Khronic, nome cravejado na ascensão do movimento hip hop moçambicano, tem estado nas bocas do povo desde que lançou “Zero Ego” (2021), com os portugueses Fuse e Mundo Segundo, e “Dar as Mãos”, com o ícone guineense Mikas Cabral, no fim de 2022.
Apesar da pouca atenção que o mercado lusófono recebe da indústria da música moçambicana – fundamentado pela facilidade de acesso ao mercado sul-africano – parece haver nos últimos anos uma certa viragem na abordagem, com boa parte dos artistas e profissionais do meio a estreitar relações nos territórios onde o Português é língua oficial.
Sobre a colaboração com Mikas Cabral, em entrevista para a BANTUMEN, Khronic explicou que cresceu a ouvir o vocalista dos Tabanka Djaz em casa. Contudo, o contacto inicial foi “meio estranho”, mas sobretudo porque o artista guineense nunca tinha feito algo dentro do cenário hip hop.
A música foi gravada em Moçambique e Portugal, Mikas Cabral gravou o refrão na Bob Records, em Lisboa, e Khronic na Tchaya Records, em Maputo, onde também gravámos a entrevista com o rapper.

Khronic é Ilcer Isac João Luís Doce, nascido na província de Tete, região central de Moçambique, a cerca de 1570 quilómetros a norte de Maputo.
Além de rapper, é também licenciado em História Política e Gestão Pública, pela Universidade Pedagógica de Moçambique, Delegação de Nampula.
O artista passou a dar atenção ao movimento Hip Hop nos meados da década de 1990, inspirado por Boss AC, Black Company, Gabriel O Pensador e, muito mais tarde, pelos Racionais MCs.
Entretanto, de lá para cá, lançou duas obras discográficas: Tentativa, Queda & Superação, em 2013, e Retratos, em 2018, e anunciou a terceira, Linha do tempo, a ser apresentada ainda este ano.
Na entrevista, cujo vídeo podes ver abaixo, Khronic falou-nos sobre o tempo que correu entre os três lançamentos e aproveitou para fazer uma análise entre as obras passadas e a próxima.
Ficámos a saber que Linha do tempo, em parceria com a Letela Produções, vai criar uma simbiose entre vários artistas que pertencem à sua restrita lista de ídolos. Além de Mikas Cabral, Fuse e Mundo Segundo, assinam as participações Duas Caras, Rage, Travolta Salane, Kloro e Rui Michel Crescer, entre outros.
Dentro da intenção de expansão do seu nome e obra, Khronic vai também colaborar com lendas do hip hop norte-americano que têm uma abordagem lírica compatível com a sua, como Young Noble e Edi, membros do grupo Outlawz, que ganharam protagonismo depois de colaborarem no quarto e último álbum de 2 Pac. Como também com os M.O.P., de Brooklyn, Nova Iorque, conjunto composto pelos rappers Billy Danze e Lil ‘Fame.
Há ainda a listar o nome de Masta Ace, que participou no The Symphony, do grupo Juice Crew. Ace é também o autor da faixa “Me & The Biz”, que faz parte da banda sonora do videojogo Grand Theft Auto: San Andreas.
Sobre as produções, para já, sabe-se que há Hermetiko, Menfis, Edy MC e Polegar Beatz.
Numa rápida análise sobre o estado do rap moçambicano, Khronic acredita que não será ninguém de fora a estruturar e a criar uma base sólida dentro da indústria nacional.
“Os moçambicanos têm de se lembrar que por trás de grandes estrelas do hip-hop americano sempre estiveram grandes cabeças” e é isto que falta em Moçambique mas que ainda vai a tempo de ser corrigido.
Também se falou de Hernâni da Silva como o único rapper moçambicano que consegue sentar do lado dos old school e dos new school e sair-se sempre impecável na arte de rimar.
O rapper faz igualmente referência a outros da velha guarda que também são capazes de atualizar as suas bases sonoras e “cair num bom trap”. No seu caso, afirma que a sua caneta é independente da sonoridade mas quando quer levar uma determinada mensagem para as novas gerações prefere usar sonoridades mais recentes..
O rapper termina a entrevista elogiando o trabalho de Sam The Kid como aquele que “teve uma ascensão meteórica e muito bem consolidada”. Além disso, extrapolou as fronteiras do rap para criar diferentes negócios à volta do movimento.