Autodidacta, carismático, de simplicidade singular e com um olhar que revela tanto de clínico como de crítico, Kim Praise é um dos nomes em ascensão da atualidade fotográfica urbana em Angola.
Num mercado audiovisual cada vez mais competitivo, Kim Praise destaca-se pelas cores quentes dos seus retratos, mas sobretudo pela captação detalhista de uma espécie de cruzamento multidisciplinar entre a fotografia e arte de ser, de cada pessoa, paisagem ou objeto fotografado.
Através das imagens que vai divulgando nas suas redes sociais, arriscamos catalogar o trabalho de Praise como fotógrafia poética, que inspira ao mesmo tempo que nos tira o fôlego.
Em entrevista via Zoom, o profissional de imagem deu-nos a conhecer mais detalhes sobre a sua carreira, aspirações e inspirações, a recente identidade visual, as oportunidades exclusivas para dirigir videoclipes de cantores da nossa praça e muito mais.
Registado como Joaquim Chongolola Katito, optou pelo nome artístico Kim Praise, numa junção entre Joaquim e “louvar”, em inglês, para manter a conexão com a religião, visto considerar-se crente e fiel a Deus.
Natural de Benguela, Praise mudou-se para Luanda em 2017, com o objetivo de crescer na profissão. Na memória ficavam as lições da disciplina de Artes Visuais e Plásticas, que o introduziram à arte, com apenas 12 anos. Dali retirou o desejo de tornar-se arquiteto, até que conheceu a fotografia. Foi através de Telma, uma amiga da igreja, que descobriu a arte de eternizar momentos. Ficou fascinado.
Aos 23 anos, em 2017, começou a ponderar a possibilidade de sair de Benguela, onde cresceu, para instalar-se na cosmopolita e babélica Luanda. Foi o irmão mais velho que acabou por fazê-lo perceber que não tinha nada a perder. Kim convenceu os pais de que aquela era a melhor escolha e lá foi para a capital angolana.
Hoje, além de fotógrafo é também videógrafo, tendo tido a responsabilidade de captar e gravar com personalidade bem conhecidas do panorama artístico, como Sharam Diniz, Matias Damásio, Ary, Stella Blindada, Edgar Domingos, Preto Show, Cef Tanzy e Anna Joyce.
Quando lhe é pedido para descrever o seu processo criativo e como consegue ter um olhar clínico sobre tudo o que capta, Kim não é poupado em palavras. “Sou uma pessoa muito intensa então quero captar o melhor das coisas. A palavra certa é a essência isso é dos lugares, das pessoas, das expressões e acaba por tornar-se poético”.
É dessa essência poética que vê arte em todo o lado. Num casal de namorados na marginal, num motoqueiro na via ou num grupo de jovens a divertir-se na rua. O quotidiano dos mortais comuns é o que lhe serve de inspiração.
A essa essência acrescenta-lhe a estética alaranjada, uma marca pessoal – dando a sensação tropical e de quentura de Angola a quem visualiza a imagem.
A inclusão do vídeo ao seu portfólio aconteceu de forma natural. Pegava no telemóvel, filmava situações do dia-a-dia aleatoriamente e publicava nas redes sociais. Com o passar do tempo, os seus seguidores motivavam-no a continuar. “Comecei então a investigar mais sobre o cinema. Não tenho nenhuma formação de fotografia, vídeo ou edição, aprendi tudo pelo YouTube e perdi horas e horas só a aprender tudo sobre o universo cinematográfico”, explica-nos.
O primeiro videoclipe surgiu assim com o cantor Dino Ferraz. “Foi tudo muito rápido porque nunca tive pretensão de fazer videoclipes. O meu foco era a fotografia, fashion films, e isso [videoclipes] passava o caso. Três meses depois desse trabalho mudei imenso a minha identidade visual para não parecer homogéneo como o de outros produtores e realizadores da banda. Nesse processo a fotografia ajudou-me bastante”, conclui.
Todo o processo criativo em que pega, Kim leva-o nas costas sem reclamar. A maioria acaba por ser uma “viagem a solo” em equipa não sente que consegue realizar o projeto com a autenticidade com que o idealizou.
De discurso cheio de experiências permeáveis às adversidades, Kim Praize sugere, a quem quiser seguir os seus passos, uma receita de bastante estudo, preparação e reparação – caso falhe.
Em 2022, o artista quer produzir mais conteúdos, voltando-se a focar nos vlogs de viagens pelo país e numa nova série de fotografia de perfis que o influenciam nas redes sociais.
Mehret Caetano
Jornalista freelancer. Vivaz e curiosa, esta é a descrição assertiva que impulsiona a trabalhar a criatividade. Com a minha Luanda azul como pano de fundo fluo naturalmente revelando as mais bonitas essências, vibes e culturas para o resto do mundo.