Dois dias antes de Luccas Carlos colocar no mundo o seu primeiro álbum, jovemCARLOS, tivemos uma conversa via Zoom. Pelo vidro da janela, os raios de sol entram e iluminam o ambiente. Apesar dos raios de luz, faz frio. O cantor veste uma blusa verde-água e está de óculos e com os cabelos soltos, sem tranças.
De falas pausadas, com o tempo necessário para pensar nas suas respostas, Luccas compartilha tranquilamente os motivos de soltar só agora o seu tão esperado projeto de estreia após vários singles, vídeos e colaborações com inúmeros artistas. E a espera não foi só do público, o próprio diz estar tão ansioso quanto. Todo o tempo que levou para arquitetá-lo serviu para a evolução artística e da sua maturidade como pessoa. O artista afirma que essa é uma homenagem a todas as influências que o fizeram chegar até onde chegou, do samba ao trap.
“Eu acho que faz sentido, porque a minha vida inteira ouvia essas paradas… em algum momento da minha vida passei por esse tipo de música. Também senti que meu primeiro disco tinha que ser essa parada assim, tinha que passar por vários lugares sem se denominar, e sem perder a minha identidade”, afirma.
Na troca de ideias, o jovem Carlos detalha o processo de composições, a parceria que fez com o seu ídolo Lulu Santos em “Opção” e as produções de Nave, Go Dassisti, Gee Rocha, Pedro Dash, Pedro Breder, Douglas Moda, André Jordão, Vitão, Willsbife, Lotto e Paiva (White Monkey).
A pergunta primordial é: por que só agora, depois de vários singles, vídeos e colaborações, você decidiu finalmente lançar o seu primeiro álbum? Ouvi ele aqui e está redondinho, do jeito que todos estavam esperando…
Você gostou? Você gostou? Fala tu!
Muito! Também creio que vai superar a expectativa da galera que acompanha o seu trabalho… mas porque essa demora toda para colocar esse disco na rua só agora?
Então, ele sempre existiu, tá ligado!? Só que eu nunca senti que era o momento dele assim. Acho que só agora, desse jeito, com a galera com que eu estou, com as músicas que tenho ali… esse era o momento. Antes eu não sentia que estava pronto pra fazer isso, musicalmente e até pessoalmente falando. Acho que é tudo uma evolução minha, fora o artístico que me deu a possibilidade de lançar agora. E tipo assim, fiz 28 anos em janeiro… e isso veio com a idade. Veio um pouco mais na consciência do que eu realmente queria. Eu nunca deixei de lançar nada, mas esse projeto eu sempre guardei dentro daquela caixinha, porque eu sentia que precisava mesmo fazer da forma certa.
Não sou muito o cara que leva o beat pra casa e escreve em cima dele
Luccas Carlos
E essas músicas já estavam no esquema ou escreveu elas especificamente para o disco?
Então, muita coisa mais antiga foi escrita para o disco mesmo. Aí, tem algumas que entraram no ano retrasado. Fomos mexendo em algumas coisas, mas a maioria dessas músicas já são bem antigas. Quando fiz já pensava em colocar no projeto e nunca saiu dessa ideia. Assim, várias outras músicas já saíram para formar outras paradas, mas se estão aí é porque foram muito pensadas para esse momento.
Você segue por vários caminhos, fazendo uma mistura de R&B com samba, pagode e várias outras vertentes. Existe uma diversidade musical mas todas as faixas se conectam. De que forma foi feita essa construção musical?
Eu falo que esse disco é uma homenagem pra tudo que eu já ouvi, pra tudo que me trouxe até aqui. Eu acho que faz sentido, porque a minha vida inteira eu ouvia essas paradas… em algum momento da minha vida, eu passei por esse tipo de música. Também senti que meu primeiro disco tinha que ser essa parada assim, tinha que passar por vários lugares sem se denominar, e sem perder a minha identidade. Ali tem tudo, vai para vários lugares, mas eu não estou forçando nada. E essa era uma ideia que eu tinha desde o começo. O meu primeiro disco seria onde eu ia mostrar mais versatilidade dentro da música.
Foi difícil chegar a essa estética?
Foi hein, mano! Ficou mais fácil quando a gente entendeu pra onde ia. O Douglas e o Nave deram uma direção muito boa, porque eu já tinha um monte de coisas. O samba (eu não queria falar de amor) na real era música que eu nem gostava tanto. Mas, com o tempo, ela foi crescendo. A “Se Você Deixar” trouxe mais para o final porque sentia falta de algo mais pra gente falar… naquela coisa das pessoas entenderem mais de onde venho mesmo. Acho que essa música fala muito com a base e, ao mesmo tempo, é um som mais pop. Foi difícil, mas a gente chegou onde queria. Fora o tempo que tive com os caras, eu fiz outras coisas antes… fora as músicas que ninguém vai ouvir.
Cortaram várias músicas?
Várias!! Mas a gente está vendo o que vai fazer com elas.
O que chegou primeiro? As letras ou vieram as bases e você foi escrevendo em cima delas?
Eu funciono mais com os caras ali na hora. Tudo a gente fez junto… pelo menos a ideia começou junto. Eu não sou muito o cara que leva o beat pra casa e escreve em cima dele. Eu comprei até um computador e um microfone, porque gosto de me gravar. Assim, se eu estou escrevendo é porque vou gravar logo em seguida. Mas não foi um bicho de sete cabeças fazer isso, porque sou muito amigo de geral que produziu. A música com o Lulu (Santos) veio numa parceria com o pessoal dos Los Brasileiros. A gente foi para o estúdio e fez a música no dia que saiu o resultado das últimas eleições do Brasil (em 2018). Antes de ir para o estúdio eu gosto de desenvolver uma relação, então, como já conhecia geral foi mais fácil desenvolver. Difícil mesmo foi juntar e fazer a seleção das 10, porque tinha muita música boa.
As letras falam muito de romance. Elas são reflexo da sua vida, de experiências próprias ou de observações?
Um pouco de tudo. Geralmente tem um monte de coisas que acontece comigo, mas também pode ser alguma história que ouvi, pode ser só imaginação mas nesse disco, a maioria das coisas, na verdade são 50/50. Tem coisa que aconteceu mesmo. Já em outras eu entro no personagem da história mas o tema principal é sempre o amor. Ou estou falando de mim ou falando de amor.
Tinha que ser as melhores das melhores. Quero que a pessoa dê o play e vá até o final, nem se ligue que já acabou e volte para o começo
Luccas Carlos
Qual o lance por trás do título jovemCARLOS?
Quando o Nave mandou o beat, fiz a música e saiu o jovemCARLOS. E gosto do lance do jovem, porque vem muito do lance do hip hop da gringa, ali dos anos 2000, quando vários caras se chamavam de Young alguma coisa: Young Buck, Young Joker, Young Dolph. E eu sempre achei isso maneiro e quis abrasileirar essa parada. O Carlos, tipo, lá em casa todo mundo usava muito o nosso outro sobrenome, fui um dos primeiros a usar o Carlos. Muito porque meu nome tem dois Cs e o Carlos tem seis letras, então, [visualmente] fica certinho assim. Aí, minha vontade na real era que meu primeiro disco se chamasse Luccas Carlos, sacou!? Eu venho daquela época que vários artistas lançavam discos com o nome deles mesmo, e eu quero fazer isso um dia. E aí, jovemCARLOS foi uma maneira que achei pra deixar diferente e enfatizar o meu sobrenome, por isso o jovem é em letra minúscula e o CARLOS é em caixa alta. Vem muito das referências.
Essa música com o Lulu achei que casou muito bem, tanto na base quanto na letra e essa troca que vocês fazem. É bem instigante e te convida para ouvir novamente…
Eu vejo a minha caminhada assim, muito de dentro. Mas porra, um mano sair da Zona Norte do Rio e fazer essa parceria com o Lulu, pra mim é muito doido. (foi mal te interromper aí)
Tranquilidade… casou muito bem essa junção de vocês dois. O Lulu já tem uma carreira consolidada, vem de uma cena pop e você também está começando a marcar o seu nome no mercado. Me fala dessa conexão e principalmente de fazer uma parceria com um ídolo.
Cara, sempre que penso eu fico meio de cara. Foi um amigo (Arthur Luna) que fez a ponte pra gente se conhecer. Na verdade, a minha ideia era que ele fizesse um solo de guitarra ou falasse alguma coisa ali no começo. Nem tinha pretensão de que ele fosse querer fazer alguma coisa. Aí, ele se amarrou na música e falou: Lucas quero fazer uma parte aqui. E respondi: Pô, você pode fazer o que quiser. Só que isso já fazia uns três anos. Na hora de pensar o disco, fiquei na dúvida se ele ainda queria fazer. E aí, ele mesmo começou a me cobrar. Então, decidimos que tinha que tá no disco. Esse é um marco, e por isso que esse é o primeiro. Como é que eu vou chamar outro trabalho de disco quando eu tenho uma música com o Lulu Santos pra colocar no projeto. Acho que tudo acabou se encaixando. E o Lulu é uma pessoa muito foda. Só de me dar essa oportunidade… Eu sei que faço o meu trabalho, mas só do cara tirar um tempo pra ir no estúdio comigo, é muito maneiro.
Você segue uma linha R&B, mas com muita influência local, do Brasil. Também podemos considerá-lo um dos nomes que tem mantido esse gênero vivo por aqui. Tem acompanhado como essa cena tem se desenvolvido?
Eu sinto que tem muita gente boa fazendo a parada, como o próprio Chris MC que está no disco. Ele é um cara que veio da rima, mas faz essa parada também. No Rio tem uma cena muito grande, tá ligado!? Não só lá, mas no Brasil inteiro tem gente que levanta essa bandeira, que só faz som assim. E acho que o que atrapalha é as pessoas entenderem. O R&B se confunde muito com outras paradas na maioria das vezes. Mas acho que vai se difundir mais ainda. E o mais da hora, como acontece no Rap, é que cada um faz do seu jeito. O cara não precisa fazer um tipo de beat. Ele pode estar cantando um samba, mas ter a essência do R&B ali muito pura. Eu fico felizão de ser visto como um dos caras, mas o caminho é longo ainda. Como eu fico muito na Internet, vejo muita coisa e realmente rola uma movimentação para que o movimento seja grande.
Depois de ouvir o álbum algumas vezes foi interessante porque nenhuma das vezes eu pulei de faixa. É aquele álbum para ouvir do começo ao fim sem passar nenhuma, você coloca e vai…
Cara! É exatamente isso. Longe de mim ser audacioso assim, mas eu sempre quis fazer um Thriller (do Michael Jackson), irmão! Eu só consigo passar uma música dele. Tem uma única música que eu passo. E eu queria fazer um disco que as pessoas passassem no máximo uma música. Eu não consigo passar nenhuma. Essa foi uma das metas. Tinha que ser as melhores das melhores. Quero que a pessoa dê o play e vá até o final, nem se ligue que já acabou e volte para o começo.
Se fosse pra escolher um som desse disco, qual seria?
Um assim pra vida? Tipo, só pode ouvir esse som durante uma semana…
Só esse!
Eu amo a música com o Lulu, eu amo todas, mas acho que fico com a “Marrom”3, que é a última ali. Mas semana que vem pode ser outra, né!?