras, tomou por completo a atenção de quem lá estava a ouvir.

Fomos de seguida para outro palco, onde Tekilla já havia começado a apresentar os temas de Olhos de Vidro. O rapper continua com a mesma firmeza e vontade de rimar, como se tivesse começado agora, mas a verdade é que já são mais de 20 anos de música. O álbum é uma reflexão disso e, como já nos tinha explicado, “não é um disco nostálgico, é um disco de hoje, de 2021, mas com raízes profundas, de mais de 20 anos disto, com quarenta de vida, de muitos encontros, de desencontros, de vitórias e algumas derrotas.”

E chegou a hora de que todos estavam à espera. A vez de Nenny, que finalmente deu o seu primeiro concerto. A multidão não era das maiores, mas ela atacou-a como se fossem milhões de pessoas a assistir. Muitos estavam ansiosos para ouvir “A filha dos filhos do Rossi”, que com apenas 18 anos de idade conduziu o público como se já andasse nisto há anos.

Cantou “Sushi”, “On You”, ‘Tequila”, “Bússola” entre outros, mas foi em “Dona Maria”, um hino dedicado a todas as mães, que deixou todos emocionados. Madura, segura de si, sem deixar que a emoção tomasse conta do microfone. Enquanto isso, na plateia as lágrimas iam escorrendo pela cara dos fãs. No palco estava a Dona Maria, o irmão Malik e alguns elementos dos Wet Bed Gang, que olhavam para ela com orgulho, sabendo que o talento que tem é imensurável.

Foi o término de quatro dias bem passados, no meio de tanta diversidade musical, onde todos estavam, finalmente, juntos para celebrar a cultura e a arte.

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