Júnior No Beat, da Geologia para a produção musical

O prosador francês Gustave Flaubert dizia que “para se ter talento é necessário estarmos convencidos de que o temos” e é exatamente essa a frase que move cada passo do produtor angolano Júnior No Beat. 

Hugues Mavuba tem 26 anos e artisticamente responde por Júnior No Beat. Ainda antes da música, Júnior esteve focado na sua licenciatura em Geologia. Atualmente, com o canudo na gaveta, é no estúdio que imprime o seu know-how na composição de beats e instrumentais. 

Tudo começou há exatos 10 anos, quando o produtor andava com um dos seus amigos, o Bruno Enorme, que já fazia instrumentais por inspiração e influência do lendário Gaia Beat (que já entrevistámos aqui). Quando mergulhou no beatmaking, Júnior decidiu enveredar pelas sonoridades do Afro House, depois o zouk, kizomba e tarraxinha, seguindo assim os passos do popular DreamBoy, Mallaryah. “Comecei a fazer instrumentais por influência dele [Bruno Enorme], e o gajo era viciado. Sempre que eu o chamava para irmos jogar à bola, ele estava sempre lá a produzir”, explicou.

Produzir foi, de certa forma, uma aposta segura, que não entraria em conflito com a sua atividade académica. 

Já tive de remover músicas por malandrice de alguns músicos

Júnior No Beat

No meio de tantas áreas que a música tem, Júnior disse que escolheu fazer os instrumentais por ser mais leve, pois não implicaria tanto a sua entrega a 100% na música e não lhe tiraria o foco da sua formação académica. “Eu tinha um receio de entrar na música e vitalizar, e não terminar a faculdade, que sempre foi o meu objetivo. Então, esse foi o meio-termo que encontrei para continuar na música porque cantar não dá. [Tens de] perder noites porque tens de atuar e depois voltar para estudar não [faria sentido]. Decidi focar-me na produção”, explicou.

Júnior é um produtor que não se expõe nos holofotes e esse detalhe não abona a favor da sua carreira. Durante esta a conversa com a BANTUMEN, o produtor falou sobre um dos problemas que mais aflige os artistas que preferem estar na sombra das mesas misturadoras: os direitos autorais. “Não consigo gerir. É complicado. Até uma certa altura, entrava em contacto para fazer uma negociação, mas chegou uma altura em que não conseguia porque era muita gente. Inclusive, tive a ajuda de primos para fazer esse trabalho. Já estive até em situações que tive de remover a música por certa malandrice de alguns músicos. Nunca fui de chocar, nunca gostei disso”, explicou o produtor ao afirmar que há produtores que usam os seus instrumentais como se fossem deles.

Júnior No Beat tem neste momento o título de Melhor Afro House de 2022, atribuído pelos prémios Moda Luanda, com a música “Ary Trabalha”, dos Ingomblock. Sobre a concepção e produção da música, Júnior explicou o processo criativo que lhe vale hoje um reconhecimento “imensurável”.

“Essa música tem sim história. Tudo começou na casa do DJ Nelasta. Foi onde conheci o ex-agente da Ingomblock, o Makulelé, por intermédio do DJ Nelasta. Inclusive, terminei o “Alogia” porque o cota [Nelasta] me pressionou para terminar a cena”, explicou.

“Por incrível que pareça, eu tinha sonhado com esse beat. Fi-lo às 6 horas e foi tipo ‘essa ideia não posso perder’, peguei no PC, o MIDI e comecei a fazer”, relembrou Júnior No Beat. 

Júnior tem uma lista incontável de sucessos lançados. O produtor é responsável pela produção musical e instrumentalização de músicas como “Nunca Vão Dizer” de Nilton CM com Prodígio, “Ay Trabalha” e o mais recente “Tambuleleno” da Ingomblock, “Labatse” da Tropa do BHA, “Dança Milionária” de Scró Que Cuia, “Diz Só” da NZ Gang, “Teu Mambo É Bom” de Jay Oliver, “Vai Lá” de Ednardo Soares e tantos outros.

Assiste à entrevista completa de Júnior No Beat no player abaixo.

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