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WBG: “O segredo, acima de tudo, é haver uma causa”, Kroa

Wet Bed Gang
Kroa membro dos Wet Bed Gang | Foto: @tegvs

Wet Bed Gang (WBG) é um dos maiores fenómenos do Hip-Hop em Português dos últimos anos e, por incrível que pareça, apenas têm registados quatro anos de existência. A base para sustentar esta premissa é o facto de o coletivo de Gson, Kroa, Zara G e Zizzy acumular atualmente mais de 1,5 milhões de plays de Ngana Zambi, o primeiro álbum de originais, e mais de 300 mil ouvintes mensais, só no Spotify.

Passado pouco mais de duas semanas desde o lançamento de Ngana Zambi, o Spotify Portugal revelou que o disco é o álbum Português com mais reproduções na primeira semana, com mais de 1,5 milhões de streams nos primeiros sete dias, tornando-se no terceiro mais ouvido de sempre em terras lusas, apenas atrás de Drake e Ed Sheeran.

Estivemos à conversa com Kroa, para ouvirmos na primeira pessoa como o grupo está a acolher o hype à volta do seu primeiro álbum.

“O segredo, acima de tudo, é haver uma causa. Quando lutas por uma causa, não vais deixar que essa causa morra. E podíamos deixar de ser ouvidos que iríamos continuar a lutar pela nossa causa e fazer com que as pessoas nos oiçam”. Portanto, o segredo é a persistência e o demonstrar contínuo de que o grupo é, antes de tudo, “uma história única”.

Wet Bed Gang
Foto: @tegvs

Sobre o ninho de rappers que é agora Vialonga, que viu crescer nomes como Phoenix RDC, Pizzy, Nenny, Giovanni, Ali Badd e os próprios Wet bed Gang, entre outros, o rapper explica: “Vialonga, a nível de rap, é um bairro culto. Eu próprio, com 16 anos, cresci a ouvir rappers já muito bons, que não tinham a visibilidade que mereciam mas que eram muito bons. E sendo eu um dos mais velhos da nova escola aqui, praticamente, torna-se inadmissível aparecerem rappers medianos. O mediano é o podre aqui na zona. Portanto, isso torna o bairro um expoente de skills“. Desde que a Wet e o Phoenix começaram a ter visibilidade, o que se passa é que começámos a ‘meter o people de fora aqui dentro’. Há mesmo música de qualidade feita no bairro. Tens o Giovanni, Nenny, Ali Badd, o Michel, Dero Vibez, o meu irmão Pizzy, e por aí fora. São muitos. Se chegares a Vialonga, vais ouvir música boa.”

Quanto ao novo trabalho do coletivo, o primeiro álbum, que esteve a ser cozinhado desde 2018, Kroa revela o porquê do nome Ngana Zambi. “É bom transmitir princípios e ensinar um pouco as pessoas, porque nós crescemos a sermos ensinados sobre as culturas alheias e é sempre bom partilhar um pouco da nossa cultura com as outras pessoas que fazem parte do país onde estamos. E isso não quer dizer que vou ser mais ou menos português, angolano ou cabo-verdiano. Porque o Zara é cabo-verdiano, o Zizzy é moçambicano, eu e o Gson somos angolanos e o Brizzy tem família guineense, então somos um misto de culturas e é pouca a cultura africana que passa para Portugal e se nós temos o poder de fazer isso, porque não fazer?”, indaga Kroa.

A produção deste trabalho também foi tema de conversa durante a entrevista feita por Eddie Pipocas. “Nós já tínhamos essa exigência [da qualidade] e não tínhamos a sabedoria ou o conhecimento para fazer bem e é óbvio que temos pessoas por trás que são mestres. Temos um [El) Condutor, e quem dera a muitos terem um Condutor para dar indicações a nível musical. O nosso primeiro projeto foi quase todo feito com ele, por exemplo. E bué dos nossos shows é ele quem faz essa direção. Depois, temos também o Miguel Vicente e o técnico de som Ricardo Estevão. E eles são o alicerce do que metemos [nas ruas] e da forma como nos apresentamos. O Ricardo Estevão é aquele produtor especial que faz parte mesmo da banda. É o nosso técnico de som e que, infelizmente, faz parte da indústria de engenharia de som e toda a gente que esse sector está agora a passar mal [por conta do coronavírus] e é mesmo gratificante tê-lo connosco. Quanto ao Charlie, é o nosso blood [sangue].

Para quem deu conta, o álbum tem um tempero de novas sonoridades como o drill, “por culpa dos produtores. O Charlie, quando meteu o beat do ‘Perseus’ a tocar, aquilo não é normal. Não tinha como não cuspir em cima daquilo. Há que malhar e temos que nos reinventar e estar atentos ao que o mercado está a fazer”, explicou.

Kroa salientou também que, em estúdio, o trabalho só é finalizado quando todo o grupo, os que dão a cara e os que estão na back, estão de acordo. “A WBG é uma família enorme e é preciso todos estarmos contentes com o que foi feito para sair e estarmos todos felizes e, se der merda, deu merda para dentro e o que passa para fora é que está tudo contente e confortável com o que foi feito. A partir do momento em que está fora, já não há críticas da nossa parte. E o que vem de fora também serve para crescer. Podemos sempre ouvir conselhos, mas cabe-nos a nós coar e filtrar o que realmente importa ou não.”

A escolha de Bonga para a introdução do disco surgiu porque “nada melhor do que um símbolo para os PALOP, com uma história de vida única”, para explicar o significado do nome do álbum. “É uma expressão muito forte e que não podia ser usada à toa. Se fossemos só nós, se calhar, as pessoas não iam levar a bem e com o kota Bonga conseguiram perceber a mensagem”.

Por conta da pandemia, o grupo preferiu não colocar o disco à venda fisicamente, por forma a evitar serem a razão para as regras de segurança pública serem extrapoladas. “Era um sonho podermos apresentar o álbum num palco gigante, com bancadas à venda para os nossos fãs, com tshirts e merchandising. É triste, mas agora é impossível.” Contudo, o feedback do público não poderia ter sido melhor. “Foi a primeira vez que a minha mãe ligou-me por causa de uma música. Foi muito gratificante. Os meus familiares e amigos estão bué orgulhosos. E o público já estava à espera há algum tempo e senti que ficaram também contentes com o trabalho.”

Agora, resta esperar que a pandemia comece a aliviar a atual condição social global, para o público poder desfrutar do projeto, ao vivo, aos saltos e empurrões entre milhares, num qualquer festival ou concerto.

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