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Jrdn Alexander.: “Sofria bullying por ouvir música diferente”

A nossa jornada musical para encontrar mais gemas da música alternativa negra levou-nos até Orlando, onde encontrámos um pós-adolescente de 24 anos, aparentemente desapontado pelo status quo das coisas. A música de Jrdn Alexander. é uma contradição fantástica: escreve sobre os temas mais depressivos possíveis mas fá-lo de forma revolucionária, criando instrumentais divertidos que ressonam ao pós-punk dos B’52’s, ao Punk dos ‘Kennedys e ao atrevimento sonoro do Beck Hansen. Puro trash rock feito na nova era da trash culture: Tik Tok, Red Pill, Internet… Tudo o que deprime um adolescente cansado de existir, empacotado em canções ora incrivelmente dançáveis e funky, como em “Patricc Star“, onde Jrdn
começa a canção dizendo “Vivo numa rocha” – com alegorias de Stoner Rock e sobre um riff de baixo contagiante onde aliás, residem os pontos mais fortes nas suas canções – ora temas incrivelmente melancólicos como “Garfield Hates Lasagna Today“,
uma música que toca em tópicos como ansiedade e evasão total. Coros de guitarras lushy e docemente esculpidas, Jrdn recupera um dos provérbios mais conhecidos do glossário do adolescente introvertido – “I’m not ready to show my face”, e converte esse sentimento de ser isso mesmo!

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Uma sombra entre pessoas desconhecidas e suspeitas, e transformando-as em canções espetacularmente criativas e bastante divertidas de ouvir, mostrando o total contrário de uma pessoa deprimida e daí a sua música ser essa contradição fantástica. As comparações a Beck são seríssimas, o mesmo mojo de cuspir frases graciosas em tons spoken-work / weird rap sobre riffs de baixo pós-punk, com em “World” assentam tremendamente bem a Jordan, que termina o EP Street Crimess com uma balada rica e melodicamente, mascarada numa nuvem de reverb ao estilo do universo dream-pop dos anos 90. “I’m a Shade” – Sou uma sombra, o que traduz
bem a música de Jordan: depressiva, sorridente, melancólica, contagiante… Oscilante entre humores como uma verdadeira alma em busca de saber quando é que o coração sabe que o cérebro soube de algo que o deixou deprimido. Viajámos até Miami para encontrar Jrdn e tivemos uma conversa bastante agradável, a fim de revermos o que vai na mente deste muito criativo artista que nos lembra da era lo-fi e da captura incrível desse cenário DIY para os tempos de hoje.

Oiço alguns elementos de música trap, mas a tua música é maioritariamente rock. Alguma razão para as tuas canções serem tão experimentais?

O meu instrumento principal é a guitarra, por isso acho que é uma fusão de várias coisas com a guitarra mas creio ser apenas o que me influenciou quando era miúdo. É simplesmente natural. As canções saem naturalmente sendo rock ou outra coisa qualquer. Aprofundando-me nessa máxima, devo dizer que adoro. Quer dizer, eu escolho usar a guitarra de forma pouco habitual mas nessa caldeirada de composições rock.

O que se passa na cena musical de Orlando hoje em dia?

Vivo cá há três anos, diria… mas só agora é que estou a conhecer um bocado da cena artística. Vivo em Orlando, já agora. Mas devo dizer que a cena é ótima, todos apoiam-se uns aos outros, as pessoas são simpáticas. É fixe.

Tens uma banda ou o Jrdn Alexander. é um projeto a solo de momento?

Para já é solo mas tenho falado com amigos na minha terra (Baltimore) para criarmos uma banda. Vamos gravar algumas coisas primeiro mas para já, solo.

Costumas ver muitos jovens negros a tocar música rock hoje em dia e se não, porque achas que isso acontece?

Eu diria que é apenas uma questão de tempo. Quer dizer, nós [negros] inventámos praticamente todos os géneros musicais [mainstream ocidentais] por isso, iria ser uma questão de tempo.

Tiveste alguns desafios ao crescer sendo afro-americano e ouvindo este estilo peculiar de música?

Na verdade sim. Consigo identificar-me bastante com essa questão. Sendo afro-americano e crescer ouvindo essas bandas que mencionaste como Smashing Pumpkins, Steely Dan, The Velvet Underground… fechei-me na minha bolha por saber que era um rapaz diferente. Não é culpa de ninguém ou minha mas sabia que era o único a ouvir este tipo de música por isso não conseguia-me identificar com ninguém, especialmente na comunidade negra. Porque estava a vestir-me de forma diferente, estava a ouvir música diferente por isso destaquei-me imediatamente dos restantes miúdos. Foi um problema na verdade e sofri bullying por causa disso também nesses tempos. Do tipo “por que estás a usar calças tão apertadas?” ou “por que estás a ouvir essa música estranha?”… Até sofri bullying pela forma como falava. A minha mãe é professora de Inglês pelo que tive a sorte de poder aprender a falar correctamente o idioma e inclusive sofria bullying por falar corretamente. (Risos) No secundário tudo começou a fazer mais sentido, recebi mais aceitação também. Continuava sozinho e deprimido na maioria das vezes mas muito melhor no secundário. Toda a gente era amigável e aceitaram-me de longe por isso foi um período fixe.

Como é que descreves a tua música? É experimental? É Beck-esque?

É um feeling (sentimento)! Limito-me a tocar o que sabe bem e o que faz sentido para mim quando estou a gravar.

Nota: Algo engraçado aconteceu neste segmento da entrevista, o Jordan pensou que referia-me a “Back” como “atrás” mas referia-me ao Beck Hansen! (risos)

Como é que escreves as tuas canções? Quer dizer, estás sempre deprimido (risos) então geralmente aparecem-te ideias para harmonias ou escreves cenas no teu diário e depois inventas riffs para pôr em cima das canções?

É interessante. Na verdade escrevo o que sinto no momento. Não volto atrás numa letra depois de escrevê-la. Simplesmente assumo-a quando a gravo. Mais punk que isto não pode haver. A minha mentalidade é mesmo essa, punk. Entendes? Tenho este EP chamado Fuzz, onde tenho estas canções super alegres e coloridas mas as letras são algumas das obcessivas>depressivas(?) que escrevi na minha juventude. Na verdade é tudo uma gvrandessíssima máscara (risos). Eu às vezes tenho receio de pôr música cá fora porque tenho medo que roubem os meus beats (Risos extremos).

Então quais são as projeções para os próximos tempos? Estamos a falar de um LP, de um EP? O que se vai passar no universo do Jordan?

Na verdade, estou só a viver um dia de cada vez. Acabo de lançar um EP sobre um novo moniker Teenage Switchblade… Chama-se Street Crimess, vão ouvir!

Eu ouvi esse EP, tá a soar muito bem! Adorei a “Patricc Starr”, ótimo baixo.

Grato, Gil! Como é que se diz em português, “ótimo”? O que significa isso?

“Ótimo” significa great!

Jrdn Alexander. no dia de São Valentim

Então, qual é o teu derradeiro objetivo com a música que fazes?

O meu artista preferido é o Brian Eno. Ele cria algo mesmo especial nos backgrounds das canções, o que é mesmo fantástico. Então para começar, quero fazer, à medida do tempo, mais discos obscuros também, mais experimentação sonora, expiatória… O que for. Quero criar música incrível, ser financeiramente estável com a minha música
 e fazer as pessoas felizes com a música que faço! É esse o meu objetivo a longo prazo. E divertir-me imenso a fazê-lo!

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