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Litteragris e comunidade leitora em Angola preocupados com a crítica literária 

O Movimento Litteragris, em Angola, é um grupo fundado a 17 de outubro de 2015, no salão nobre da União dos Escritores Angolanos. O conceito nasceu da necessidade de ampliar os espaços de transmissão de conhecimentos literários e linguísticos. 

Em linhas gerais, trata-se de um movimento detentor de uma poética comum, consubstanciada na fusão de escolas literárias angolanas com o surrealismo, simbolismo e experimentalismo, procurando, assim, pintar uma proposta estética diferente no quadro da literatura angolana ou da “nova literatura angolana”, se quisermos.

Este movimento, apesar de artístico-literário, não deixa de ter um pendor académico. É de âmbito nacional, sem fins lucrativos, e congrega estudiosos e escritores consagrados e não consagrados. As atividades do grupo consistem fundamentalmente no estudo dos fenómenos literários e linguísticos, na promoção da cultura, filosofia da arte e educação estética.

Um dos objetivos assentes do Movimento Litteragris tem a ver com a produção de uma literatura de vanguarda; impulsionar o gosto pela leitura; estudar e dinamizar o fenómeno literário angolano e as áreas a ele conexas; promover formações sobre literatura, línguas, filosofia, artes e outros campos; exercer uma crítica literária objetiva e imparcial; imprimir dinâmicas para a realização de encontros académicos e desenvolver intercâmbios artistico-científicos com as demais instituições, quer sejam nacionais ou estrangeiras; fomentar o exercício de cidadania e a inclusão social, bem como criar programas de assistência social, de educação, beneficentes e produzir e distribuir literatura angolana.

Dos tempos de iniciação aos tempos de hoje, o movimento aposta em conversas sobre livros e, fundamentalmente, sobre o posicionamento crítico em relação aos mesmos. Questionamos Agostinho Gonçalves, coordenador do movimento, qual a importância da crítica literária, e não só, para o debate cultural.

Para o estudioso, é vital que a crítica faça caminho junto da arte e, para o caso da literatura em concreto, sem crítica, “não há pés para caminhar nem projecção para resplandecer pelo mundo”, conforme nos diz. “Nesta visão institucional da literatura, a crítica literária, seguida da tradução, assume um lugar de relevo, configurando-se num elemento imprescindível para a notoriedade, visibilidade e circularidade do fenómeno literário. Uma literatura que se quer desenvolvida e imponente não pode desvincular-se da crítica literária ou dos estudos literários, em termos gerais.”

Agostinho acrescenta que a “crítica literária é o exercício analítico-interpretativo e valorativo do fenómeno literário. É por meio desta que as obras literárias ganham visibilidade e expansão no seio do público leitor ou da comunidade literária.”

O grupo está envolvido em várias atividades muito bem referenciadas no seio da atual comunidade literária em Angola. Uma delas tem como nome “ComTexto”, que “é um evento mensal organizado desde 2019 com o objetivo de criticar obras do interesse público, estabelecer uma crítica literária permanente que se desenvolve dialeticamente nos termos da objectividade, racionalidade e imparcialidade, bem como dinamizar o cenário da crítica literária em Angola”.

Em Angola, a própria revolução sempre esteve, de certa forma, atrelada à produção intelectual e cultural

Agostinho Gonçalves

Outro dos meios desenvolvidos pelo grupo artístico para fomento do pensamento crítico, foi em formato de revista. Pensada em 2015, nasceu inicialmente com o nome Agris Magazine. Passado um tempo, mudou-se a denominação para Tunda Vala, mas o conceito continuava o mesmo. “O primeiro volume foi publicado em 2016, o segundo em 2018 e agora estamos a preparar o terceiro: Tunda Vala III: Último Voo Agristético. Além da Tunda Vala, está também em carteira a publicação de duas revistas científicas: uma de Crítica Literária e outra de Estudos Linguísticos”, disse Agostinho.

Este paradigma que se consubstancia no desenvolvimento do pensamento crítico apurado e na preocupação com uma literatura de vanguarda, não é qualquer coisa a que se poderia chamar de novo. Em Angola, a própria revolução sempre esteve, de certa forma, atrelada à produção intelectual e cultural, muito por conta da figura do primeiro presidente, o poeta Agostinho Neto, ou por conta de outras grandes figuras literárias que se afirmavam naquela altura.

Desta época, herdou-se uma literatura pujante e subversiva ainda presente nos escritores atuais angolanos. Apesar de cada geração viver os seus próprios problemas sociais e construir os seus próprios artefactos, temas como a verdade dos povos, as guerras e suas consequências, a política, a mulher, ainda são discutidos na contemporaneidade literária angolana, embora sob diferentes prismas, como não mais às atrocidades do colonialismo português, mas à má governação, corrupção, impunidade, peculato, fome e pobreza sistemáticas, ou seja, aos grandes males que enfermam a sociedade angolana.

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