Bruno Beltrão, coreógrafo do espetáculo Inoah, passou a adolescência de batalha em batalha de breakdance. Descobriu a dança contemporânea através do trabalho de William Forsythe e outros e ganhou um fascínio pela coreografia. Talvez seja isso que o torna tão singular.
Em Inoah, os bailarinos percorrem uma distância de quase cinco quilómetros, num espectáculo com uma coreografia que combina o virtuosismo do hip-hop com uma combinação vertiginosa de acelerações e momentos de repouso.
Enquanto muitos coreógrafos contemporâneos tentam integrar o hip hop, o breakdance e outros estilos urbanos de dança no seu trabalho, o processo de descoberta de Beltrão foi o inverso.
Não só se tem revelado um aluno altamente talentoso e curioso das complexidades da coreografia contemporânea, com os seus constrangimentos espácio-temporais, como tem sido capaz de as usar para desconstruir os códigos artísticos sociais e de género das formas de danças urbanas. O resultado é uma linguagem de dança muito rica e pessoal, relevante na sua abstração e altamente espetacular no seu virtuosismo. Bruno Beltrão foi apresentado na Europa pelo Alkantara Festival 2002 e tornou-se um artista incontornável nos maiores palcos internacionais.
Em Inoah, Bruno Beltrão e a sua companhia Grupo de Rua exploram a vida urbana no cruzamento entre o encontro e o confronto, a agressão e a exuberância, a animosidade e a camaradagem. Dez bailarinos aproximam-se uns dos outros, depois afastam-se, abrindo caminho por um espaço quase às escuras com movimentos rodopiantes, pontapés rápidos, saltos e mortais. Com pura presença física e virtuosismo, o Grupo de Rua dá rédea solta a uma coreografia que pulsa com energia e entusiasmo vibrantes. Tenso como uma noite de trovoada, Inoah é uma afirmação sobre as contradições irresolúveis que abalam a sociedade brasileira.