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Julia Alves: “Não adianta se intitular antirracista e não contratar pessoas negras”

Julia Alves
📷: Iza Campos

“Especialmente para as crianças pretas é necessário assistir um programa de TV, se reconhecer nele e pensar: ‘olha, essas personagens se parecem comigo’. Você cresce se sentindo pertencente a algum lugar, porque essa construção de referência é necessária para nós que temos que lidar com o racismo desde a infância, para além disso, a gente precisa sonhar”

As palavras da atriz Julia Alves retratam uma esperança que parece estar um pouco distante de ser realizada. Para chegar a essa conclusão, basta acompanhar a programação de cada um dos canais da TV brasileira. Sejam eles abertos ou pagos, e até mesmo os mais acessados no YouTube, o espaço ocupado por apresentadores, jornalistas, atores e atrizes negras é mínimo. Se o recorte for o público infantil, a quantidade – que já é pouca – diminui ainda mais.

Protagonista da “Caverna de Petra”, que iniciou sua segunda temporada no GloboPlay e no Youtube do Canal Futura, Juliana observa que apesar de ter mais da metade da população declarada negra (formada por pretos e pardos, que segundo o IBGE corresponde a 54% dos mais de 200 milhões de habitantes), o Brasil não possui representatividade nos programas televisivos na mesma proporção. Por isso, acredita que o seu papel na série é importante para inspirar meninas – e mulheres – iguais a ela, Pedro Miranda e Bia Lisboa, crianças que a acompanham na primeira e na temporada atual respetivamente.

Julia Alves
📷: Iza Campos

“Ela fala sobre a aceitação, autoestima, cuidado com o meio ambiente, padrões impostos às mulheres, igualdade de gênero, assédio, desinformação e tantos outros assuntos”, ressalta. “É completamente educativa sem perder o lúdico, a magia, a poesia e o bom humor. Isso é importante para a formação de qualquer criança, mas principalmente para as pretas que se veem representadas”.

Por ser adulta, com 22 anos, a atriz não estava tão convicta que o papel seria para ela. Mesmo assim fez os testes (os primeiros foram online por causa da pandemia de COVID-19) e foi a escolhida. “Fiquei muito feliz e animada com a oportunidade”, celebra, destacando que o seu maior medo era representar um estereótipo comum de adultos imitando crianças, o que pode ficar perceptível. 

“Então, quis seguir por outro caminho. Acho que nos tempos atuais elas gostam de ser tratadas de igual para igual, porque estão cada vez mais espertas e avançadas, principalmente por conta da tecnologia”, diz. “O desafio foi compor uma personagem tão sagaz, descolada e atual quanto, para que elas se identificassem, dentro desse universo lúdico. Foi bem difícil porque foi algo que eu tive que criar no meu imaginário, não tinha uma referência próxima a mim e nunca tinha trabalhado com o público infantil antes, então tive que ressignificar a criança que eu fui, imaginar junto a criança que eu gostaria de ter sido, e dar vida à Petra”.

Longe do ideal, o protagonismo de pessoas pretas em atuações que não estejam relacionados à subalternidade tem acontecido, mas de uma forma bem lenta. O papel de Julia Alvez é um exemplo disso. Porém, existe a necessidade de que mais profissionais afro-brasileiros tenham as mesmas oportunidades, porque talentos não faltam. Como a própria artista observa, “não adianta se intitular antirracista e não contratar pessoas negras para papéis de poder na TV, nas cadeias de comando, a gente precisa de mais pessoas pretas trabalhando e assumindo grandes papéis não só na frente das câmeras mas atrás também, é tão importante quanto. 

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