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A influência da cultura afro na moda brasileira

A moda, a culinária, a arquitetura e a música contemporânea brasileiras são resultado de uma miscelânea cultural que define a identidade do país, em consequência da colonização que obrigou a uma hermética comunhão entre – numa primeira fase – nativos, portugueses e africanos.

“A cultura negra é a base da formação populacional do Brasil, em suas diversas manifestações e faz parte da formação desse país desde o início”, diz-nos a designer de moda Naya Violeta.

Se o passado sempre foi renegado e embranquecido, há atualmente um ponto de viragem potenciado pelas novas vozes, sobretudo, artísticas, que querem enfatizar as suas origens culturais.

“O nosso país tem uma cultura extremamente rica e diversa. Uma sociedade onde pode-se ver todas as raças e culturas, essa diversidade deve ser representada na moda. O povo africano trouxe para o Brasil muitas coisas, desde a moda até à culinária e a cultura negra é a base da formação populacional do Brasil, em suas diversas manifestações”, explica Naya. “Conforme seguimos em frente, é necessário valorizar a ancestralidade, preservar a cultura afro, apesar do forte apagamento cultural pelo qual passou”, sublinha.

Na moda, essa influência é identificada através das cores e padrões inconfundíveis.  “Uma das coisas que mais alimenta a nossa moda é o colorido africano, a combinação das cores vibrantes nos tecidos, as estampas e acessórios são tendências mais evidentes da influência africana na moda brasileira”, explica Beatriz Silva, analista de moda e criadora de conteúdo.

Além de características genéticas na população, a cultura africana tem influência no jeito de viver brasileiro. Segundo Beatriz Silva, sem a cultura negra a moda brasileira seria só uma reprodução do que acontece na Europa. “A moda brasileira nasceu da população negra e sua cultura, tudo que é produzido nas periferias acaba virando tendência e comunica a nossa realidade. Isso mostra que a cultura negra é primordial para a identidade da moda brasileira”, destaca a analista.

A potência da influência periférica no Brasil é perceptível há várias décadas, sobretudo a do Rio de Janeiro e Bahia, que são as regiões que mais influenciam as tendências pop no país. 

“Nas periferias, há características específicas, que criam proximidade com o grupo no qual estamos inseridos, e que são muito próprias. Sem uma narrativa  eurocentrista ou estadunidense, conseguem decidir o que é melhor para eles no dia a dia sem se importarem com macrotendências”, diz-nos o estilista e designer de moda Pedro Birra. “Sempre vemos movimentos de periferia lançando tendências, principalmente na época de Carnaval e é fácil ver públicos que não são periféricos a usarem coisas que são comuns na periferia, exemplo de moda Brazilcore, com óculos espelhados e transas”, ressalta.  

Uma das tendências na moda brasileira e europeia, atualmente, é o turbante. Para alguns, o torso é símbolo de importância máxima na cultura afro e para o designer Pedro Birra o turbante significa resgate de identidade. “Acredito que uso de turbante tem correlação com a nossa ancestralidade, assim como estampas capulana, roupas coloridas e objetos dourados, tudo isso tem ligação em busca de resgate das nossas raízes”, detalha. 

No Brasil não se pode falar de moda afro-brasileira sem citar duas figuras pioneiras desse segmento no país, Saraí Reis e a Goya Lopes, ambas naturais da Bahia. Saraí Lopes vestia alguns integrantes do Movimento Negro Unificado e também já confeccionou peças para o Bando de Teatro Olodum. Por sua vez, a designer Goya Lopes – que já vestiu Moraes Moreira e Jimmy Cliff, fundadora da grife Didara – utiliza nas suas coleções estampas com grafismos, inspirados pela moda afro-brasileira, e que tem como particularidade uma técnica de aplicação dessas estampas no tecido de malha. 

“A estampa é uma narrativa. Uma estampa conta a história. Tive o desafio de construir a historinha que já contava, só que para crianças. Fiz assim uma linha infantil. Contei a história das tecelagens africanas, que é o suporte que trabalho”, afirma a designer e pesquisadora Goya, que lançou em 2021 o livro Tecelagem.

Em 2020, o projeto Sankofa, que tem como objetivo resgatar o passado e reparar o sistema racista na moda brasileira, implementou uma cota racial obrigatória nos desfiles, na edição número 51 da São Paulo Fashion Week. Foram três anos seguidos  oito marcas comandadas por estilistas negros para as passarelas do maior evento de moda no Brasil, e o fez por três anos seguidos.

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